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dezembro 5, 2008
Brasil atrasa escolhas da 53ª Bienal de Veneza, por Silas Martí, Folha de São Paulo
Brasil atrasa escolhas da 53ª Bienal de Veneza
Matéria de Silas Martí, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 5 de dezembro de 2008
Faltando meses para a mostra, país ainda não definiu sua representação nacional
Escolha do curador e artistas deveria ocorrer com um ano de antecedência; outros países com o próprio pavilhão já anunciaram curadorias
O Brasil está atrasado na escolha de um curador e dos artistas que devem ocupar o pavilhão do país na próxima Bienal de Veneza, que começa em junho do ano que vem.
Enquanto boa parte dos países que têm um pavilhão próprio no evento já anunciaram suas curadorias, nada se sabe até agora sobre a representação brasileira, o que leva a um receio do mundo das artes de que se repita a Bienal do Vazio do outro lado do Atlântico.
"A gente sempre tem um atraso fisiológico", lembra Jacopo Crivelli Visconti, curador da Fundação Bienal de São Paulo, instituição responsável pela representação nacional em Veneza desde 1994.
Representações nacionais importantes já anunciaram seus artistas: Shaun Gladwell representa a Austrália; Mark Lewis, o Canadá; Claude Lévêque, a França; Miquel Barceló, a Espanha; Liam Gillick, a Alemanha; Bruce Nauman, os Estados Unidos; Steve McQueen, a Inglaterra -todos têm o próprio pavilhão nos Giardini ao lado do espaço brasileiro, que, aliás, está pedindo reformas urgentes para conter uma infiltração na laje e readequar a rede elétrica insuficiente.
Última hora
"O correto é definir tudo um ano antes, mas eles avisam a gente com três meses de antecedência", revela uma pessoa ligada à produção do pavilhão brasileiro em Veneza. E não foi diferente nas quatro últimas edições da mostra na Itália: artistas foram convidados em cima da hora, tendo pouco tempo para elaborar seus projetos.
Segundo galeristas dos artistas representados em outras edições, não há verbas para o transporte aéreo e sempre houve o risco de que as obras, que viajam de navio, não chegassem a tempo a Veneza.
"Eles estão atrasados", diz o curador da atual Bienal de São Paulo, Ivo Mesquita. "É de novo aquela coisa de, na última hora, sair correndo."
A situação se arrasta desde 2004, quando foi quebrada a tradição de que o curador da Bienal de São Paulo, quando escolhido, faça primeiro o pavilhão nacional em Veneza antes de assumir a curadoria da mostra no Brasil. No caso, Alfons Hug havia concluído a 26ª Bienal de São Paulo, mas, como não havia sido escolhido o próximo curador, acabou tocando mais uma representação brasileira em Veneza, a de 2005.
O mesmo se repetiu em 2006, quando Lisette Lagnado concluiu a 27ª Bienal e Ivo Mesquita ainda não havia sido eleito curador da Bienal atual. Numa medida que evitou que Lagnado fosse a curadora do pavilhão brasileiro em Veneza, a Bienal de São Paulo criou o cargo de curador da fundação, hoje ocupado por Jacopo Crivelli Visconti, que se encarregou da última representação nacional em Veneza.
Visconti garante, no entanto, que não será ele o próximo curador, apesar de não saber quem fará o trabalho. Ele descarta também a possibilidade de Ivo Mesquita assumir a representação nacional, embora ele já tenha feito uma delas.
"O ideal é que o próximo curador da Bienal daqui seja o curador de Veneza, é como a gente gostaria que fosse", diz Visconti. "Estamos atrasados em relação a alguns países e adiantados em relação a outros", lembra ele. Nos bastidores, há pressão do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Cultura para que seja indicado logo o curador do pavilhão.
Até agora, no entanto, a expectativa da fundação é que a definição só venha em fevereiro de 2009, quando faltarão quatro meses para a mostra.