|
agosto 15, 2006
Em ano eleitoral, plano traça ações imediatas, por Fabio Cypriano
Em ano eleitoral, plano traça ações imediatas
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo, no dia 7 de agosto de 2006
Seguido ao anúncio de que o professor Teixeira Coelho assumiria o cargo de curador coordenador do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na última sexta-feira, a diretoria da instituição divulgou um "Plano Cultural" a ser implantado com "ações imediatas".
O escandaloso corte de energia, ocorrido em maio passado, decorrente da falta de pagamento das contas de luz, teve o mérito de tornar visível a crise do museu -e não apenas a financeira-, que há anos perdeu a importância cultural na cidade por ausência de profissionais qualificados para criar a programação do Masp.
Mesmo assim, a atual diretoria, com o arquiteto Júlio Neves à frente, não manifestou o desejo de alterar a rota que vinha seguindo. Durante o anúncio do restabelecimento da energia e do plano de pagamento, em maio passado, por exemplo, a diretoria do museu, por meio da responsável pela programação, a colecionadora Beatriz Pimenta Camargo, reafirmou que o Masp continuaria a organizar mostras a partir de sua coleção sem procurar vínculos com a produção contemporânea, produção esta que deveria ser objeto da ação de outros museus e da Bienal de São Paulo.
No plano anunciado na última quinta, contudo, há uma significativa alteração nos princípios da direção do museu. Entre as atividades básicas propostas estão a "maior abertura de seu acervo também para a contemporaneidade e mostras de arte com novas tecnologias de expressão e comunicação", a "premiação anual do Masp destinada a jovens artistas", "ações de apoio à arte brasileira" e a "utilização do vão livre para mostras de arte".
Graças ao corte de fornecimento de energia, a pressão pela profissionalização deixou de pertencer apenas a figuras externas ao museu, mas seus próprios conselheiros, especialmente os empossados recentemente, passaram a exigir medidas que dessem novos rumos ao Masp. Numa dessas reuniões, foi pedida até a renúncia de seu presidente.
Em outubro próximo, quando Neves irá alcançar 12 anos à frente do museu, o Masp passará por novas eleições. O "Plano Cultural" aponta para uma nova fase da instituição, que, na prática, significa a retomada de uma ação comum durante a gestão -que durou quase 40 anos (1947-1996)- de Pietro Maria Bardi: um comando curatorial forte, o que Teixeira Coelho pode e sabe fazer, e um diálogo com a produção de arte contemporânea, o que pode injetar vida ao museu.
Entretanto, lançar um plano três meses antes das eleições, após uma gestão de 12 anos e sob críticas generalizadas, soa como estratégia para manter a atual direção no museu. Não há dúvida de que, estruturalmente, a atual gestão capacitou o museu a manter e expor seu acervo dignamente, apesar de alterar drasticamente o projeto de exibição de Lina Bo Bardi, um dos primeiros desafios do novo curador. Irá ele manter as paredes que desconfiguraram a arquitetura original de Lina ou se submeterá ao tecnicismo característico dos últimos anos de gestão? Se conseguir devolver ao museu seu espírito original, o curador poderá mostrar que o "Plano Cultural" não é mero projeto eleitoral.