|
fevereiro 4, 2009
Espaços reinventados, por Paula Alzugaray, Revista Isto É
Matéria de Paula Alzugaray, originalmente publicada na Revista Isto É edição 2046, no dia 28 de janeiro de 2009
Museus encomendam obras site specific para ocupar átrios, corredores e outros espaços fora dos padrões
Chelpa Ferro/ Espaço Octógono Arte Contemporânea, Pinacoteca do Estado, SP/ de 25/1 a 15/3
TH.2058 by Dominique Gonzales-Foerster/ Turbine Hall, Tate Modern, Londres/ até 13/4
Pipilotti Rist: pour your body out (7354 cubic meters)/ Donald B. and Catherine C. Marron Atrium, Museum of Modern Art, Nova York/ até 9/2
Ano de 2058. Uma coleção de esculturas, livros e filmes são resgatados das chuvas torrenciais que assolam Londres há anos e guardados sob o teto de uma usina elétrica desativada. Os livros são épicos e os filmes, clássicos. Sob o efeito das águas, as esculturas crescem como plantas tropicais. Tudo é grandiloqüente aqui. Fazer com que as coisas atinjam proporções gigantescas e catastróficas é a maneira que a artista francesa Dominique Gonzalez-Foerster encontrou para preencher o espaço monumental da Turbine Hall, na entrada Tate Modern de Londres. Nesta ficção, o público veste o papel de refugiado que lhe foi designado e ocupa os beliches da instalação em seus horários de almoço e descanso. O projeto TH.2058 é um site specific, isto é, uma obra concebida especificamente para o hall das turbinas do museu. Quando for removida, dificilmente encontrará outra área museográfica com 35 m de altura e 152 m de extensão. Mesmo que encontrasse, o projeto perderia o sentido, já que foi pensado para o contexto chuvoso de Londres. Ou seja, quando for removido da Tubine Hall, TH.2058 se auto-destruirá automaticamente.
O site specific, que em geral nasce com tempo de vida contado, é uma prática comum nas artes plásticas desde os anos 60. Existe desde que artistas norte-americanos começaram a trabalhar diretamente sobre a paisagem, esculpindo a natureza. Mais recentemente a prática foi assimilada por museus, que lhe dedicam áreas de circulação, átrios e outros espaços “difíceis”, que fogem aos padrões expositivos.
Quanto mais incomum, mais estimulante para alguns artistas. Esse é o caso do grupo carioca Chelpa Ferro, cujo desafio é, via de regra, preencher grandes espaços com instalações sonoras. Desde Sábado 25, o grupo ocupa o Espaço Octógono da Pinacoteca com uma escultura robótica de caixas de som que movimenta-se acionada por um guindaste.
“Nosso intuito é aproveitar o potencial vertical do espaço”, diz Luiz Zerbini, que integra o grupo com Jorge Barrão e Sérgio Mekler. A Pinacoteca destina sua sala octogonal a trabalhos encomendados desde 2003. O MAM SP tem o Projeto Parede, atualmente ocupado por Mabe Bethonico. A Fundação Iberê Camargo seguiu a tendência e iniciou seu Programa Átrio com uma instalação da artista mineira Iole de Freitas, até 8/2. Esta é também a última semana da intervenção da artista suíça Pipilotti Rist, que foi convidada a transformar o átrio do MoMA-NY em uma videoinstalação imersiva.
Bate papo
Paulo Monteiro A pintura espacial
Um dos ícones da pintura neo-expressionista paulistana dos anos 80, Paulo Monteiro mostra trabalhos recentes na galeria Marilia Razuk, até sexta 30, e faz retrospectiva de 20 anos de carreira na Estação Pinacoteca, até 22/2. A exposição apresenta obras de 1989 a 2008 e mostra como a pintura ainda alimenta suas criações em outros suportes.
Nos anos de formação, a dificuldade financeira foi um incentivo à experimentação?
Não. A dureza é mais um problema que um incentivo. É claro que, ao procurar uma saída numa situação adversa, você encontra coisas interessantes, mas eu perdi mais de 34 esculturas, porque foram feitas de restos de madeiras e, com o passar do tempo, foram quebrando. O fator financeiro agia como um limitador.
A pintura dos anos 80 ainda está refletida na sua produção atual?
A experiência pictórica que tive conta muito na hora de fazer uma escultura. O barro, o chumbo, essas matérias meio moles que eu uso nas esculturas são uma aproximação do óleo, das tintas, das massas de pintura. Mas o que conta na escultura é o material e não a cor. Trabalhar o tri-dimensional não é como o quadro, que já te dá um suporte de antemão. A escultura é mais complexa que a pintura.
Fernanda Assef