|
outubro 24, 2008
'Bienal do vazio' começa neste sábado e pode ser alvo de pichadores, por Márcia Abos, Globo Online
'Bienal do vazio' começa neste sábado e pode ser alvo de pichadores
Matéria de Márcia Abos, originalmente publicada no Globo Online no dia 23 de outubro de 2008
"Carinhosamente" apelidada pelos paulistanos de "Bienal do vazio", a 28ª Bienal de São Paulo, cujo tema é "em vivo contato", foi apresentada nesta quinta-feira para a imprensa. A surpresa é que, antes mesmo de ser aberta ao público, a mostra já é alvo de ameaça de pichadores liderados pelo mesmo suspeito que invadiu a galeria Choque Cultural em setembro deste ano.
Ivo Mesquita, o curador da mostra que será aberta neste sábado para convidados e no domingo para o público, parecia constrangido na hora de defender seu corajoso projeto. Falava baixo e foi difícil entendê-lo a princípio. Diferente do que fez em dezembro, quando apresentou pela primeira vez suas idéias, a palavra vazio desapareceu de seu vocabulário. Em substituição, surgiu "planta livre", para denominar o segundo pavilhão do prédio, onde nenhuma obra de arte será exposta.
"Quis propor uma reflexão sobre o sistema das bienais, a Bienal de São Paulo como um estudo de caso"
- Quis propor uma reflexão sobre o sistema das bienais, a Bienal de São Paulo como um estudo de caso. O térreo é uma espécie de praça, um ponto de encontro, com atividades desenvolvidas pelos artistas. No primeiro andar, um espaço de serviços e o vídeo lounge. O segundo andar, a planta livre, que enfatiza a arquitetura do edifício, rompendo com o formato tradicional. O terceiro andar é o plano de leituras - explicou o curador.
Os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen explicaram que seu projeto questiona o modelo de grandes exposições, mas nunca se colocou como uma negação da Bienal, que perdeu sua vocação ao longo da história.
- Antes era parte de um museu e gerava acervo para ele, agora ficou dona de um edifício enorme - disse Ivo Mesquita. - Não aceitamos fazer o projeto porque havia uma crise pontual. Aceitamos por acreditar que a Fundação Bienal tem ainda uma função de formar profissionais como eu e Ivo Mesquita - completou Ana Paula Cohen, que divide a curadoria com Mesquita.
Os curadores esperam, ao final da mostra, em 6 de dezembro, apresentar ao conselho da Fundação Bienal um relatório, apontando os "sintomas" causadores da doença da Bienal.
"Se há um desinteresse, é porque nós merecemos a instituição que temos. Nós não estamos preocupados com o número de público"
Ao ser questionado sobre a reação negativa do público à "Bienal do vazio", Mesquita respondeu:
- Não sinto desinteresse sobre a atual Bienal. Vejo, na verdade, interesse por parte de especialistas. As pessoas virão. Programamos coisas para as seis semanas. Este é um projeto de amadurecimento. Se há um desinteresse, é porque nós merecemos a instituição que temos. Nós não estamos preocupados com o número de público.
Enquanto muitos jornalistas se levantavam no meio da entrevista, Ana Paula Cohen fez uma revelação surpreendente: ela foi avisada que o mesmo pichador que vandalizou a galeria Choque Cultural e a faculdade de Belas Artes reúne um grupo para atacar a Bienal após a abertura.
- Estamos sabendo, tomamos providências e estamos aguardando - avisou Ivo Mesquita.