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julho 14, 2005

Estréia discordante no Sérgio Porto, por Ana Wambier

Proposta de um trabalho de mídia tática: Com a participação da coletividade - enviando emeios para os jornalistas, comentando as matérias publicadas, ou a ausência delas, em jornais e revistas, com cópia, dos emeios e matérias, para o Canal Contemporâneo, pretendemos ampliar o debate sobre política cultural e a visibilidade para a arte contemporânea brasileira nas mídias convencionais.

Estréia discordante no Sérgio Porto

Matéria de Ana Wambier publicada originalmente no jornal O Globo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

As galerias de arte do Espaço Cultural Sérgio Porto, agora sob o comando do nova-iorquino Luís Cancel, foram reabertas esta semana com a exposição Chino/Latino. A primeira das seis mostras que ocuparão o espaço até janeiro do ano que vem é composta por obras do brasileiro Chico Cunha e do porto-riquenho Miguel Trelles.

No início do ano, a nomeação de Luís Cancel para o cargo de curadoria das galerias do espaço causou uma crise no meio das artes plásticas. Sua indicação produziu a saída da artista plástica Anna Bella Geiger e do crítico de arte Fernando Cocchiarale, que estavam justamente na função de curadores das galerias. A troca de nomes por parte da Secretaria das Culturas aconteceu sem maiores explicações. Ambos (Anna e Cocchiarale) haviam sido convidados para o trabalho pela então diretora da Divisão de Artes Visuais da RioArte, Cláudia Saldanha, que, em junho, pediu demissão do cargo.

Paisagem é a temática que predomina nas obras

A exposição Chino/Latino ocupa os dois andares do espaço e tem a intenção de promover um diálogo entre as obras de Chico Cunha e Miguel Trelles.

- O trabalho dos dois tem temas muito próximos. Achei pertinente esse intercâmbio. Embora bastante diferentes entre si visualmente, o trabalho dos dois passa por uma temática semelhante. São dois caminhos paralelos que passam pela mesma direção mas com vocabulários diferentes e particulares - explicou Luís Cancel.

As dez telas de Miguel Trelles e as seis de Chico Cunha (todas essas pertencentes a uma série que o pintor fez na década de 90) tratam de temas relativos a paisagens e são inspiradas, em certos aspectos, numa visão espacial própria da pintura chinesa, que abandona a idéia de perspectiva ocidental.

Os trabalhos de Trelles são, em geral, muito brilhantes e coloridos. Suas pinturas usam tinta acrílica, óleo, nanquim e até mesmo carvão. Já as obras de Chico são mais translúcidas graças à técnica encáustica (espécie de preparado de cera misturado a pigmentos) utilizada nas telas. As paisagens geográficas são também criadas com instrumentos próprios da xilogravura. Todas as obras de Chico expostas na galeria pertencem a coleções particulares ou a acervos de museus, como o MAC de Niterói.

Para a exposição no Sérgio Porto, Trelles preparou uma tela ("Parabéns Guajiro a Cunha") especialmente para fazer um contraponto com seu par, Chico Cunha.

- Pintei-a em menos de três semanas para fazer parte da mostra. Não conhecia a obra de Chico e fiquei encantado - explicou.

Tanto Chico Cunha como Miguel Trelles foram convidados por Cancel mesmo estando à parte do processo de seleção pelo qual passaram os outros artistas: eles não enviaram portfólios para a instituição.

- Na maior parte respeitei o processo. Todos os outros artistas que vão expor ao longo do ano enviaram portfólios. Mas o curador sempre tem a opção de convidar artistas que julga apropriados. Achei relevante e interessante para os moradores do Rio conhecerem o trabalho particular de paisagem dos dois pintores.

Os artistas plásticos que ficaram revoltados com o processo de seleção de Cancel ainda pensam em produzir um abaixo-assinado.

- Eu acho essa exposição de abertura um equívoco curatorial. A proposta do Sérgio Porto sempre foi mostrar a produção atual, recente. Não é uma proposta museológica. A partir do momento em que se expõem trabalhos feitos há mais de dez anos e que pertencem a coleções particulares, a exposição foge do seu caráter primordial, que é mostrar obras inéditas, com frescor - defendeu a artista plástica Ana Holck.

Posted by João Domingues at 11:22 AM