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janeiro 11, 2008
SET quer a retirada de obra de arte das ruas, por Mary Weinstein, Agência A Tarde
SET quer a retirada de obra de arte das ruas
Matéria de Mary Weinstein, originalmente publicada na Agência A Tarde, no dia 3 de janeiro de 2008
O artista mineiro radicado em São Paulo, Dácio Bicudo, ultrapassou os limites do Museu de Arte da Bahia (MAM) para levar uma linha vermelha com 10 cms de largura por 3 kms de asfalto, na qual escreveu o nome de mais de 100 artistas plásticos. Nada a ver com o Rio de Janeiro - é como uma fita do Senhor do Bonfim gigante. Ao perceber a intervenção artística no Centro da idade, a Superintendência de Engenharia de Tráfego mandou remover.
A linha pintada no chão sai do andar térreo do Solar do Unhão, pula o muro do prédio do século XVII que pertenceu ao ex-provedor da província Gabriel Soares, atravessa a Avenida Contorno do arquiteto Diógenes Rebouças (o mesmo da Fonte Nova), sobe a Ladeira dos Aflitos, passa em frente ao Quartel, vira à esquerda na Avenida Sete, morre em frente ao Elevador Lacerda e ressuscita na Praça Cayru, na Cidade Baixa, onde será construído o Hilton Hotel.
O trabalho, que não é um dos premiados do 14º Salão da Bahia aberto até fevereiro no MAM é o que mais propicia uma interação com a sociedade, como pretendia o autor. Especialmente com a Superintendência de Engenharia de Tráfego (Set), que ordenou a sua retirada das ruas da cidade. Um dos seus agentes alegou que a intervenção confunde os motoristas, já que linha vermelha é geralmente utilizada como sinalização de ciclovias, conforme contou a assessoria do Museu que recebeu a notificação. A restrição foi formalizada pelo ofício 1126/2007 repassado ao artista.
Dácio Bicudo não gostaria de ter que apagar o próprio trabalho que lhe custou "noites e noites" para ser executado. Disse que foi "terrível", aplicar o nome de mais de 100 artistas no asfalto entre espaços de 30 cms, dentre eles Glauber Rocha, Hélio Oiticica, Emanoel Araújo, Ferreira Gullar, Brennand, Lígia Clark, Cícero Dias etc. A maioria, ninguém na Avenida Sete, sabe quem é. Não sabe sequer que o 14º Salão está no MAM e pode ser visitado.
Alba Cristiane Costa, 30 anos, assistente social, cheia de compras na mão, nas Mercês, declarou que não conhece nenhum dos nomes que leu sobre o asfalto. E garantiu que se tivesse tempo seguiria para ver onde iria dar a linha vermelha.
Foi o que o agente da SET fez quando viu a pintura com aqueles nomes todos. E assim chegou ao Museu. Foi quando informou ao assessor Daniel Rangel, que a intervenção não poderia permanecer porque atrapalharia o trânsito.
De acordo com o assessor do MAM, autorizações foram requeridas com antecedência para que a intervenção pudesse ser efetuada. O Salão foi inaugurado em 18 de dezembro e até a véspera, o MAM nada tinha recebido da SET. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) expediu ofício em 10 de dezembro, autorizando o trabalho em área tombada.
Somente em 27 de dezembro, o chefe de gabinete da SET, Paulo Dantas, enviou o ofício pedindo a "interveniência junto ao artista plástico", para retirada do trabalho.
A aplicação da tinta já está desaparecendo. Foi feita para durar pouco, segundo informou o artista. Em alguns trechos fica em paralelo à linha azul, que serve para delimitar o espaço reservado ao folião pipoca durante o Carnaval, que permanece o ano inteiro. Nenhuma das duas parece chamar a atenção. "Não sei do que se trata, mas acho que não está incomodando em nada. Não confunde ninguém", disse o motorista da Delegacia Regional do Ministério da Agricultura, Antônio Duques, 58 anos, com experiência de 40 anos.
"Não tem caráter de homenagem aos artistas, e sim de diálogo. É o artista saindo do Museu. É a participação da arte contemporânea na vida", conceitua o artista de 59 anos, que morou um ano na Bahia, na década de 70 e que tem várias exposições internacionais no currículo. "Eu pretendo que a Linha Vermelha continue até o fim do Salão, em 17 de fevereiro. Se eu tiro, a obra morre. Não faz sentido ficar somente dentro do Museu. A proposta é criar um diálogo com a população", diz o artista e videomaker Dácio Bicudo.
Enquanto o assessor do MAM Daniel Rangel diz que a questão agora "fica entre o artista e a SET", a assessoria da SET informa que o problema estaria sendo negociado com o MAM. "Eles (a SET) não responderam em tempo hábil. Esse é o momento de o artista tentar a liberdade de expressão. A gente defende a liberdade do artista. Mas claro que tem que estar de acordo com a lei. Na minha concepção, a intervenção não provoca confusão no trânsito", disse Daniel Rangel.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a SET respondeu que o assunto "já está sendo tratado diretamente com o MAM". Que um período de permanência da obra será estabelecido junto com o MAM. "Por enquanto não há uma posição definitiva. Está sendo negociado", concluiu.
Acho um absurdo o MAM "tirar o corpo fora" dessa questão e "deixar para o artista resolver com a SET", o trabalho não foi aprovado pela comissão julgadora? Sendo assim a instituição não deu o aval para a realização da obra? Ou então... desse jeito a obra não deveria ter sido selecionada, o que seria uma pena para o público... não ter um trabalho tão interessante saindo do museu, e onde está o serviço de comunicação com o público??? Se ninguém sabe do que se trata a obra... isso parece indicar que o museu não dialoga com a sociedade... sim ou não???
Posted by: cristina at janeiro 16, 2008 10:31 AM