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abril 9, 2008
Montagem e trabalhos inéditos se destacam em mostra no Itaú Cultural, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Montagem e trabalhos inéditos se destacam em mostra no Itaú Cultural
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 9 de abril de 2008
"Quase Líquido", mostra em cartaz no Itaú Cultural, com curadoria de Cauê Alves, radicaliza uma linha adotada nas exposições mais recentes da instituição: poucas obras, que ocupam os espaços de maneira mais digna, e propostas comissionadas, o que faz com que não sejam só exibidos trabalhos conhecidos, mas impulsionada sua criação.
Propiciando a experimentação, o Itaú Cultural dá sentido às suas vultosas receitas. Enquanto museus raramente têm verbas para a produção de novas obras, instituições privadas como o Itaú ou mesmo o Centro Cultural Banco do Brasil, que não possuem acervos e seus decorrentes gastos, podem investir no incentivo e não ficam apenas tomando obras emprestadas.
Em "Quase Líquido", isso faz com que artistas como Daniel Acosta, Ana Maria Tavares e Lucia Koch, entre outros, sejam vistos com novos desdobramentos em suas carreiras. Em Acosta, pela primeira vez há um componente cinético em seu trabalho. Com Tavares, cristaliza-se ainda mais o diálogo com a arquitetura moderna -no caso, com Lina Bo Bardi-, e Koch amplia seus espaços imersivos, evocando o norte-americano Dan Flavin.
Dentre os trabalhos inéditos, um dos destaques é o conjunto de ventiladores do mexicano radicado no Brasil Héctor Zamora. Integrados ao teto da exposição de forma mimética, funcionando com velocidades distintas, eles provocam sensações no visitante, colocando em xeque a visão como sentido primordial em uma exposição.
Também inédito é "Pets", de Eduardo Srur, artista que vêm ampliando o grau de suas intervenções públicas e alcança, agora, sua obra de maior porte.
Com recursos publicitários, o que poderia banalizar sua proposta, Srur aborda, nas margens do rio Tietê, a poluição e o dejeto -temática que, contudo, parece um tanto redundante com as garrafas de plástico ao mesmo tempo em que dá visibilidade a uma questão real.
No entanto, não são apenas os novos trabalhos que merecem destaque. "Experiência de Cinema", de Rosângela Rennó, é um dos pontos altos da exposição. A projeção de fotografias numa névoa fantasmagórica que sempre se esvai evoca a não realização do projeto moderno brasileiro que o curador buscou costurar nos trabalhos, assim como a fluidez, outro tema da mostra.
Tendo os dilemas do rio Tietê como eixo, o curador, como ocorre em todas as mostras monotemáticas, correu o risco de limitar as obras a um discurso unidirecional. Escaparam dessa malha aquelas que, como em "Experiência de Cinema", alcançam maior grau de complexidade.