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março 16, 2006
Portaria ameaça mudar tudo no ensino de Artes, do JB Online
Portaria ameaça mudar tudo no ensino de Artes
Matéria originalmente publicada no JB Online, no dia 15 março de 2006
Estudantes e professores fazem seu protesto com fantasias e cenários
A praça em frente ao Palácio do Buriti, no Eixo Monumental, foi tomada na manhã de ontem pelo protesto de cerca 150 estudantes e professores do Ensino Fundamental e Médio. Eles estão inconformados com as novas normas para o ensino de Arte nas escolas públicas do Distrito Federal, estabelecidas pelo artigo 53, da Portaria nº 30, publicada em fevereiro deste ano pela Secretaria de Educação.
Segundo as modificações, os alunos não poderão mais optar entre as aulas de artes visuais, cênicas e música, como era feito até o ano passado. Essa disciplinas terão de ser ministradas juntas e por um único professor. Eles, consequentemente, ficam proibidos de dividir as turmas conforme o interesse dos estudantes.
O ensino, analisam os mestres, ficará muito prejudicado se todos os alunos de uma mesma classe tivessem de assistir às aulas juntos.
O conteúdo de Artes Visuais, Cênicas e Música precisa ser trabalhado como qualquer outra disciplina, pois assim como Português e Matemática, também é pré-requisito para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e o vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Este é um dos argumentos do professor de artes plásticas Oziel Primo Araújo, presente na manifestação.
- A Secretaria não pode fazer com que um apenas um professor aborde as três vertentes da arte como se fossem a mesma coisa. São, na verdade, estudos muito particulares e diferentes entre si, todos essenciais à formação cultural do aluno - explicou.
Uma abaixo-assinado com mais de 1.500 assinaturas foi entregue por uma comissão ao chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Corindo Miranda Júnior, que se comprometeu a entregar o documento à secretária. Segundo um dos integrantes da comissão, professor José Eduardo, Corinto adiantou que toda portaria pode ser revisada depois que forem analisadas as reivindicações da população, mas não confirmou se alguma mudança ocorrerá de fato.
- Por enquanto, ficamos sem saber o que vai acontecer - disse José Eduardo.
Para a deputada Érica Kokay, que também fez parte da comissão de professores, a portaria é uma forma de desvalorizar a educação artística, prejudica o aluno e ignora todo o trabalho feito na escola.
- A comunidade das escolas públicas representa um público que não tem tanto acesso à cultura e às artes como acontece em colégios particulares. Foi desrespeitado o valor da arte, importante para a construção de cidadania e para ampliar a visão das pessoas - avaliou.
Segundo Rosimeire Gonçalves, vice-presidente da Associação de Arte e Educação do DF, o trabalho dos professores com os alunos está sendo interrompido. Muitos são obrigados a transferir de escola porque não tiveram o trabalho valorizado.
- Estamos sendo vistos pela secretaria com excedente - reclamou..
A manifestação acabou antes do meio-dia, mas os alunos usaram toda a criatividade aprendida dentro das salas de aula. Pintaram os rostos, cartazes e roupas. Alguns estavam fantasiados. Chegaram a parar, por cerca de cinco minutos, o trânsito em frente ao Palácio do Buriti. (C.M.)