|
dezembro 21, 2007
Campo Ampliado, por Fabio Cypriano, Folha de São Paulo
Campo Ampliado
Crítica de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo no ia 20 de dezembro de 2007
Boa exposição de arte contemporânea marca fase estável do IAC
Mostra atual é elogiável, mas seria bom ampliar leque de artistas que venham a participar de futuras exposições
É prática dos museus paulistas com coleções de arte contemporânea não exibirem seu acervo de forma permanente, o que leva nomes fundamentais como Mira Schendel (1919-1988) ou Amilcar de Castro (1920-2002) a serem vistos só em mostras temporárias. Aberto há menos de um mês de forma regular, o Instituto de Arte Contemporânea resolve parte dessa invisibilidade, reunindo ainda Willys de Castro (1926-1988) e Sergio Camargo (1930-1990).
"Campo Ampliado" é a mostra que inaugura essa fase estável do IAC -no ano passado, a instituição organizou uma inauguração parcial com exposição de curta duração. Com curadoria do crítico Paulo Sergio Duarte, a exposição reúne, além dos quatro artistas que são o núcleo central do instituto, outros seis nomes: três artistas que os antecederam (Alfredo Volpi, Jean Arp e Lucia Fontana) e outros três contemporâneos (Arthur Luiz Piza, José Resende e Tunga).
É estranho que Duarte tome emprestado o título da mostra da norte-americana Rosalind Kraus, que criou o conceito de "campo ampliado" para definir uma nova forma de realização escultórica para além dos parâmetros modernistas, e discuta também a modernidade desses artistas. A escolha, no entanto, não compromete a mostra.
No texto do catálogo, o curador realiza paralelismos entre as obras: "a pura visualização" de Resende com os objetos ativos de Willys de Castro, os "feltros dobrados" de Tunga com as dobras no ferro de Amilcar de Castro, deixando, por exclusão, Schendel e Piza como uma terceira dupla.
São aproximações um tanto formais, como comparar as dobras de Tunga com as de Amilcar, o que até reduz tais trabalhos a suas materialidades, mas são possíveis caminhos de análise. Sem dúvida, um instituto que se dedica a apenas quatro artistas amplia muito o escopo desse grupo ao criar novas possibilidades de leituras no diálogo com outros artistas, e isso ocorre de forma intensa também com Volpi, Arp e Fontana.
Tratando-se de uma instituição que conta com a contribuição de recursos públicos e funciona na área de uma universidade pública, é preciso que esse campo de artistas, em futuras exposições, seja ampliado ainda mais, sob o risco de colocar o projeto em risco, conectando-a a interesses particulares.
Em "Campo Ampliado", tanto as obras de Tunga como as de Resende que participam da mostra pertencem ao acervo da galerista Raquel Arnaud, que é presidente do IAC. Já a artista Mira Schendel é representada pelo galerista André Millan, por sua vez diretor do instituto.