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outubro 24, 2008
Bienal é aberta amanhã com ameaça de pichação, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Bienal é aberta amanhã com ameaça de pichação
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo no dia 24 de outubro de 2008
Bienal é aberta amanhã com ameaça de pichação; Grupo que fez ações em galeria e em universidade pretende atacar andar vazio; "É um absurdo", afirma curador de evento; em entrevista, presidente da Fundação Bienal diz que instituição não vive crise
A Fundação Bienal de São Paulo preparou um esquema de segurança especial para os primeiros dias da exposição, que será inaugurada amanhã para convidados e no domingo para o público, por conta de uma ameaça de pichação.
A ação seria promovida pelas mesmas pessoas que picharam a galeria Choque Cultural, no mês passado. A ação dos pichadores está sendo convocada pela internet para ser feita no segundo andar da mostra, que permanecerá vazio durante o evento, e até mesmo em obras.
"Estamos esperando esse tipo de ação e tomamos providências para evitá-la. Isso é um absurdo", disse ontem o curador da 28ª Bienal, Ivo Mesquita, na entrevista coletiva de apresentação do evento.
"Nós sabemos que eles estão convocando gente da periferia da cidade para fazer isso, e essas pessoas não sabem o que elas vão encontrar. Em geral, quem faz esse tipo de ação o realiza à noite, mas aqui eles não sabem no que vão estar se metendo. É um lugar público e que terá muita segurança", afirmou a outra curadora da Bienal, Ana Paula Cohen.
Para ela, "o que quem lidera isso quer fazer é aparecer na imprensa. E ele está até mesmo violando um código de ética dos pichadores que é não pichar em cima do trabalho de outros, caso eles venham pichar obras aqui".
Em junho passado, um grupo de 40 pichadores fez no Centro Universitário Belas Artes ação semelhante à pretendida na Bienal e à ocorrida na galeria Choque Cultural.
Planta livre
De resto, de acordo com o clima da coletiva de ontem, ao menos entre os curadores e o presidente da Fundação Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, não há o menor sinal de crise econômica ou moral na instituição.
"Esta Bienal me satisfaz profundamente", disse Pires da Costa. "Quando digo que há um problema de gestão na Bienal, eu não me refiro ao presidente mas à macrogestão, de como está estruturada a instituição."
"Nós aceitamos realizar essa Bienal não por conta de uma crise localizada, mas porque acreditamos que ela tem tido a capacidade de formar profissionais da área, como o Ivo e eu mesma, e pensamos então que o projeto seja em relação às grandes mostras e sua inserção na indústria cultural e no consumo", afirmou Cohen. Já o segundo andar vazio, que marcou todo o debate inicial sobre a mostra, fazendo com que o título Bienal do Vazio se sobrepusesse a "Em Vivo Contato", nome original da mostra, ganhou novo título: agora se chama "Planta Livre".
"O vazio foi mal-entendido desde o início. Com ele, queremos discutir o princípio da arquitetura moderna no pavilhão e, como ele está aberto, propostas podem surgir", disse também a curadora.
De 41 artistas que tomam parte da mostra -a lista oficial apresenta 42, mas anteontem o brasileiro Rodrigo Bueno retirou-se do evento por discordar da curadoria-, apenas 23 apresentam obras no edifício. Os demais estarão presentes em performances e ações que ocorrerão na praça, localizada no térreo. Ontem, no percurso para a imprensa, não havia ainda nenhuma obra totalmente acabada, o que, contudo, não é incomum nas vésperas de exposições de grande porte. A diferença, entretanto, é que essa não é uma mostra de grande porte.