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Como atiçar a brasa

 


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maio 9, 2008

A Dança Contemporânea, por Artur Xexéo

A Dança Contemporânea

Texto de Artur Xexéo, originalmente publicada na Revista O Globo, no dia 4 de maio de 2008

Não tive boas experiências com dança contemporânea. Sei que essa frase pode dar a impressão de que fui um fracasso nas minhas tentativas de ser bailarino. Não é verdade. Nunca tentei. Estou me referindo às minhas experiências como espectador. Sou daqueles que são capazes de dar um grand-jeté se, em troca, for desconvidado para assistir a mais uma experiência coreográfica no Espaço Sesc. Desisti de tentar entender qual é a graça de entrar numa sala apertada, com mais 20 pessoas, sentar numa cadeira desconfortável para ver um grupo — bem, grupo é modo de dizer; geralmente, são três ou quatro bailarinos... bem, bailarino é modo de dizer... enfim, recapitulando: três ou quatro dançarinos pelados (se é dança contemporânea, para que gastar com figurino?, devem se perguntar os coreógrafos modernos), estáticos, sentados no chão e que, a cada 15 minutos, fazem, bem lentamente, um movimento circular com o dedão do pé direito. Tudo isso sem música. Afinal, é uma experiência coreográfica. E com muito gritos. Como se grita na dança contemporânea!

Tô fora. Abro uma exceção, a cada dois anos, para a companhia de Deborah Colker. É outra história. Ali, um grupo de 15 bailarinos enche o palco. Deborah faz um espetáculo. Sua trupe escala paredes, gira em rodas-gigantes, atravessa espelhos. Sua música — sim, existe música nos espetáculos de dança de Deborah Colker! — é marcante. Seus figurinos são surpreendentes. Os elementos coreográficos que dividem o palco com ela são impactantes. E o grupo... dança!!!

Digo isso porque senti uma certa implicância por parte dos amantes da dança moderna carioca com “Cruel”, a coreografia com que Deborah ocupou na semana passada o Teatro Municipal. “Cruel” não é mesmo o melhor espetáculo de Deborah — o que é muito natural numa companhia que já possui um repertório com dez espetáculos diferentes —, mas está muitos anos-luz à frente de qualquer outro apresentado recentemente pelas companhias modernas cariocas. Companhia é modo de dizer — a maioria das companhias cariocas só se forma quando tem algo para estrear.

Deborah Colker esteve em cartaz na semana passada e, mais uma vez, leu os comentários-clichê. Criticou-se a música — aí até entendo: quem elogia espetáculos sem música não pode gostar mesmo —; a frontalidade da coreografia — meu Deus, qual é o problema de bailarinos dançarem de frente para o público? —; a repetição dos movimentos... sou muito mais movimentos repetidos do que ausência de movimentos.

O verdadeiro problema de Deborah Colker é que seus espetáculos não cabem no mezanino do Espaço Sesc. Ela lota o Municipal, faz temporada de dois meses no João Caetano, dá a volta ao mundo deslumbrando platéias e demonstra, a cada apresentação, como é supérfluo o que a gente escreve sobre ela. Comentários negativos não lhe tiram um só espectador; os positivos não lhe dariam um espectador a mais. O público descobriu Deborah Colker sozinho. E não quer abandoná-la.

Posted by João Domingues at 11:06 AM | Comentários(15)
Comments

Concordo com o nosso brilhante 'crítico' quando ele diz que o espetáculo da Colker não cabe no mezanino do SESC. Aliás, nem os do Grupo Corpo, Intrépida Trupe e outros tantos tão prestigiados quanto os da Sra. Colker. Porque só falar dela, os outros não existem mesmo?

A Debora Colker escolhe bailarinos que criam e desenvolvem o conteúdo das coreografias, onde somente ela se beneficia como criadora do espetáculo. Percepção que fica bastante clara nas entrevistas cedidas pela escolhida do Xexéo.

Ao falar somente na companhia da Sra. Colker, o 'crítico' realmente confirma o quanto ele é incrivelmente ignorante no que diz respeito à dança contemporânea. O desprezo pelo trabalho realizado pelas novas gerações é tamanho, que talvez, em sua arrogância, não deva perceber o quanto é deficiente sua pesquisa sobre dança atual.

Tal subjetividade só merece um comentário...

Não era mais inteligente ajoelhar e declarar amor eterno a Sra. Colker?

Posted by: Roberto Agnes at maio 10, 2008 4:08 AM

Xexéo nunca foi brilhante. Ou não imprimiria uma linha ridícula, do tipo "mico do ano", "nota 10, nota 0" ao caderno B, que, sejamos francos, sempre foi cortejada pelo pessoal que hoje se sente atingido.
Muito menos toleraria a falta de ética de colocar uma pessoa das organizações Globo, Patrícia Kogut, para criticar a tevê Globo e pior, falar das outras emissoras, como se ela pudesse ter isenção para tanto.
Dito isto, lamento informar que eu e a torcida do Flamengo concordamos com o Xexéo. Simplesmente não dá mais para tentar ver o que chamam de dança contemporânea. Pode ser até contemporâneo, mas de dança não tem mais nada, um horror, lamentável, um achincalhe.

Posted by: Marília at maio 10, 2008 11:38 PM

Xexéo nunca foi brilhante. Ou não imprimiria uma linha ridícula, do tipo "mico do ano", "nota 10, nota 0" ao caderno B, que, sejamos francos, sempre foi cortejada pelo pessoal que hoje se sente atingido.
Muito menos toleraria a falta de ética de colocar uma pessoa das organizações Globo, Patrícia Kogut, para criticar a tevê Globo e pior, falar das outras emissoras, como se ela pudesse ter isenção para tanto.
Dito isto, lamento informar que eu e a torcida do Flamengo concordamos com o Xexéo. Simplesmente não dá mais para tentar ver o que chamam de dança contemporânea. Pode ser até contemporâneo, mas de dança não tem mais nada, um horror, lamentável, um achincalhe.

Posted by: Marília at maio 10, 2008 11:40 PM

Bem, o que dizer de um comentário feito em um dos maiores jornais do país. Vamos lá!
Sobre dança contemporânea, o debate que se tem visto nos últimos anos compõe um imenso arquivo de percepções e interpretações de tal pensamento em dança. Isso nos leva a busca por novos caminhos que fortalecem este nosso pensamento. Ficamos assim confortados para a pesquisa de como estruturar esta caminho.
Realmente percebo o excesso de propostas de dança contemporânea no país e em especial no Rio de Janeiro, mas penso também que este excesso é saudável para a dança carioca e brasileira uma vez que não ficamos reféns de um grupo de propostas. Disso, surgem inúmeros artistas e quiçá propostas coreográficas maravilhosas ou não. Mas qual o problema?
Sobre o comentário de Artur Xexéo, percebo sim certa parcialidade, mas não há problema algum. O que me choca é perceber que ainda falta certo cuidado ao falar desta dança que aparentemente está estruturada em formas e receitas, mas que permanece ativa com pesquisas tanto textuais quanto físicas. Para mim o maravilhoso está aí, poder propor questionamentos que poderão ajudar não somente o artista, mas a própria dança contemporânea nas suas respostas.
Sobre estas pesquisas gostaria de destacar o não movimento mencionado no texto de Artur Xexéo. O que seria o não movimento? E por que ele não é configurado como elemento de dança? Eu também não sei, estou pesquisando este fator que me interessa muito. O que dizer de Tom Pliske pulando em um mesmo local por vários minutos – instigante/fatigante – a própria Lia Rodrigues que com suas idéias ultrapassam nossos pensamentos nos levando a momentos em que não estamos acostumados a estar.
Fiz um breve passeio por propostas que precisam ser apreciadas e conhecidas - bem conhecidas - para se começar a discutir dança contemporânea, não que elas sejam o essencial desta dança, de forma alguma. A dança contemporânea poderá ser constituída de variados formatos, mas precisa de pesquisa, claro. Daí, concordo na afirmação de que existem sim trabalhos que não nos agradam aos olhos, que não mostram nenhuma proposta aparentemente. Certo, mas não posso dizer que ali não há uma idéia de pesquisa e/ou que faltou um tempo de trabalho.
Para terminar, a Cia Deborah Colker possui um trabalho próprio como outros artistas que pelo Espaço SESC passaram. Existem artistas se descobrindo e buscando uma trilha, eles devem mostrar seu trabalho em vários espaços também!
A configuração da dança contemporânea carioca se modificou muito com estes artistas, com estas propostas "absurdas" que colocaram a cidade no hall da contemporaneidade. Que bom que este problema existe, e tomara que exista em outras cidades do país (Goiânia, Brasília, Florianópolis, Curitiba dentre outras), e a dança no Brasil nos mostre que o movimento não acontece somente quando um corpo se desloca em um espaço e sim nas mentes emaranhadas e criativas de artistas que não possuem o receio de se mostrar.

Me chamo Sacha Witkowski, residente em Goiânia. Sou bailarino e diretor de um Festival chamado Diagnóstico da Dança, que busca este tipo de discussão também.

Posted by: Sacha Witkowski at maio 10, 2008 11:57 PM

Este estranho site só publica um comentário: o que discorda do jornalista Artur Xexéo?

Posted by: Marília at maio 11, 2008 12:07 AM

Eu particularmente concordo com Artur Xexéo. Aproveito e digo a Roberto Agnes, que postou primeiro uma resposta ao Xexéo, que o motivo de o jornalista não mencionar outras companhias foi o fato de ele sentir uma certa implicância com Debora Colker, por isso ele falou só dela, mas se prestar bem atenção ele quer falar da chatisse que se tornou a Dança Contemporânea.
Gente, nós que somos bailarinos, temos que re ver a situação da platéia, que paga pra ver os espetáculos. Tem muita gente que não entende e não gosta dos "experimentos" e ficam calados por medo de serem taxados de ignorantes.Na maioria das vezes isso ocorre por que o dito criador não tem talento para desenvolver um espetáculo que agrade, e diz que esses espetáculos são fáceis e não são contemporãneos, mas eles não conseguem fazer nem a metade. Temos que concordar que muitos ditos "criadores" são pessoas sem talento algum, que conseguem patrocínios e espaços em teatros por influência somente, e que na verdade são uns chatos. Outra coisa, não aguento mais os clichês da Dança Contemporânea: iniciar o espetáculo sem música, falar textos em cena, usar roupas do dia a dia,os mesmos movimentos sempre. Pelo amor de Deus, abram seus olhos. Claro que sempre pucharemos a brasa pra nossa sardinha, por isso muita gente ficou horrorizada com a matéria do Xexéo, pois trabalha com D. Contemporãnea e quer que as coisas continuem do jeito que estão. Geralmente são pessoas que não deram certo com o ballet, ou não encontraram no ballet algo que preenchesse os anceios. O que temos hoje são panelinhas de pessoas que fazem dança contemporãnea,que ficam dando voltas no mesmo lugar, achando que estão descobrindo o Brasil, e ai de quem aparecer com uma dança tipo"neo-clássica". Será uma agressão, ou seja, a turminha de contemporãneos são preconceituosos com o ballet e acham ruim quando alguém se manifesta contra suas chatisses. Dá pra entender? O Brasil precisa de companhias de DANÇA, que trabalhe arduamente uma técnica, suando a camisa, sob a batuta de um COREÓGRAFO, uma pessoa que crie TODOS os movimentos e passe aos bailarinos, isso sim é identidade.

Posted by: Vicente de Paula at maio 12, 2008 6:46 PM

Cara, esquece isso de dança contemporânea. Que dança, que nada, isso é o nada contemporâneo, ninguém faz nada, não tem nada, é uma vazio total. Fala sério.
Quer saber? Contemporâneo que se preza se manda para o Jiri Kylian, pro Forsithe, pra gente que teve base mesmo, não pseudo-preparo corporal. Cruzes, me poupem, nunca mais entro nessas tais "espaços" prá me azucrinar a cabeça. Da última vez quase que bato com o carro, de tão irritada.
Olha, vão aprender ballet depois vocês contam o resto.
Ah, a Deborah também pontificava contra o ballet; até porque, dizem, não levava o menor jeito. Mas, como não é burra, deu de cara com sapatos de ponta e uau, gamou.
Galera, dança neles, dança mesmo.

Posted by: Belinha at maio 12, 2008 8:49 PM

Tem gente que depois te uma certa idade se recusa a entender e estudar. Esse texto é típico de boteco da esquina onde os ignorantes se sentem livres pra falar mal do quer que seja, só pelo prazer de falar... E ainda colocam um ar de que só porque ja viram isso ou aquilo já sabem o que é ou não é bom. O contemporâneo infelizmente é pra quem vive nesse século. Quer ver espetáculo bonito, ouvir música aturável fica em casa e aluga um DVD, ou justamente, vá ao municipal. Pra que sair de casa e se deparar com algo "incompreensível", pra que fazer esforço e pensar naquilo que se vê? Ah, vamos ver "coisa bonita" "coisa agradável"... Mais gostoso.

Deborah Colcker faz um espetáculo apenas diferente. A dança contemporânea tem muitas vertentes, são diversas escolas... Fazer esse tipo de comparação é típico de quem não faz a menor idéia do que ta falando, daquele conhece nada mais do que o seu próprio umbigo preconceituoso. Não se esqueça de que você fala pra muitas pessoas. Essas também são diferentes, e muitas delas influenciáveis.

Posted by: ZZ at maio 12, 2008 10:15 PM

"Um corpo débil enfraquece a alma"
ROSSEAU.

Muito me incomoda perceber que ditos "Artistas" consigam trazer em suas falas tamanho preconceito e desprezo...
Julgar a arte dos outros de forma infundada me parece supérfluo.
Ainda mais cogitar que bailarinos contemporâneos são frustrados por não (segundo ignorante conceito) apreênderam a técnica clássica.

Dança Contemporânea, por seu próprio nome, é uma linguagem em construção, por isso cada vez mais a necessidade de que se estude, experimente, e crie na Dança de hoje.

Dizer que a Dança tem que ser conduzida exclusivamente por um diretor...Alguém já ouviu falar em processo colaborativo?

Porquê zelar por uma dança pautada por repetições arbitrárias de um coreógrafo? Onde fica o que cada bailarino pode dar de sí em um trabalho?

Acho mesmo que, o ruím dessa história é que essa discussão se iniciou devido a um comentário preconceituoso de um "jornalista" que mau sabe do que está escrevendo.

Começou mau. Discutir Dança para julgar o que é bom ou ruím e se vangloriar de sua técnica não me parece válido.

Por essas e outras a Dança é uma das classes mais disarticuladas no cenário artístico nacional. E desvalorizada tb.

Ovacionemos sim a pesquisa em Dança.
Não troquemos ofensas...Sejamos generosos e troquemos experiência.

Sou Renato Alves, COREÓGRAFO.
Bailarino dos Grupos DANCEATO (Direção; ANA BOTTOSSO) e Art'e..., de Diadema.

http://www.danceato.apbd.org.br
grupoart.e@uol.com.br


"A alma do corpo modula em cada fragmento sua música de esferas e de essências além da simples carne e simples unhas."
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Posted by: RENATO ALVES at maio 13, 2008 5:50 PM

Sr. Renato Alves
Você escreveu que minha opinião é infunda.Infundada por quê? Se escrevi que sempre é a mesma coisa, isso significa que sempre vejo estes espetáculos. Portanto tem fundamento sim.Leio, estudo e vivo no meio da dança. Gosto das coisas boas, sejam clássicas ou não. Vocês( de dança contemporânea)tem mania de achar que só vocês pesquisam. Não é verdade. Se quiser experimente fazer um ballet neo-clássico de uma hora,por exemplo.Você vai saber direitinho como é árdua esta tarefa que parece ser fácil. Aliás esta consciência é uma obrigação de qualquer bailarino, pois artista que desconhece o acadêmico é sempre frágil, é como um pintor que desconhece os caminhos de uma Mona Liza.
Você disse que a Dança contemporânea por seu próprio nome é uma linguagem em contrução. Bom, pelo que eu saiba, contemporâneo quer dizer do mesmo tempo. Tudo que se faz hoje é contemporâneo, até um Lago dos Cisnes.Outra coisa, eu não disse que a dança TEM QUE SER conduzida exclusivamente por um diretor, eu disse que o que falta hoje em dia são companhias com uma identidade, que se forma a partir de um coreógrafo bom, pois grupos com processos colaborativos tem demais, e muitas vezes isso se dá por que a direção quer anular o fato de existitem coreógrafos bons, que consigam fazer sozinhos um espetáculo.Você desrespeita esta classe quando escreve "repetições arbitrárias de um coreógrafo". Querido na arte existem pessoas com talento nato, é fato. A arte contemporânea quer acabar com essa idéia. Isso acontece em várias faculdades.Nos cursos de pintura os professores não querem saber de quem sabe desenhar. Só dão atenção a quem joga tinta na tela, cola tampinhas de refrigerante, e por aí vai. É a visão contemporânea, que joga no ralo muitos talentos, em nome dos experimentos(...). Quanto a sua pergunta: Onde fica o que cada bailarino pode dar de si em um trabalho? Trabalho em equipe é uma OPÇÃO, e não um regra. O trabalho pode ser feito em equipe ou da maneira tradicional, e aí o bailarino contribui fazendo aula, ensaiando, e assumindo o papel de um artista sendo dirigido por alguém, o que é muito importante, emprestar seu corpo para as idéias de uma outra pessoa, para assim este bailarino ter bagagem e experiência para depois desenvolver seu caminho.E quem está se vangloriando de técnica aqui? Você escreveu ovacionemos sim a pesquisa. E quem falou o contrário?
Fico por aqui. Não vou escrecer nenhuma citação de escritores famosos, como você fez. Me garanto com minhas idéias.
Vicente de Paula

Posted by: Vicente de Paula at maio 14, 2008 4:33 PM

Prezado Xexeo
• Quero te agradecer por me ter feito compreender um pouco mais a respeito de minha própria vida. Foi um efeito colateral de sua coluna de hoje respondendo ao protesto da "dança contemporânea". Como você não sabe, sou sócio com a minha mulher de uma companhia de dança do gênero e o tal e-mail chegou para nós assinarmos. Não concordei e escrevi a uma das organizadoras recomendando desistir do intento. Argumentei que artista não responde a criticas, que você nem é critico, que tem todo o direito de escrever bobagens em sua divertidíssima coluna e que o Segundo Caderno nunca deixou de noticiar os acontecimentos no SESC, ou em qualquer outra instituição por obra de suas opiniões sobre dança. Não adiantou, claro. Estavam dispostos não a argumentar com você, mas a reclamar com o seu patrão. Que feio ... Daí vem a sua resposta. Nas entrelinhas, você diz que escreve mesmo sobre bobagens (embora já tenha se indignado com assuntos bastante sérios, eu juro que li). Afinal, bobagens são uma parte imensa (de certa forma não será o todo?) de nossas vidas. Cutuca a solidariedade de contemporâneos e nem tanto contemporâneos e deixa a suspeita de que a preocupação do grupo é preservar sua imagem junto a patrocinadores. Na mosca! Artista que se preza tem um publico que o defende. Imagina se Roberto Carlos tivesse se dado ao trabalho de responder às milhões de linhas que o ridicularizaram décadas a fio! O cara tem o trabalho dele, o publico dele e embora possa ter ficado chateado aqui e ali (todos temos um lado bebe chorão), seguiu com a caravana. Mas muitos artistas "contemporâneos" hoje não tem publico, tem patrocinadores que só patrocinam o que sai bem na foto (do jornal). Daí o perigo. Bem, li o seu deboche (foi deboche, não?) e pensei: vou parabenizá-lo. Foi aí que veio a luz sobre meu passado. Gente, foi exatamente por isso que fui expulso do Parque Laje nos finados anos noventa! Porque não me contenho com a falsa seriedade de artistas que perdem a auto-critica quando preocupados em manter sua boquinha. Naquela época o Parque Laje era um reduto pós-hippie, onde cada professor curtia a sujeirinha de seu ateliê (hippie) sem se preocupar com a vida da comunidade (pós). Por ali as direções passavam para desfrutar do prestigio do cargo sem se dar ao trabalho de conseguir um único martelo para a oficina. Mas quando ameaçaram tiram da Escola de Artes Visuais o uso do Parque Laje, ai sim, foi a oportunidade para os artistas se mexerem e a direção vestir seu melhor terno e ir às redações e à Brasília reclamar. O mal estar que isso me causou foi o que gerou meu protesto. Claro que nenhum professor podia me apoiar, estavam todos defendendo sua boquinha e eu denunciando a farsa! Ai, ai, lá estou eu de novo me indispondo, desta feita com a seríssima classe dos coreógrafos contemporâneos, ainda por cima apoiada pelo importantíssimo Ricardo Basbaum. Tem nada não, é muito bom saber que eu continuo sendo feliz sendo como sou e que posso aprender algo sobre mim com um colunista boboca! Obrigado Xexeo
• Hilton Berredo

Posted by: Hilton Berredo at maio 15, 2008 1:36 PM

A arte contemporânea abriu possibilidades de relação entre o espectador e a obra de arte que antes não existiam. O espectador em sua maioria, já vem carregado de apetite semiotizante. Ou seja, ele quer sempre entender. Como se a obra tivesse uma obrigação de ter um sentido.
Vendo os trabalhos de Pina Bausch em um certo momento em que Dominique Mercy estava fazendo um solo, minha filha de sete anos se aproximou em seu ar de curiosidade infantil para ver o que estava prendendo a atenção de sua mãe. Naquele momento minha atenção se voltou automaticamente para sua reação pois, me encantaria fazer a analogia de nossas experiências. Ela disse sem rodeios: "Esse cara está dançando como um maluco!".No outro dia eu perguntei se ela se lembrava daquele vídeo que tinha visto e para minha surpresa, ela disse que se lembrava. Perguntei ainda o que ela tinha achado daquilo que tinha visto e ela me respondeu: " é meio maluco!" Então indaguei; mas e se ele estivesse dançando balé clássico? (que é uma dança conhecida pra ela) Ela respondeu: "aí seria normal!" Podemos então analisar da seguinte maneira: O conhecido = Normalidade = Acerto, sendo que, o desconhecido = Loucura = Erro.
Para minha filha, Dominique estava dançando da maneira errada. Como se existisse uma maneira correta de dançar. De certa maneira, eu já sabia que ela não receberia a obra de uma forma tranquila, pois sua experiência é análoga à minha e a da maioria das pessoas que, na ânsia do entender apriorístico impregnado por nossas culturas, nos impede de nos colocarmos no lugar do não entender.
O trabalho de Pina Bauch nos atinge de uma maneira inesperada. O que a gente sempre espera é a normalidade,o inteligível. "'O problema é que essas pessoas usam um verbo único: entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível" (Fernando Cochiarale, Quem tem medo de Arte Contemporânea, pág. 14).
Minha filha, apesar de sua pouca idade, já está carregada de conceitos apriorísticos, conceitos construídos de civilidade para os quais, cada um tem o seu papel. Então o papel do dançarino seria dançar, e em seu senso, ela esperava que Domique fizesse movimentos majestosos de uma dança clássica (o conhecido é mais confortável e consequentemente mais aceitável), o que ela não esperava, era encontrar o dançarino realizando movimentos sem sincronismo e aparentemente grotescos, movimentos estes que não entendemos e não identificamos de imediato, pois não assossiamos com o que estamos acostumados a ver todos os dias. Isto nos causa um desconforto, um conflito, este é o momento em que a proposta de Pina Bausch se faz obra.

Em nossa sociedade somos condicionados a normalidade, o que foge a esse conceito é loucura , e essa estranheza, é tomada na maioria das vezes como ferramenta de defesa, um escudo. Como se o desconhecido nos colocasse em um campo minado. Temos sempre a tendência de ter o controle de tudo. O que não entendemos foge a esse controle e consequentemente, assusta.
Classificamos a dança de Dominique como erro porque não temos a preparação para nos permitirmos não entender. Quando tentamos entender, limitamos, quando não entendemos, nos sentimos ofendidos, buscamos de qualquer maneira dar um nome e terminamos adjetivando. Classificamos como sendo isso ou aquilo, bom ou ruim e fazendo isso; fechamos a porta das possibilidades.
Na Arte contemporânea não há espaços para o conceito de unidade, uma coisá única e indiscutível, pois a identidade do sujeito contemporâneo não pode mais ser classificada como uma unidade sólida e estável "Entretanto, embora o sujeito esteja sempre partido ou dividido, ele vivencia sua própria identidade como se ela estivesse reunida e resolvida, ou unificada, como resultado da fantasia de si mesmo como uma pessoa unificada que se formou na fase do espelho". ( A Identidade Cultural na pós-modernidade, A identidade em questão, Stuart Hall pág 38).
Seria mais proveitoso que o espectador se permitisse estar como uma folha em branco, disposta a ser escrita, rabiscada, rasgada, pintada, colorida, amassada ou qualquer outra coisa que não tenha nome, que "não entendemos". Onde não existisse separação entre o senso e o sensível, onde houvesse apenas um receptor disponível e sempre a espera do encontro. A espectativa não deve ser substituída pela certeza, pois tudo é e não é ao mesmo tempo. "Uma leitura, uma interpretação, quer fixar significados que essencialmente nao podem ser fixados para sempre". (Fernando Cochiarale, Quem tem medo de Arte Contemporânea, pág 50).
Notemos enfim que, minha filha não disse "esse cara é maluco!" Ela não o classificou como sendo maluco, ao mesmo tempo que a obra de Baush lhe causou uma certa estranheza, algum lugar nela identificou a diferença entre Dominique e sua ação de dançar, ele está dançando como um maluco é diferente de: 'ele é maluco'! Ou seja ele não é, ele está "(...) no mundo contemporâneo não é mais possível estabelecer e fixar identidades. O verbo ser, que é o verbo da raiz, foi substituído pelo verbo estar, que é o da rede". (Fernando Cochiarale, Quem tem medo de Arte Contemporânea, pág. 40). Sendo assim, se no mundo contemporâneo não é mais possível estabelecer e fixar identidades como podemos querer estabelecer e fixar um sentido na obra de arte contemporânea? Se não somos um ponto final estamos como reticências.

...

Posted by: Bella Rodrigues at maio 22, 2008 9:00 PM

Sr. Vicente.

Minha preocupação se redobra ao perceber o incômodo de Vsra.
Somos donos de nossas opiniões, e, estamos sujeitos à discussão.
Não vou debater com vc verdades absolutas, pois me parece que essa é a sua praia. Ao mesmo tempo não me sentiria confortável em encerrar o assunto deixando com que sua arrogância prevalecesse.
Estive comentando com alguns pares a respeito dos desdobramentos da discussão que o "jornalista" Arthur Xexéu desdobrou.
Não precisou muito tempo para perceber-mos que a falta de generosidade entre o meio artístico vêem imperado. E não é apenas uma falta de generosidade com o outro, mas consigo e com seu intelecto, com sua sensibilidade e capacidade de associação.
É gritante perceber o quanto certas mentes se tornam enjeçadas em fórmulas exclusivistas. E o pior: Desqualificando pessoas que dedicam seus dias à construção de uma identidade contemporânea.
E olha, isso não significa negar o que já existe...Não...O que se faz presente é o agregar de linguagens e seus desdobramentos.
Não sei de sua trajetória, mas não tenho problema algum em te citar um fato: sou estudante de dança, e tb estudo ballet clássico (Não quero contribuir com o seu preconceito).Obviamente a Dança clássica oferece uma estruturação corpórea ímpar...Que bom, é necessária e eficaz ao corpo do bailarino contemporâneo tb.
Eu tenho plena consciência de que a discussão não é a validade ou a comparatividade da técnica clássica em detrimento às demais linguagens...Vc tem?
Como havia citado, o problema todo se deu pelo início dessa discussão, dispertada por comentários absolutistas e deflafratórios no sentido negativo à toda uma classe de artístas.
Quem ganha com todo esse preconceito? O Sr?

Faço minhas as palavras da útima pessoa que postou nessa discussão, onde esplanou acerca do "entender desenfreado"...As aplíco à Vsra.

E, sobre as manchas na tela de pintura...Mas um sinal vital de sua (com todo respeito) prepotência.

Se o Sr. ver um quadro branco com apenas um ponto preto no centro...O que Sr. vai "buscar entender"?Ham?
Exercíte mais o seu lúdico...
E sobre as referências...Sim, as cito pois as tenho. Não tenho que me "garantir" pra ninguém", isso seria um sinal de minha insegurança...Isso se aplica à Vsra.

As cito pois às agreguei. Leia mais e tenha as suas...Isso não vai te prejudicar...Quem sabe vc encontre o seu "pontinho preto", e depois um cinza, um verde e um lilás.

RENATO ALVES.
renatoalvesrt.e@uol.com.br

Posted by: Renato Alves at maio 27, 2008 1:47 PM

Absurdo isso! Além da arrogância. Dizer que dança contemporânea não é dança!? Francamente. A dança contemporânea não é ballet clássico, só isso. Só pra constar, amo ballet clássico, e tenho descoberto o gosto pelo contemporâneo ultimamente. Mas negar a beleza - e pior, a existência - da dança contemporânea com um julgamento simplório e meia boca desses é simplesmente lamentável. Não existem motivos para ter essa gana em comparar clássico e contemporâneo, isso seria o mesmo que tentar comparar Leonardo Da Vince e Picasso, dois gênios da pintura, por motivos diferentes. Esse é o ponto: a motivação do ballet clássico é uma e a da dança contemporânea é outra.
Sou fã da Deborah Colker, mas não sou insana ao ponto de achar que a única dança contemporânea que presta - ou que pode ser chamada de dança - é a dançada pela Cia dela. É complicado quando as pessoas começam a achar que só o que elas pensam importa. Felizmente, essa tentativa débil de humilhar os bailarinos contemporâneos não deve chegar a atingir metade deles. Sabe por quê? Porque eles são bastante cientes de seu pontencial artístico e do valor de sua arte pra se deixarem abalar por opiniões ridículas de colunistas idiotas. Mas, só pra constar, fica minha dica ao digníssimo sr. Xexéo que aprenda a expressar suas opiniões sem tentar desprezar os artistas, profissionais, enfim, as pessoas envolvidas, pois isso só o torna mais ridiculamente tapado e indigno de credibilidade.

Enfim, é isso.

Posted by: Camila at fevereiro 15, 2012 9:34 PM

pergunte a um bailarino clássico que o senhor julga estudar tanto e saber o que faz, os motivos para se fazer um plié , quais os musc que acometem o movimento e o que ajudara nos movimentos em sua dança? Fale da dança contemporânea, tens todo o direito, logo eu também tenho o meu, os bailarinos clássicos são 'adestrados' , fazem por fazer, sem saber por que fazer. Experiencia, eu sei o que estou falando.

Posted by: Joanna Pichker at maio 29, 2013 12:10 AM
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