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novembro 9, 2007
Centro de Arte Hélio Oiticica em questão, resposta de Luiz Camillo Osorio, O Globo
Resposta de Luiz Camillo Osorio à carta de César Oiticica, originalmente publicada na seção Cartas, do Segundo Caderno do Jornal O Globo, do dia 8 de novembro de 2007.
A propósito de HO
A carta do Sr. César Oiticica respondendo à minha crítica ao atual abandono do Centro de Arte Hélio Oiticica - que, no momento, expõe para um público ridículo a obra magnífica de seu pai, José Oiticica Filho - merece uma tréplica, pois está cheia de interpretações equivocadas.
Vamos a elas:
1. Não fui eu quem disse que o CAHO foi construído para abrigar a obra do artista. No catálogo de inauguração do Centro, está escrito pela então secretária de Cultura, Helena Severo: "Esta nova instituição carioca vai abrigar todo o acervo do artista (Hélio Oiticica) e colocá-lo à disposição do público, em caráter permanente, além de promover exposições e eventos de relevância para as artes plásticas nacionais e internacionais.
Adotando critérios interdisciplinares promoverá também simpósios, seminários através de seu Centro de Documentação".
2. Há alguns anos, o projeto HO decidiu retirar as obras do artista do CAHO em função de a prefeitura não ter cumprido com suas obrigações no que dizia respeito a uma reserva técnica de qualidade e outras demandas do projeto HO. Muito justo. Entretanto, de uma hora para outra resolveu-se dizer que são coisas autônomas e que a prefeitura não tem obrigação nenhuma perante o acervo. Não quero retirar a autonomia do projeto HO, quero que a prefeitura cumpra com suas obrigações iniciais e faça o possível para manter na cidade a obra deste artista em exposição permanente.
3. As "nossas mãos" do meu texto referem-se ao cidadão carioca.
Pagamos com "nossos" impostos a criação e manutenção, nos últimos dez anos, do CAHO e temos a expectativa de poder ver com alguma sistematicidade as obras de Hélio Oiticica. Mais do que isso, queremos um centro de arte dinâmico, à altura do artista que lhe dá o nome. O meu sonho era que a restauração primorosa das suas obras feita pelo Museu de Houston, com justa parceria da Petrobras, pudesse ter sido feita aqui. É bom que se diga que acho fundamental para a arte brasileira expor e pertencer ao acervo de um museu da qualidade do de Houston. Uma coisa (termos instituições fortes) não impede a outra (ter visibilidade e presença internacional).
Muito pelo contrário.
4. O Sr. César leu apressadamente a passagem em que mencionei o "museu americano" e compreendeu mal. Não me referia a Houston, mas ao Guggenheim, pondo em questão nossa capacidade (e interesse) de levar adiante aquele projeto da prefeitura, uma vez que mal conseguimos manter as nossas principais coleções no país. Todavia, não vai ser introduzindo uma legislação conservadora que vai se resolver este problema, ou impedindo a saudável circulação da arte brasileira lá fora, mas com uma política cultural de médio e longo prazo que comprometa o poder público e a iniciativa privada.
5. Não tenho "interesses" velados a não ser defender e valorizar a melhor arte brasileira. O que não posso é ficar quieto diante do abandono de um centro de arte que deveria, entre outras coisas, abrigar e expor a obra de um dos maiores artistas do século XX, que temos a sorte de ser brasileiro e de ter tido com o Rio de Janeiro uma relação afetiva e poética. Recomendaria ao Sr. César, para conhecer melhor o que acho da obra de seu irmão, ler a crítica que escrevi sobre a exposição de Houston para o site do Canal Contemporâneo ou as inúmeras outras que escrevi para O GLOBO quando o CAHO ainda expunha o artista.
Pedir que lesse minha tese de doutorado, que inclui um capítulo sobre ele, seria exagero.
Talvez, ao contrário do que foi dito, eu esteja, isto sim, entre os que mistificam a obra de HO. Não me incomodo com isso, ela merece e sustenta todas as mistificações. Pena que o meu filho dificilmente poderá vê-la na sua cidade e entender o fascínio do pai.
Luiz Camillo Osorio