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agosto 11, 2006
Em busca de novas geografias, por Eduardo Veras
Em busca de novas geografias
Matéria de Eduardo Veras, originalmente publicado no Jornal Zero Hora, no dia 5 de agosto de 2006
Novo curador da Bienal descarta seleção por países e aposta na internacionalização da mostra
Começam a se definir os contornos da próxima Bienal do Mercosul, prevista para se realizar entre setembro e novembro de 2007. A exposição, já reconhecida como uma das maiores e mais importantes do mundo, deve passar por uma série de transformações - tanto no conceito quanto na forma.
Em sua sexta edição, a Bienal não vai se basear em um tema, mas em uma metáfora, a da "terceira margem do rio", pinçada do conto homônimo de João Guimarães Rosa. Terá artistas no papel de curadores e terá um artista a frente do programa educativo. Vai abolir a tradicional seleção por países - em que curadores das nações participantes apontam os artistas que irão representá-las - e vai assumir um modelo mais livre, acima das "geografias políticas". Na prática, artistas de qualquer nacionalidade poderão ser chamados a participar da mostra, desde que examinados a partir das seguintes questões: "O que é uma geografia cultural?", "O que separa o global e o local?", "Quais as fronteiras possíveis?".
É mais ou menos isso que o novo curador da Bienal do Mercosul deve apresentar em Porto Alegre na próxima segunda-feira, em reunião com o Conselho Administrativo da Fundação Bienal. Gabriel Pérez-Barreiro desembarca amanhã na Capital, mas, por telefone, desde a cidade norte-americana de Austin, no Texas, antecipou para ZH as linhas de seu projeto.
- Estamos pensando não em uma Bienal do Mercosul, mas uma Bienal desde o Mercosul - enfatizou. - Você tem o elemento que é local, que é regional, mas você olha para o resto do mundo. Como é o mundo desde o Mercosul?
Espanhol de nascimento, filho de um casal de tradutores, o curador de apenas 36 anos é doutor em História e Teoria da Arte pela Universidade de Essex, com tese sobre o construtivismo na Argentina - em especial, o chamado Movimento Madí, na segunda metade dos anos 1940.
Atualmente, Pérez-Barreiro vive em Austin, onde responde pela coleção de arte latino-americana do Blanton Museum. Ele esteve no ano passado em Porto Alegre, a convite da Fundação Iberê Camargo (o Blanton é o único museu norte-americano que tem um Iberê no acervo).
Na ocasião, o curador chamou atenção pelo tom não-dogmático de sua fala. Duvidou das separações entre a arte da América Latina e a arte dos Estados Unidos, criticou a febre das curadorias e as grandes exposições temáticas. Advertiu, sobretudo, para os riscos de fazer da arte mera ilustração para as teorias.
Este ano, Pérez-Barreiro cruzou por acaso, em Buenos Aires, com o presidente da Fundação Bienal do Mercosul, Justo Werlang. Os dois passaram a discutir modelos possíveis para a Bienal do Mercosul. Logo consolidou-se o convite.
Ainda em agosto, Pérez-Barreiro deve anunciar sua equipe de curadores.
O que planeja Grabriel Pérez Barreiro
1 - Artistas internacionais serão convidados a visitar regiões de fronteira no Rio Grande do Sul. Poderão fazer intervenções no local, ou, a partir das experiências, fazer exposições em Porto Alegre.
2 - A 6ª Bienal do Mercosul terá duas exposições monográficas em torno de dois artistas ainda a serem definidos: um de perfil contemporâneo e outro já "histórico" (não necessariamente brasileiros).
3 - No módulo Conversas, os curadores escolhem oito artistas e perguntam a eles que outros artistas dialogam com seus trabalhos. Em cada sala, fica um artista e seus três convidados.
4 - Na exposição Zona Franca, quatro curadores apontam os melhores trabalhos que viram nos últimos cinco anos em qualquer país. Não há temática. O único critério é a qualidade.