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dezembro 18, 2008
Presa há mais de 50 dias - Justiça nega segundo habeas corpus à artesã que pichou Bienal, por Márcia Abos, O Globo
Presa há mais de 50 dias
Justiça nega segundo habeas corpus à artesã que pichou Bienal
Matéria de Márcia Abos publicada originalmente no do jornal O Globo, em 17 de dezembro de 2008, às 16h09.
SÃO PAULO - O desembargador Fernando Matallo, da 14ª Camara Criminal do Tribunal de Justiça, negou pela segunda vez habeas corpus à Caroline Pivetta da Mota, mantendo-a portanto na Penitenciária de Santana enquanto responde a processo por formação de quadrilha e crime ambiental, onde divide cela com uma jovem condenada por assalto à mão armada. A artesã está presa há mais de 50 dias por ter pichado o andar vazio da 28ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo.
Este segundo pedido de habeas corpus em caráter liminar partiu da ex-advogada de Caroline, Cristiane Souza de Carvalho. Justificando a recusa, o desembargador alegou não ver ilegalidade na prisão da jovem. No despacho, Fernando Matallo escreveu:
"A medida liminar só é cabível quando o constrangimento ilegal é manifesto e detectado de imediato através do exame sumário da inicial e dos papéis que a instruem, o que não ocorre no presente caso. O atendimento do alvitrado pela defesa (relaxamento da prisão cautelar) está a exigir exame minudente de circunstâncias objetivas da causa, sem embargo do eventual preenchimento de requisitos subjetivos, procedimento inadequado à esfera de cognição sumária deste Relator. Por conseguinte, indefiro a liminar, reservando-se à Douta Turma Julgadora a solução da questão em toda a sua extensão."
" Não há crime nenhum na pichação feita. Como, por exemplo, não há crime no artista que ficou nu vários dias na Bienal "
O primeiro habeas corpus feito pelo advogado criminalista Alberto Cancissu Trindade foi negado pelo mesmo desembargador na sexta-feira, 12 de dezembro, mesmo dia em que Caroline completou 24 anos. Alberto não é advogado de Caroline. Ele decidiu ajudá-la espontaneamente, pois já defendeu outros pichadores que responderam ao processo em liberdade.
Depois de tentar a ajuda da defensoria pública e destituir sua primeira advogada particular, Caroline tem agora um novo advogado, também particular. Trata-se de Augusto de Arruda Botelho.
A juíza Márcia Tessitore, que se pronunciaria ainda nesta quarta-feira sobre um pedido de liberdade provisória feito pela defensoria pública, encaminhou o caso ao Ministério Público. A decisão pode sair nesta quinta-feira, informou o advogado.
O advogado avalia agora se vai à Brasília na manhã desta quinta-feira para recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ) pela liberdade de Caroline, antes mesmo de sair a decisão do MP sobre o pedido de liberdade provisória. A expectativa do advogado é que Caroline passe o Natal e o Ano Novo com sua família.
A defesa vai pedir absoluta absolvição de Caroline dos dois crimes pelos quais é acusada: formação de quadrilha e crime ambiental, explica Botelho.
- A formação de quadrilha não existe. Tecnicamente é fácil comprovar isto. Em relação ao crime ambiental, Caroline não nega em momento algum que pichou um espaço público. Mas houve um convite da própria curadoria da Bienal para que manifestações artísticas ocupassem o que eles chamaram de "andar vazio" - disse Botelho.
Segundo o advogado, não cabe a ninguém julgar se pichação é feio ou bonito ou se é uma manifestação artística.
- Caroline e outros inúmeros jovens entendem que (pichação) é uma manifestação artística e ocuparam este andar vazio da Bienal atendendo a um pedido tácito da curadoria da Bienal. Não há crime nenhum na pichação feita. Como, por exemplo, não há crime nenhum no artista (Maurício Ianês) que ficou nu vários dias na Bienal. Também é uma expressão artística e não cabe a ninguém julgar a beleza desta manifestação - acrescentou Botelho.
Apesar da inteferência do ministro da Cultura, Juca Ferreira, o Tribunal de Justiça continua contrário à soltura da jovem.
Veja a íntegra da nota divulgada pelo ministro da Cultura
Ao saber que Caroline Pivetta da Mota estava presa por ter pichado o andar vazio da Bienal, Juca Ferreira entrou em contato com o governador de São Paulo, José Serra, e com o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa. O ministro pediu a ambos que interviessem para obter a liberdade da artesã.
Artistas organizam manifestação pela liberade de Caroline
Artistas vão se reunir nesta sexta-feira, dia 19 de dezembro, às 17h, no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) em São Paulo para pedir a liberdade de Caroline. Eles também organizaram um abaixo assinado em apoio há jovem.
Confira abaixo o texto de convocação que circula na internet:
Manifestação - Libertem a pichadora Caroline Pivetta da Mota - Vamos nos reunir e nos manifestar pela Liberdade de Caroline e pela Liberdade de Criação e Expressão. Convocação a todos: artistas, criadores, autores, dramaturgos, diretores, atores, curadores, críticos, historiadores, professores, estudantes, jornalistas, advogados, juizes, políticos, ministros, secretários, senadores, deputados, vereadores e cidadãos.
19 de dezembro, sexta-feira, 17h - Museu Brasileiro da Escultura - MuBE - Avenida Europa 218, Jardim Europa, São Paulo - SP - 11-2594-2601 ou mube@mube.art.br - www.mube.art.br
Para assinar o abaixo-assinado - www.abaixoassinado.org/
Karin Schneider em repasse de Artur Barrio
Eu proponho que um grupo de artistas
e intelectuais brasileiros se organizem para abrir uma conta em um banco,
contratar e pagar um excelente advogado para defender
Caroline Piveta da Mota. Ela precisa de ajuda jurídica.
Eu acabo de ler as declaraçoes do presidente da Bienal e de Ivo Mesquita e eles
nao estao dispostos a fazer nenhuma intervençao no caso. Nós
precisamos nos organizar e lutar na justiça contra esse tipo de repressao.
Isso é muito sério.
Karin Schneider
Posted by: Artur Barrio at dezembro 18, 2008 9:20 AM