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fevereiro 11, 2009
Territórios em exploração, por Paula Alzugaray, Revista Isto É
Matéria de Paula Alzugaray, originalmente publicada na Revista Isto É edição 2047, no dia 4 de fevereiro de 2009
Artistas se convertem em expedicionários para detectar e documentar efeitos da globalização na Antártida e na Espanha
Habituados à abordagem científica e etnográfica que grande parte dos documentários televisivos dedica aos territórios distantes, experimentamos uma sensação nova ao visualizar a Antártida sob a ótica de artistas plásticos. A convite do Espaço Cultural Oi Futuro, um grupo de 15 artistas de nove países embarcou em "missão artística" ao continente gelado e agora apresenta as fotografias e videoinstalações resultantes em Intempérie - fenômenos estéticos da mudança climática e da Antártida. Mesmo que o enfoque não seja científico, todos os trabalhos se mostram sensíveis aos efeitos da globalização na ecologia mundial e, nesse sentido, guardam uma relação com a missão original do documentário: testemunhar e informar.
Mas, em vez de ouvir um narrador afirmar que a Antártida é a região mais seca e fria do planeta - com ventos de até 333 km/h -, somos introduzidos às variações climáticas do continente austral em abordagens menos objetivas. Pressentimos seus ventos glaciais na performance de tecidos esvoaçantes realizada por Andrea Juan, observamos sua luminosidade instável através da janela de Simon Faithfull e presenciamos a urgência do degelo no vídeo de Phil Dadson. Se em Intempérie o intuito é, segundo os curadores Alfons Hug e Alberto Saraiva, refletir sobre "o ponto zero da cultura", na exposição Espanhas/Spains, na Caixa Cultural, em São Paulo, o fotógrafo Leonardo Kossoy investe na diversidade cultural.
Sem deixar de perseguir alguns estereótipos hispânicos, como touros, pentes, cartazes de filmes de Almodóvar ou procissões de nazarenos, a série surpreende quando localiza uma Espanha insólita e interiorizada, por exemplo na imagem de uma mulher assistindo a uma tourada na tevê da cozinha. As fotografi as de Kossoy indicam que há culturas de vários povos dentro da cultura espanhola: árabes, africanos, sul-americanos, portugueses. Mas afi rmam também que a Espanha existe fora de seu território geográfi co: em uma saia de babados dentro de uma vitrine de loja em Nova York. Em geral bastante povoadas, as fotos de Kossoy apontam para a densidade cultural.
Já a Antártida, em sua imensidão desértica - com 28 vezes a superfície da Espanha -, é um espaço de investigação científi ca e cooperação internacional, que reúne pesquisadores de 30 países. Essa presença do mundo no Polo Sul é evidente nas fotografi as que o brasileiro Caio Reisewitz fez da estação científi ca da Rússia.
Circuitos no mundo
Passagem para a Índia
Índia moderna/ Instituto Valenciano de arte moderno (Ivam), Espanha/ até 15/2
Todos os olhos voltam-se para a Índia. coqueluche do momento no mercado de arte internacional, o país será homenageado na feira de arte contemporânea arco 09, que acontece entre 11 e 16 de fevereiro, em madri, e é representado em Índia moderna, uma grande exposição no Instituto Valenciano de arte moderno.
A Índia é a bola da vez no mundo da arte por dois motivos. o primeiro é econômico: com o crescimento espetacular dos últimos anos, o país é cotado como potência emergente. o segundo atrativo, definitivo, é seu irresistível apelo exótico, que em outros tempos atraiu desde generais britânicos até músicos psicodélicos. agora, seu poder de atração não está tanto na espiritualidade, mas em sua complexidade e diversidade.
O que torna a Índia sedutora aos olhos do mundo é uma cultura urbana mais que híbrida, caótica, que integra "Bollywood" - plágio assumido e declarado do cinema hollywoodiano - com a ioga, a filosofia oriental, a tecnologia da informática, os conflitos étnicos e a perspectiva nada animadora de, em 2020, ser o pais mais populoso do planeta. todos esses aspectos estão explorados pelo Ivam, que, num percurso de 500 obras realizadas por mais de 100 artistas nos últimos dois séculos, mostra de que forma a Índia deixou de lado o nacionalismo e tornou obsoleta a ideia de cultura como patrimônio.
Mas, enquanto canibaliza o mundo, a Índia também é consumida com voracidade. seja na novela das nove brasileira, seja pelo maior colecionador de arte britânico, charles saatchi, que apresenta até 15/3 na saatchi Gallery, em londres, a mostra the empire strikes back: Indian art today.
Mais uma curadoria midiática do senhor Alfons Hug que usa dineiro público brasileiro para impor suas besteiras por aqui, sem o menor comprometimento com a construção crítica de um sistema artístico local. O Brasil continua sendo a terra preferida dos aventureios do velho continente. Afinal, em terra de cego quem tem olho é rei, né mesmo!
Posted by: Janaina at fevereiro 20, 2009 11:41 AM