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janeiro 21, 2008
Freios de mão e microfones, por Dilson Midlej, Fórum de discussão da Associação de Artes Visuais da Bahia - AAV_da Bahia, Jornal A Tarde
Freios de mão e microfones
Texto de Dilson Midlej, do Fórum de discussão da Associação de Artes Visuais da Bahia - AAV_da Bahia, originalmente publicado no A Tarde, no dia 10 de janeiro de 2008
Quem acompanhou atentamente a programação de artes visuais em Salvador em 2007 - meu caso, pois possuo especialização em crítica de arte e sou mestrando em artes visuais pela Ufba - deve ter estranhado a "paradeira generalizada", denominada como o "ano do freio de mão puxado" pela jornalista Ceci Alves, de A TARDE, na Retrospectiva 2007.
Para mim, 2007 não foi o "ano do freio de mão puxado" e sim o ano do microfone ligado à voz da classe artística, o que possibilitou a interlocução da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) conosco, artistas, pesquisadores e produtores culturais. Essa interlocução resultou tanto na criação de programas, como os editais de apoio a montagens de exposições, de curadoria, de residências artísticas (para todas as linguagens), quanto no desenvolvimento de novos projetos, como o Giro das Artes Visuais (exposições itinerantes pelas cidades do interior).
Apesar de estas ações terem evidenciado a vitalidade das artes visuais em 2007, elas raramente foram noticiadas pela imprensa baiana.
O Giro das Artes Visuais, por exemplo, possibilitou que os acervos de fotografias de Pierre Verger e de Anízio de Carvalho, assim como obras de arte contemporânea do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), pudessem ser mostrados em diversas cidades do interior, algo nunca feito anteriormente.
Na capital, a exposição Smetak imprevisto e o 14º Salão da Bahia, ambas as iniciativas do Museu de Arte Moderna (MAM-BA), são fulgurantes exemplos de ações culturais relevantes.
Na minha opinião, o 14º Salão da Bahia (ainda em cartaz) traz melhorias consideráveis em relação às edições anteriores, dado não apenas aos cuidados e à competência curatorial da direção do museu (inclusive pela inserção de três prêmios de residências artísticas para São Paulo, França e Inglaterra, restritos aos artistas baianos), mas também pela exibição de obras de artistas premiados nos salões regionais de Juazeiro e Feira de Santana, algo impensável na gestão anterior.
Ao contrário do afirmado por Ceci Alves, de que a Secult vinha trabalhando em silêncio por dez meses, esse período me pareceu o mais barulhento possível, haja vista as muitas consultas feitas à classe artística (das quais participei de algumas) e das várias oportunidades de diálogos criadas pela Diretoria de Artes Visuais da Fundação Cultural do Estado, dirigida competentemente por Ayrson Heráclito. Esses diálogos terminaram, na prática, por aquecer a programação de exposições de espaços, como as galerias Pierre Verger e do Conselho, e pela abertura de novas áreas expositivas, a exemplo do Iceia, no Barbalho.
Como se vê, o freio de mão do carro da cultura visual baiana encontra-se baixo. Só que, para ouvirmos as buzinas das novas iniciativas, se faz necessário - antes de dar partida no carro - tirar os fones dos ouvidos.