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dezembro 8, 2008
MAM revê 60 anos com mostra grandiosa, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
MAM revê 60 anos com mostra grandiosa
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 8 de dezembro de 2008
"MAM 60", que comemora os 60 anos do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), na Oca, é uma exposição imperdível. Com curadoria de Annateresa Fabris e Luiz Camillo Osório, membros do conselho consultivo do museu, está longe de ser uma comemoração burocrática da efeméride da instituição.
Organizada em três pisos, "MAM 60" tem início com um relato sobre a constituição do museu, em uma mescla de documentos e obras. Nesse segmento, algo que poderia ser enfadonho revela-se precioso documento histórico: um retrato da Guerra Fria, quando o Museu de Arte Moderna de Nova York esforçava-se em criar vínculos com o Brasil.
Nesse primeiro andar, são destaques as obras de alguns artistas relevantes para a constituição da arte moderna, como George Grosz, Kurt Schwitters e Alexander Calder. Tais trabalhos, hoje pertencentes ao MAC da USP, são representativos da primeira crise do museu, em 1963, quando seu criador, Ciccillo Matarazzo, transferiu a coleção do MAM para a USP, além de sua coleção pessoal e a de Yolanda Guedes Penteado.
Essa crise representou o fim da coleção moderna do museu, reorganizado por vários intelectuais, entre eles o crítico Mario Pedrosa. A mostra acerta ao não valorizar esses poucos e fracos trabalhos modernos do acervo, mas justamente a fase que começa a partir de então.
De forma delicada, o acervo contemporâneo é apresentado a partir de eixos nominados por artistas com forte presença na coleção, nos outros dois andares. A exceção é o primeiro núcleo, Nova Figuração, destacando produção nacional que torna o pop uma tendência de contestação ao regime militar, ao contrário do pop americano.
A partir daí, a mostra desenvolve-se em núcleos como Lívio Abramo, que apresenta uma rica constituição de gravadores como Antonio Henrique Amaral, Roberto Magalhães e Oswaldo Goeldi. Outro grupo traz fotógrafos experimentais, como Thomaz Farkas e Geraldo de Barros. Mais do que núcleos temáticos, os agrupamentos criam diálogos instigantes como, por exemplo, apresentando, lado a lado, fotografias conceituais de Carla Zacagnini e outras mais voltadas à performance, de Lenora de Barros.
No último andar, dois percursos são criados, um tendo por princípio o multimídia Flávio de Carvalho, e outro pelo pintor Alfredo Volpi. Em cada um, novos diálogos são sugeridos, e um dos mais significativos é a "Série Trágica. Minha Mãe Morrendo" (1947), de Carvalho, próxima aos vidros estilhaçados de Iran do Espírito Santo. O acervo do MAM tem lacunas, mas a mostra revela que é possível apresentá-lo de forma grandiosa, ao propor novas formas de observá-lo.