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maio 12, 2008
Anatomia da Polêmica, por Clara Passi, Jornal do Brasil
Anatomia da Polêmica
Matéria de Clara Passi, originalmente publicada no Jornal do Brasil em 9 de maio de 2008
Artista e dono da galeria A Gentil Carioca são intimados por delegacia em virtude de um painel de azulejos colocado na fachada, considerado ultrajante
A censura ameaça mostrar seus dentes de chumbo às artes plásticas: Márcio Botner, um dos donos da galeria A Gentil Carioca, ocupante há cinco anos do sobrado de número 17 na Rua Gonçalves Lêdo, no Centro, foi intimado a depor às 10h de ontem na 1ª DP (Praça Mauá) em decorrência de uma denúncia anônima de ultraje público ao pudor. Explica-se. De quatro em quatro meses, a galeria que Botner – também artista plástico – fundou com os colegas de pincel Ernesto Neto e Laura Lima convida artistas para decorar a fachada de 10m voltada para a Rua Luiz de Camões. O projeto Fachada Gentil convidou Fernando De La Rocque, 28 anos, egresso da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ, para vestir a parede de azulejos com o traço fino dos desenhos da série Colônias, em que homens e mulheres se entrelaçam em movimentos caleidoscópicos.
De acordo com Walter Heil, comissário de polícia encarregado do caso na 1ª DP (instalada, ironicamente, no prédio onde funcionou o Departamento de Ordem Política e Social [Dops] do regime militar), a queixa partiu de um homem que passava pela rua com a filha menor de idade a tiracolo e chocou-se com o erotismo escondido no emaranhado azul que emula os ladrilhos portugueses do Rio colonial.
No texto da queixa, relata o comissário Heil, o denunciante diz ter passado "grande constrangimento ao deparar-se com o painel que parecia de azulejos portugueses, mas tinha desenhos que se tratavam de obscenidade e orgia".
– Enviarei o caso ao Juizado Especial Criminal em 15 dias para que um juiz decrete que destino terá o painel – informou.
"A censura à arte acabou"
Nesse ínterim, Heil convidará De La Roque e o apoiador do Parede Gentil, Guilherme Magalhães Pinto, cujos nomes estão inscritos sob a obra, para um passeio incômodo na zona portuária.
– A arte tem potência para suscitar dúvidas e inquietações. Mas não admito que uma pessoa que receba esse tipo de inquietação não escolha discutir abertamente na sociedade e a desloque para dentro de uma delegacia, ainda mais à que era o Dops, lugar que remete à morte e à tortura – indignou-se Botner, à saída da DP da Praça Mauá. – O trabalho de De La Roque versa sobre o prazer de viver, do amor, do sexo. Quando alguém se choca contra isso está indo a favor da morte. Não me importo com a identidade do denunciante. Compreeendo-o, mas não aceito a denúncia.
Ao saber que suas serigrafias sobre calor humano e troca de amor viraram caso de polícia, De La Rocque pôs-se a se perguntar por que alguém que transitava pela área infestada de prostituição e tráfico de drogas se queixaria à polícia contra uma obra de arte.
– Tempos estranhos estes: enquanto pessoas jogam crianças pela janela e a novela Duas caras faz apologia da violência de uma madrasta contra o enteado, sou perseguido por falar de amor e de contato físico entre pessoas que sorriem – provoca o carioca do Humaitá, que começou a tracejar Colônias, composta de 60 desenhos, aos 17 anos.
O artista plástico Enesto Neto, um dos sócios da galeria, pondera:
– Vivemos numa democracia. As pessoas, mesmo que anonimamente, podem expressar sua opinião. O devaneio e a visão onírica do trabalho de De La Roque são algo que está no inconsciente coletivo de nossa sociedade, está na banca de jornal – justifica ele, que pedirá uma avaliação do Juizado de Menores sobre o painel. – Colocamos numa altura a que uma criança de 10 anos não teria acesso. Não imaginávamos que pudesse ser agressivo.
O próprio comissário Heil reconhece que é preciso chegar bem perto para enxergar a anatomia da polêmica.
– O artista não pode ser cerceado. A censura à arte acabou em 1988, com a Constituição. Se a questão é a obscenidade em local público, as revistas de mulher pelada estão aí, livres nas bancas – diz.
Impresionante esa materia sobre censura,moro na bahia e sou obrigado a conviver dia e noite com a ''genialidade''da musica bahiana do tipo ''chupa-chupa que é de uva'' o coisa do tipo;
se pinto uma criança vou preso por pedofilía, se aparece alguma cena de nudismo na minha obra os crentes vem me encher o saco com o demonio...caracas cara, no século dezenove os pintores tinham muito mais liberdade.
Não vejo nada demais no fato, coisa corriqueira, assunto de bairro que não interessa ao grande público e sim aos sócios da galeria como também aos artistas o foco da imprensa.São atitudes premeditadas, pensadas nos bastidores de como chocar, despertar o interesse da mídia, com um único objetivo, notoriedade e marketing sem gastar. Isso não acontece só aqui, lá fora também como exemplo a instalação do Guilhermo Habacuc Vargas, que pegou um cão vira-lata da rua e amarrou-o numa corda, prendendo o indefeso cão na parede de uma galeria de arte, ali o animal foi definhando, passando fome até a morte. Esse cara se diz artista, pois é, dessa maneira ele conseguiu se graduar, graças a atenção da grande imprensa, ganhou o titulo de artista...e por ai vão alguns mais...A matéria de Clara Passi é no mínimo para encher folha de jornal, coisa anacrônica e repetitiva, fora de contexto...no sentido popular "para encher galinha" novidades jornalísticas estão cada vez mais haras em nossos periódicos.Onde estão os críticos desse país???!!! Será que morreram por conta da ditadura ou por conta do marketing cultural?
Posted by: Roberto Silva at maio 16, 2008 9:51 PM