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maio 11, 2007
Bienal do Mercosul em busca de novos rumos, por Suzana Velasco, O Globo
Bienal do Mercosul em busca de novos rumos
Matéria de Suzana Velasco, originalmente publicada no Segundo Caderno do Jornal O Globo, no dia 8 de maio de 2007
Sexta edição do evento será mais internacional e terá menos foco no curador, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro
Uma bienal mais internacional nos representados, mais enxuta no número de obras e menos centralizada no curador. Assim será a sexta Bienal do Mercosul, em cartaz de 1 º de setembro a 18 de novembro deste ano, em Porto Alegre. Pela primeira vez com um curador-geral de fora do Brasil, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro, a bienal trará 67 artistas, de 23 países. Desses, apenas sete são brasileiros. Buscando pluralidade, Pérez-Barreiro chamou cinco nomes para cuidar de mostras específicas, em vez de curadores por representações nacionais, além de um curador pedagógico, o uruguaio Luiz Camnitzer, uma novidade desta edição. Também pela primeira vez, a Bienal do Mercosul tem um projeto de residência e escolhas de obras feitas pelos próprios artistas.
- A maior internacionalização era um desejo, mas, para mim, teríamos que ficar num lugar intermediário entre uma grande bienal e uma restrita ao Mercosul - diz Pérez-Barreiro, curador de arte latino-americana do Museu de Arte Blanton da Universidade do Texas.
Pensando nesse lugar intermediário, o curador-geral trabalhou com a metáfora retirada do conto "A terceira margem do Rio", de Guimarães Rosa. Para ele, além de um espaço que não fosse nem fechado no Mercosul nem completamente internacional, para não desvirtuar a proposta, a bienal não deveria ser um lugar que limitasse a arte contemporânea a um só estilo. Essa idéia também norteou as diferentes mostras, que levam a bienal para rumos diversos.
Em vez de um artista homenageado, como tradicional, haverá três mostras monográficas. Os escolhidos unem propostas aparentemente contraditórias, criando a tal "terceira margem": o argentino Jorge Macchi, o uruguaio Francisco Matto e o brasileiro-sueco Öyvind Fahlström. Em "Conversas", o curador-geral e o uruguaio Alejandro Cesarco escolheram nove artistas e cada um selecionou outros dois - ou até elementos como um filme e uma arquibancada, como fez Fernando Lopez Lage - que se relacionassem à sua obra, possibilitando que o próprio artista criasse seu discurso curatorial. Depois disso, a curadoria escolheu um quarto nome para formar cada núcleo.
- Muitas bienais põem a arte contemporânea em apenas uma direção. A de São Paulo era uma bienal social. Queria unir um Waltercio Caldas e um artista político, por exemplo - diz Pérez-Barreiro. - A proposta é uma bienal menos espetáculo, sem a idéia de que arte contemporânea é parque de diversões.
Em "Zona franca", quatro curadores escolheram artistas livremente. Pérez-Barreiro selecionou, entre outros, artistas americanos, como Beth Campbell e Steve Roden, pensando justamente em sair do olhar categórico de que a arte atual dos Estados Unidos não existe. Já o brasileiro Moacir dos Anjos escolheu três artistas brasileiros e três estrangeiros, em trabalhos sobre identidade.
- A questão da terceira margem me atrai, a idéia do híbrido, do encontro com o outro. E a arte brasileira tem muito disso - afirma Moacir dos Anjos.
Mas talvez a mostra que mais simbolize a proposta desta bienal seja "Três fronteiras", em que o curador-geral e o paraguaio Ticio Escobar selecionaram quatro artistas para criar a partir de experiências na Tríplice Fronteira, que engloba Brasil, Argentina e Paraguai. Aníbal López (Guatemala), Daniel Bozhkov (Bulgária/EUA), Jaime Gili (Venezuela/Reino Unido) e Minerva Cuevas (México) foram, como diz Escobar, "lançados" numa região de intensas trocas econômicas e culturais.
- É a busca de lugares incertos, do espaço da diferença. Como o próprio lugar da arte, que é incerto em suas fronteiras - diz Escobar.
Nada contra a proposta da curadoria.Apenas penso que esta Bienal já deveria ter mudado sua denominação para Bienal Internacional de Porto Alegre,pois não existe mais nenhuma conexão entre este evento e o Mercosul.Chega a ser ridículo falar em Bienal do Mercosul...
Posted by: Stefano Giuliani at maio 19, 2007 9:32 PM