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março 30, 2007
"Quando colecionadores importantes se unem", por Dorothy Spears
"Quando colecionadores importantes se unem", matéria de Dorothy Spears, originalmente publicada no sítio do The New York Times em 28 de março de 2007
Enquanto museus estabelecidos se debatem com a queda na filantropia que há muito têm os ajudado a formar suas coleções, uma recente doação ao Museu de Arte de Dallas se destaca como um modelo de generosidade. A força motriz por trás dessa doação - uma contribuição conjunta de 900 obras de arte prometida por colecionadores locais, com valor estimado superior a 300 milhões de dólares é Jack Lane, o diretor do museu, que chegou à cidade com um histórico de formação de associações de apoio aos museus que tem dirigido.
No vernissage em fevereiro do "Fast Forward: Contemporary Collections for the Dallas Museum of Art" ("Uma Visão do Futuro: Coleções Contemporâneas para o Museu de Arte de Dallas"), os colecionadores Marguerite Hoffman, Cindy e Howard Rachofsky e Deedie Rose dirigiram-se a marchands e colecionadores americanos e europeus sobre suas promessas de doarem suas coleções, inclusive obras que vierem a comprar no futuro, ao museu. Todos os três mencionaram o contagiante amor pela arte do Sr. Lane, assim como sua liderança e suas conexões com o mundo da arte contemporânea, como estímulos para sua decisão.
"Se um diretor tem um interesse em especial", disse o Sr. Rachofsky em entrevista, "é ao redor disso que o financiamento gravita". O Sr. Lane "foi a cola", ele afirmou, "que nos estimulou a agir em conjunto".
O envolvimento do Sr. Lane com o museu, conhecido por sua coleção enciclopédica, começou na primavera de 1998, quando ele recebeu um telefonema da Srta. Rose, a trustee que encabeçava a busca por um novo diretor. A Sra. Rose estava familiarizada com as prévias atuações do Sr. Lane como diretor do Museu Carnegie de Pittisburgh e do Museu de Arte Moderna de San Francisco, no qual ele foi figura chave em momentos fundamentais de sua história. Ele percebeu a oportunidade que Dallas representava. "Algumas importantes coleções de arte contemporânea estavam sendo formadas lá", ele disse.
No entanto, embora sofisticados em seus gostos e aquisições, os colecionadores de Dallas tendiam a agir de forma independente. "Tenho colecionado de forma regular desde o final dos anos 1970", disse o Sr. Rachofsky. "Não necessariamente com um forte relacionamento com o museu, porque o Museu de Arte de Dalas não tinha um programa de arte contemporânea forte".
O Sr. Hoffman concorda, acrescentando que antes da chegada do Sr. Lane, o museu "conduzia uma política de colecionamento de arte contemporânea bastante difusa", e que "não havia um plano geral, e não havia fundos disponíveis. Nos faltava uma geração inteira de artistas".
O Sr. Lane, cujo currículo inclui um diploma do Williams College, um doutorado em história da arte de Harvard, um M.B.A. pela Universidade de Chicago e o serviço militar como tenente da marinha no Vietnã, chegou ao museu em fevereiro de 1999 e começou a angariar o apoio dos colecionadores de Dallas. Depois de comprar uma coleção completa de múltiplos de Gerhard Richter, por exemplo, o Sr. Lane supervisionou uma retrospectiva do trabalho do artista, exibindo 20 de suas pinturas emprestadas por colecionadores locais.
O Sr. Lane também apelou para o orgulho dos colecionadores, encorajando-os a examinarem a história de outros museus enciclopédicos como o Instituto de Arte de Chicago, cuja coleção extraordinária de pinturas Impressionistas e Pós-impressionistas, ele afirmou, foi possibilitada por doações feitas no final do século 19 e início do 20, quando "aqueles artistas ainda eram considerados contemporâneos". Se os colecionadores de Dallas seguissem esse exemplo, ele argumentou, o museu poderia um dia "ter o seu lugar entre os grandes museus".
Especulações sobre uma doação conjunta começaram no Ano-Novo de 2000, quando a Sra. Hoffman e seu marido, Robert (que faleceu em agosto), estavam dividindo uma garrafa de vinho com o Sr. Rachofsky e sua esposa, Cindy, num resort no vale de Napa. Para angariar apoio para um campanha de levantamento de fundos em honra do centenário do museu, em 2003, os Hoffmans sugeriram que ambos os casais fizessem uma promessa: se o objetivo da campanha fosse alcançado, eles fariam a doação irrevocável de suas coleções ao museu. Os Rachofskys não apenas concordaram, como ofereceram a inclusão de sua casa, projetada por Richard Méier. Os casais contataram a Sra. Rose e seu marido, Rusty, que adicionaram sua coleção ao desafio.
No final de 2004 a campanha não havia atingido seu objetivo. O Sr. Lane disse: "Precisamos agradecer nossos doadores e andar em frente. Então resolvemos dar uma festa". Vários dias antes do evento, em fevereiro de 2005, o Sr. Lane, que obviamente tinha dificuldades em aceitar a derrota, ligou para a Sra. Rose, que cuida da coleção do casal, e pediu-lhe que contatasse os Hoffmans sobre a possibilidade de doarem suas coleções de qualquer forma.
Os Hoffmans concordaram, desde que os Roses fizessem o mesmo. Quando os Roses aceitaram, os Hoffmans estenderam o pedido aos Rachofskys, que concordaram.
"Foi um momento realmente transformador", afirma o Sr. Lane. "E aconteceu de um dia para o outro". Bem, não exatamente. Tanto a Sra.. Hoffman quanto a Sra. Rose citam a decisão do Sr. Lane em 2002 de indicar Bonnie Pitman como representante da diretoria como uma de suas melhores decisões e um ingrediente fundamental para sua generosidade. "Os colecionadores querem suas coleções sendo vistas e admiradas", comenta a Sra. Hoffman.
"Quando a Sra. Pitman chegou", a Sra. Rose disse, "ela costumava dizer, 'é possível rolar uma bola de boliche no hall central e não acertar em ninguém', de tão poucas pessoas que freqüentavam o museu". A Sra. Pitman criou um programa com o objetivo de incrementar o engajamento do visitante com arte.
Sob sua supervisão, o número de visitações aumentou em 42%, com um surpreendente índice de 53% dos visitantes participando de programas educativos. "Entre a credibilidade do Jack no mundo da arte internacional, e a parceria entre ele e Bonnie", afirmou a Sra. Hoffman, "ele foi capaz de levar o museu a um patamar mais elevado de reconhecimento". Maiores índices de visitação inevitavelmente completaram o circuito necessário para que as doações se dessem.
As doações prometidas pelas famílias Hoffman, Rachofsky e Rose ampliarão em muito a coleção de arte contemporânea do museu. "Uma Visão do Futuro", uma exposição temporária de 143 das obras doadas, e visitas às casas dos colecionadores revelaram um conjunto rico em obras do minimalismo, da arte povera e da pintura alemã. Entre as obras incluem-se importantes peças de Ellsworth Kelly e Philip Guston, uma importante instalação de 1990 de Bruce Nauman mostrando uma cabeça giratória e um conjunto de pinturas de Mr. Richter e Sigmar Polke, em especial uma baseada num recorte de um jornal de Dallas.
"Estou verde de inveja", disse Neal Benezra, diretor do Museu de Arte de San Francisco, falando por telefone desde seu escritório. "É o sonho de todo diretor de museu, que todos os seus colecionadores se unam desta forma, voltada ao bem cívico".
A conquista do museu de Dallas torna-se especialmente notável dado ao significativo declínio filantrópico e ao disparo astronômico do preço de obras de arte, que juntos deixaram os museus americanos em apuros para manter a relevância de suas coleções. "Os museus de arte nos EUA são profundamente dependentes do apoio dos colecionadores locais e de seus trustees", disse Sir Nicholas Serota, diretor do Tate em Londres. Persuadir os colecionadores a "colocar as necessidades da comunidade acima de seus ganhos pessoais", ele disse, "pode ser uma tarefa espinhosa". Sob a liderança do Sr. Lane, os colecionadores de Dallas começaram a consultar uns aos outros antes de efetuar compras e a adquirir em conjunto obras para o museu. Como resultado de sua cooperação, eles têm adquirido obras de altíssimo nível.
"Os marchands têm sempre uma escolha", afirma Sir Nicholas, "Podem vender obras mais ou menos importantes, dependendo. Se sabem que um colecionador está comprando para um museu, então ficam mais predispostos a vender um trabalho do mais alto nível". E os fundos dos colecionadores são tipicamente mais maleáveis do que os fundos de aquisição de um museu, dando-lhe mais margem de manobra ao comprar trabalhos de artistas reconhecidos.
Barbara Gladstone, uma marchand de Manhattan, afirma que o poder de persuasão do Sr. Lane é um grande trunfo. "Quando ele chega numa comunidade", ela diz, "ele é capaz de convencê-la do valor de seu museu como parte de sua vida cultural".
Tradução de Renato Rezende