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dezembro 11, 2008
Exposição evidencia influência de Weissmann, por Mario Gioia, Folha de São Paulo
Exposição evidencia influência de Weissmann
Matéria de Mario Gioia, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 11 de dezembro de 2008
Mostra no Tomie Ohtake destaca esculturas realizadas na década de 50
Nome decisivo da escultura brasileira, artista morreu em 2005; individual tem 14 peças, incluindo três trabalhos mais recentes
Ele foi professor de Amilcar de Castro, assinou o "Manifesto Neoconcreto", fez parte do grupo Frente e sua escultura é uma grande influência para artistas como Waltercio Caldas e José Resende. Mesmo assim, suas exposições não são tão freqüentes e, só agora, três anos depois de sua morte, é que ele ganha uma mostra representativa de sua obra.
Franz Weissmann (1911-2005), um dos nomes decisivos da escultura brasileira, tem 14 peças em exibição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, na mostra "Franz Weissmann - Experimentação e Lirismo", que é aberta hoje a convidados, às 20h.
Com curadoria do crítico carioca Marcus Lontra, ex-diretor do MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), a seleção não é uma retrospectiva, mas um recorte de trabalhos importantes do artista, em especial os da década de 50, quando Weissmann estava na linha de frente da arte construtiva no Brasil.
"Foi naquele período que Weissmann efetivamente começou a elaborar alguns conceitos centrais de sua obra, como o uso do vazio. Escolhi três outras esculturas, de 2003, para mostrar o quanto aqueles trabalhos dos anos 50 dialogam com força com peças que foram feitas mais de 50 anos depois", afirma o curador.
Essas três esculturas selecionadas por Lontra estão no centro de uma das salas expositivas do instituto, são de aço inox e estão lado a lado de trabalhos famosos de Weissmann, como as Colunas Neoconcretas, os Cubos e os Fios.
"É engraçado ver como algumas de suas esculturas mais recentes parecem pedir um tamanho maior.
Weissmann quer mais é que o público passe debaixo delas, participe espacialmente da escultura. Por isso, gostava tanto de sua obra pública em seus últimos anos", conta o curador.
Alguns dos trabalhos mais célebres de Weissmann podem ser vistos em espaços públicos, como na praça da Sé, no Memorial da América Latina e no jardim do Museu de Arte Brasileira, na Faap, em São Paulo, e também no Parque da Catacumba, no Rio de Janeiro.
Com um recorte significativo da produção do artista nos anos 50, Lontra desenhou uma exposição menos colorida e mais geométrica. "Mas isso não quer dizer que ele era partidário de um racionalismo estanque. Vejo sua obra como filiada a um modernismo contaminado, ele usa a precisão das formas e trabalha o vazio com planejamento, mas se deixa influenciar por outros elementos não-previstos", avalia o curador.
Assim, uma das Torres feitas pelo artista em 1957 e presente em "Experimentação e Lirismo" parece derivar de uma Coluna, de 1952, e perder um pouco da sua rigidez. "Um construtivista não deixaria essa Torre tão aberta, com esse ar livre. Suas obras anteriores se fechavam nelas mesmas, mas a Torre aponta que Weissmann era sensível a algo menos planejado e controlado", diz Lontra.
Professor
Austríaco radicado desde 1921 no Brasil, Weissmann morou no norte do Paraná, em São Paulo, em Belo Horizonte e no Rio, cidade onde passou a maior parte da sua vida. Em 1948, começa a dar aulas de desenho e escultura na Escola do Parque, em BH, para alunos que se tornariam grandes nomes da arte brasileira, como Amilcar de Castro (1920-2002), Mary Vieira (1927-2001) e Farnese de Andrade (1926-1996). Na escola, onde fica até 1956, convive com Guignard (1896-1962), que o chamara para o cargo.
Nos anos 50, começa a ter ligações com a arte construtiva, influenciado pela "Unidade Tripartida", escultura do suíço Max Bill exibida na primeira edição da Bienal de São Paulo, em 1951. Na segunda edição do evento, em 1953, já apresenta "Cubo Vazado" -presente na exposição do Tomie- e, dois anos depois, faz parte do grupo Frente, ao lado de nomes como Ivan Serpa (1923-1973) e Lygia Clark (1920-1988), que organizará importantes mostras de arte concreta no Brasil, como as ocorridas no MAM paulistano e no do Rio em 1956 e 1957.
"O interessante é que ele vai buscar novos caminhos.
Faz estruturas "amassadas" nos anos 60, vai testando mais cores nos anos 70. E nunca deixa de experimentar", afirma o curador.