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março 15, 2007
Hola, que Tal?, por Manoela César
Hola, que Tal?
Matéria de Manoela César originalmente publicada no Caderno de TV do Jornal do Brasil em 11 de março de 2007
Primeiro canal de televisão voltado à integração da América Latina e brasileiro e tem estréia prevista para julho
A frase pode parecer clichê: "O Brasil está de costas para a América Latina". No entanto, lembrada pelo comunicador Gabriel Priolli, expressa uma condição real. Ao ligar a TV, aberta ou por assinatura, o brasileiro é tragado por uma infinidade de programas internacionais oriundos da Europa e dos Estados Unidos, mas poucos sabem do cotidiano cultural do Chile ou do Panamá, por exemplo. Preocupado com a falta de integração não só do Brasil com os seus países vizinhos, mas dos próprios hermanos, um grupo de comunicadores brasileiros idealizou a Televisão América Latina, ou simplesmente TAL.
Promessa de veicular a integração midiática no continente latino-americano, a Televisão América Latina surge no Brasil com a proposta de servir de rede para a exibição das produções independentes provenientes dos 21 países associados. No total, são 130 afiliados que lutam por uma televisão com diversidade estética e temática. Presidente e um dos idealizadores da TAL, o brasileiro Gabriel Priolli lembra que a inauguração da emissora estava prevista para 2004, mas foi adiada por três anos em função de dificuldades na negociação com operadoras de TV por assinatura. Depois de receber o apoio do Ministério da Cultura, a emissora será colocada no ar em julho.
Com sede em São Paulo, a TAL funcionará como uma rede de compartilhamento de conteúdo cultural sem fins lucrativos. "Mesmo no mundo hispânico, a troca cultural ainda é ínfima. Telenovelas e Chávez? Isso não é suficiente. Nossa cultura não é só indiozinho ou folclore, temos de difundir a contemporaneidade da América Latina, para aprimorar a formação de uma identidade", vislumbra.
A programação da TAL será cooperativada, isto é, formará um mosaico do que é produzido pelos canais, produtores e instituições associadas ao projeto. Além disso, contará com produtos próprios. A primeira produção do canal será o programa Os latino-americanos. Na série semanal, cada episódio apresentará um documentário sobre o cotidiano dos habitantes de cada país latino. Estão prontos longa-metragens sobre Argentina, México, Colômbia, Uruguai e Paraguai. Da aldeia Guarani, em Misiones, aos quatro mil metros de uma cantina italiana em Buenos Aires, nada é visto de forma superficial. "Os documentaristas procuraram entrevistar o maior número de habitantes dos países, das mais diferentes classes sociais, para garantir abordagens inusitadas. Não nos interessa a homogeneidade. Embora exista uma forte identidade comum, temos grandes diferenças e elas devem aparecer no canal", esclarece Gabriel.
Em princípio, a emissora trabalhará, prioritariamente, com documentários e programas culturais. "Estes dois formatos já apresentam uma grande variedade de linguagens."
A grande dificuldade enfrentada pela TAL, no entanto, é conseguir vencer os limites impostos pela TV aberta. Muitos países fazem restrições com canais falados em língua estrangeira e, por isso, a previsão é de que a TAL - falada em espanhol e português - ainda demore a chegar à TV aberta. "Nosso canal tem conteúdos em espanhol e em português, e isso ainda é um entrave", justifica Priolli.
Todos os canais que formam a rede têm direitos iguais e, ao firmarem acordo de compartilhamento de conteúdos, passam a ter acesso a programação disponibilizada pelos mais 130 associados. A TAL será financiada por comunicação institucional e participativa. "Não haverá publicidade convencional. Tudo o que vai ao ar, inclusive os comerciais, são de interesse público", explica Priolli. Minidocumentários patrocinados, com até dois minutos de duração, já foram criados para complementar a programação com assuntos de serviços e conhecimentos gerais. Do total de valores líquidos captados em cada país, um total de 70% formará um fundo de produção nacional que deverá cobrir os gastos de infra-estrutura. Os outros 30% serão usados para pagar custos com os programas bem como para o desenvolvimento de novos.
Confundida com a multiestatal TeleSur, criada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, a TAL, esclarece Priolli, não segue nenhuma linha política. Apesar disso, o presidente da emissora lembra que, em tempos de fortalecimento da união econômica e política latinas, uma emissora voltada exclusivamente para o compartilhamento cultural ê fundamental. "Não há integração política e econômica sem confiança. Não há confiança sem conhecimento democrático. A união na América Latina se estabelecerá, especialmente, pela troca intelectual. E Impulsionar este processo é nosso objetivo principal", salienta.