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abril 3, 2008
Zilio abre nova galeria Anita Schwartz, por Suzana Velasco, O Globo
Zilio abre nova galeria Anita Schwartz
Matéria de Zilio abre nova galeria Anita Schwartz, originalmente publicada nO Globo, no dia 2 de abril de 2008
Espaço para as artes na Gávea, de 700 metros quadrados, é inaugurado com telas, desenhos e objetos do artista
Ao lado de uma igreja, na José Roberto Macedo Soares, uma rua de restaurantes e edifícios baixos da Gávea, a galeria de arte Anita Schwartz será aberta amanhã ao público, com uma exposição do artista plástico Carlos Zilio. Num bairro que já tem Mercedes Viegas, Ana Maria Niemeyer e Galeria 90, Anita demoliu a casa comprada para pensar um espaço específico para as artes visuais. Com projeto do arquiteto Cadas Abranches, a nova galeria tem cerca de 700 metros quadrados e três andares.
O térreo, uma sala de 120 metros quadrados e 7,2 metros de pé direito - onde ficarão 18 telas de Zilio - permite a exposição de obras monumentais e pode ser visto a partir do segundo andar, onde fica o acervo da galeria. O terceiro andar abriga outra sala, que vai expor 12 desenhos do artista, e um terraço, com um contêiner vermelho para videoinstalações. Ali serão exibidos um filme da Rioarte sobre o trabalho de Zilio, feito por Mario Carneiro, e um filme em super 8 de um minuto, que Zilio fez em 1973.
Artista se volta para a própria obra em suas telas
Mas o foco da exposição é a pintura, opção que Zilio, que enveredou pela nova figuração e pela arte conceitual nos anos 1960 e 1970, abraçou há 30 anos. Segundo o artista, seu caminho na pintura foi tomado num momento de crise da arte contemporânea, de vivência intensa de objetos e suportes experimentais.
- Meu desafio foi tentar uma alternativa capaz de ser uma resposta às contradições do momento, mas que ao mesmo tempo remetesse a uma história de longa duração. Foi pôr a arte não num problema circunscrito ao século XX, mas pensá-la dentro de uma longa tradição. Por isso criei essa solução, de fazer pintura pensando em pintura - diz Zilio, que desde o fim dos anos 1970 trabalhou com referências à história dessa arte, como na série de jardins de Matisse, Seurat e Ivan Puni, de 1984.
Nas telas da exposição, criadas entre 2005 e 2007, o artista revisita a história de sua própria arte. A terceira, "Quem tem medo de verde, amarelo, azul e branco e de Barnett Newman?" remete a duas outras obras, de 1981; "Rubens on the beach II" se volta à homônima de 1978; e "Memória" faz alusão a "Auto-retrato", de 1973, levando o vermelho abandonado de volta à obra de Zilio.
- Talvez agora esteja pensando esse acervo de soluções que venho buscando ao longo do tempo. Quando retomo o "...Barnett Newman", o "Rubens on the beach", há uma memória de uma reflexão, esse embate de pensar a pintura através da pintura.
A mostra reúne ainda quatro objetos, criados por Zilio numa "fase seca da pintura". Mas também eles - "O julgamento de Paris", "Vênus", "Vênus e Marte" e "Fruto proibido" - carregam em si a história da arte. A escolha mitológica de Paris, entre Hera, Atenas e Afrodite, eleita a mais bela, foi explorada por toda a história da arte, e foi também nome de uma tela de Zilio, em 1992. Agora, a escolha que o artista oferece é entre três maçãs:
- É um dos temas mais recorrentes na história da arte, porque é o problema do julgamento estético. Faz parte do meu universo me envolver com essa história.
Esse envolvimento é também acadêmico, uma "preocupação de ter uma presença na política da arte". Zilio foi um dos criadores da pós-graduação em história da arte e da arquitetura na PUC-Rio, com uma aborgagem do modernismo brasileiro mais concentrada em nomes como Guignard e Goeldi. E dá aulas na graduação e na pós-graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ - porém não para formar pintores, e sim artistas, diz ele. Seu percurso na pintura foi pessoal, e Zilio não acredita que ela vá mal diante do "pode tudo" da arte contemporânea:
- A pintura vai muito bem, obrigado, no mundo todo. Essa questão ficou no embate do primeiro momento da afirmação da arte contemporânea, já foi posta em debate.
Galeria é adaptada para deficientes físicos
Anita também quer receber todos os tipos de artistas e suportes - por isso o pé-direito alto da sala principal e o contêiner, em contraponto ao "cubo branco", elevado a 50cm do nível da rua, sobre um espelho d’água. A galeria ainda tem acesso e um banheiro adaptados para portadores de deficiências físicas, e um elevador, com capacidade para 1,5 tonelada, leva até 20 pessoas.
Em julho, o espaço terá intervenções de jovens artistas, com curadoria de Guilherme Bueno. No resto do ano, vai expor Daniel Feingold, Nuno Ramos, Fábio Miguez e Eduardo Frota. Em 2009, o primeiro aniversário será comemorado por Abraham Palatnik.
- Não queria uma reforma, mas uma galeria, que recebesse todas as possibilidades de mídia. Quero que ela seja um espaço de encontros e debates - diz Anita.