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outubro 13, 2005
Walkman gera polêmica na Casa das Rosas, por Fabio Cypriano
Walkman gera polêmica na Casa das Rosas
Matéria de Fabio Cypriano, originalmente publicada na Folha de São Paulo do dia 13 de outubro de 2005
Local que abrigava mostras de artes sedia exposição de patrocinador; secretário apura caso
Transformada em espaço de leitura no ano passado, após protestos por ter sido fechada como local de exposição de artes plásticas, a Casa das Rosas, na Paulista, volta a abrigar mostras. Agora, entretanto, como espaço voltado para sua patrocinadora, a Sony, segundo material de divulgação, distribuído pela internet anteontem.
No próximo dia 20, será inaugurada "Walkman - A Evolução da Música Portátil", que irá apresentar modelos do equipamento, desde o protótipo criado há 26 anos, todos da marca que detém os direitos da marca Walkman. A exposição fica em cartaz um mês.
"Isso é usurpação do espaço público pela iniciativa privada. Um mês é um absurdo. É preciso um certo equilíbrio por parte dessas ações de marketing, senão pega mal, fica uma ação muito violenta de merchandising. Coitado do Haroldo de Campos", diz o artista plástico José Roberto Aguilar, que foi diretor da Casa das Rosas entre 1 995 e 2002, quando o local foi fechado. Atualmente, é representante do Ministério da Cultura em São Paulo.
Reaberta como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em dezembro do ano passado, a Casa das Rosas abriga a biblioteca do poeta concreto, morto há dois anos. O local é administrado por uma organização social, a Abaçai Cultura e Arte, dentro da ação de terceirização dos equipamentos culturais, iniciada pela ação da ex-secretária de Cultura, Cláudia Costin, e tem patrocínio da Sony.
"A Sony então é a dona, ela pode fazer o que quiser. O governo do Estado estava leiloando a Casa das Rosas. Primeiro, tentaram o grupo Takano. Ficou a Sony", ironiza Aguilar. "Desde que o espaço teve sua função alterada, fico muito triste quando falo do assunto."
Já a artista plástica Dora Longo Bahia é lacônica. "Isso não se comenta, se lamenta."
Excessos
"Vou verificar se houve algum exagero na exposição para tomar medidas cabíveis", disse o secretário estadual d a Cultura, João Batista de Andrade, à Folha, anteontem, por telefone, do Rio, onde lançava sua nova produção, "Vlado - 30 Anos Depois".
Andrade mostrou-se surpreso com o caráter da mostra. "É fundamental ter o apoio da Sony, mas a exposição foi organizada junto com o diretor da Casa das Rosas [Frederico Barbosa] para traçar um panorama da música popular brasileira nos últimos anos, com a preocupação de apresentar as letras das músicas, já que se trata de uma casa de leitura. Tivemos a preocupação de fazer algo que não fosse invasivo", afirma. No material de divulgação, entretanto, não há menção a letras de música e o objetivo da exposição é apresentado como "levar ao público em geral a oportunidade de conhecer de perto a evolução da música portátil e da tecnologia".
O secretário está insatisfeito em como a Abaçai administra o local. "O contrato de gestão foi assinado na gestão anterior. Estou estudando uma nova forma de gestão, que junte a Casa das Rosas a projetos semel hantes. A Abaçai cuida de outros tipos de iniciativa, como o Revelando São Paulo. Já tenho um estudo para acertar isso."
Defesa
O diretor Frederico Barbosa defende a mostra de walkman. "Desde que foi reinaugurada, a Casa das Rosas recebeu um apoio fundamental da Sony. É importante fazer o elogio a uma empresa privada que aloca recursos em um espaço público."
Entretanto, Barbosa não revelou o valor do patrocínio: "Não sei se sou autorizado a divulgar".
Ontem, a reportagem tentou localizar representantes da Sony para comentar a exposição, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.