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janeiro 6, 2006
Artistas defendem Gullar de críticas do MinC, da Folha de S.Paulo
Artistas defendem Gullar de críticas do MinC
Matéria originalmente publicada na Folha Online, do dia 3 de janeiro de 2006
Um abaixo-assinado de apoio ao poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar foi encaminhado na última sexta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ministro da Cultura, Gilberto Gil. O documento é um protesto contra a carta do secretário de Políticas Públicas do ministério, Sérgio Sá Leitão, publicada no dia 24 de dezembro na Folha.
"Nós abaixo assinados vimos explicitar nosso repúdio pela forma como um funcionário do alto escalão do Ministério da Cultura trata um dos maiores intelectuais vivos deste país, o poeta Ferreira Gullar", afirma o texto, assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o produtor Luiz Carlos Barreto, o cineasta Zelito Viana e outros 27 artistas. As assinaturas continuam sendo coletadas e serão enviadas a Brasília.
Em sua carta, Sá Leitão criticou frases ditas por Gullar na Sabatina Folha realizada no dia 21 . Sobre a gestão de Gil, o poeta afirmou à platéia: "Ouço reclamações de diferentes áreas de que [ele] não está cumprindo bem seu papel." E ainda disse: "Houve centralização que não sei se continua."
Na carta, Sá Leitão escreveu: "(...) Não deixa de ser curioso um comunista criticar algo ou alguém por uma suposta "centralização". A "centralização" não era a marca registrada dos finados regimes stalinistas dos quais Gullar foi e segue sendo um defensor?".
"O que Gullar observou [sobre Gil] foi muito singelo para ser alvo de uma patada como essa", criticou o cineasta José Joffily, uma das assinaturas do documento. "Quem está no poder precisa medir suas palavras. Gullar é um homem que trouxe, traz e trará muitas contribuições ao país. Não dá para um menino vir com tanta agressividade e estupidez", disse.
Ontem, Sá Leitão disse que sua carta não foi uma iniciativa pessoal, mas do ministério. E encaminhou e-mail dando sua versão do caso. "Ferreira Gullar deu o comando, e o que era um exercício público de liberdade de expressão tornou-se o pretexto para uma perseguição política que remonta aos piores momentos do stalinismo, mesclando o totalitarismo do partidão ao oportunismo de ex-privilegiados do cinema", afirma.
"Por fim, deixo uma pergunta: por que a crítica de Gullar é um gesto democrático, e a crítica a Gullar, um ato de autoritarismo?", escreve ele, referindo-se a um trecho do abaixo-assinado: "(...) Com manifestações desta natureza estamos voltando aos obscuros tempos da ditadura, onde tentavam nos proibir até mesmo de pensar".
O trecho é um apoio à resposta que Gullar deu, no dia 24, no "Painel do Leitor", à carta de Sá Leitão, quando afirmou que "parece escrita pelo antigo SNI [Serviço Nacional de Informações]".
Comentário de Ferreira Gullar sobre o Governo Lula e a gestão do Minsitro Gilberto Gil, originalmente publicada na Folha online, no dia 21 de dezembro de 2005
Gullar, que já foi presidente da Funarte, demonstrou insatisfação com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não votei nele. Há muito tempo eu já não acreditava que o PT seria capaz de governar o Brasil atendendo aos desejos da população." Entre as decisões do partido que o poeta julga equivocadas estão a oposição à Lei de Responsabilidade Fiscal, o Fundef e o acordo de não proliferação de armas nucleares. "[Esse governo] é uma empulhação."
Sobre o ministro da Cultura, Gilberto Gil, Gullar afirmou que tem ouvido muitas reclamações. "Artistas de diferentes áreas dizem que o ministro não tem cumprido o seu papel. Dizem que os projetos não vão adiante, que as solicitações não têm andamento."
Para ele, a função do governo é apenas dar suporte às artes, não direcioná-la. "Quem cria arte é o povo, não o governo. [O governo] tem de criar condições para os artistas, não orientá-los [como vem acontecendo]", afirmou o poeta, que já teve uma produção literária de conteúdo político.