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março 18, 2008
Mostra apresenta Segall muito além do expressionismo, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Mostra apresenta Segall muito além do expressionismo
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 18 de março de 2008
Com entrada gratuita, exposição com curadoria de Tadeu Chiarelli reúne conjunto amplo com várias fases do artista
Raras são as exposições no Brasil que buscam romper paradigmas estabelecidos e que são, ao mesmo tempo, generosas o suficiente para permitir reflexão sobre a tese levantada. "Segall Realista", com curadoria de Tadeu Chiarelli, é ousada ao negar o expressionismo como elemento central na obra do artista objeto da mostra. Ao mesmo tempo, ao reunir um conjunto com cerca de 150 trabalhos, a mostra não se torna uma camisa-de-força da curadoria. Lasar Segall (1891-1957), nascido na Lituânia, foi integrado ao modernismo alemão, a começar por sua presença no grupo Secessão, de Dresden. Essa filiação o vinculou ao expressionismo, escola que visava realizar uma crítica social a partir da representação do cotidiano.
Ao recriar a realidade, como define Chiarelli, "o artista expressionista a modifica, com a deformação expressiva das figuras, o uso antidescritivo da cor e, sobretudo, a ênfase ao caráter bidimensional do suporte pictórico".
A definição de expressionismo acima citada está presente no robusto ensaio do catálogo da mostra, que é onde o curador irá defender sua tese. Na exposição, com ótima montagem, Chiarelli reuniu um conjunto amplo das várias fases do artista e dos vários suportes que Segall usou: pintura, desenho, escultura. Nessas obras, o artista se revela diversificado em sua pesquisa, como muitos de seus pares modernistas.
Assim, observa-se como Segall discutia a própria história da arte em "Morro Vermelho" (1926), fazendo a imagem da Madonna ser encarnada por uma mãe negra; utilizava o exótico, como no clássico "Bananal" (1927), ao incorporar a cor, a luz e os personagens brasileiros; tinha uma forte preocupação social, como ensejam ambas as obras; ou adquiria contornos mais clássicos, como em "Maternidade" (1936). Ou seja, há muitos Segais.
Além do mais, o curador ainda reúne obras que contradizem sua tese central, a do "Segall realista", ao expor alguns de seus últimos trabalhos, praticamente abstratos, como suas florestas, mas que reforçam como os conceitos não são capazes de abarcar toda a complexidade do fazer artístico e que, no fim, o que interessa mesmo, ao menos para os modernos, é a obra de arte.