|
julho 3, 2005
Confusão no Sérgio Porto provoca desligamento de diretora do RioArte por Ana Wambier
Confusão no Sérgio Porto provoca desligamento de diretora do RioArte
Matéria de Ana Wambier publicada originalmente no jornal O Globo, sábado, 1º de julho de 2005
Em meio à crise das galerias do Espaço Cultural Sérgio Porto, a diretora da Divisão de Artes Visuais do RioArte, Cláudia Saldanha, responsável por coordenar o processo de seleção dos artistas plásticos que lá expõem, pediu demissão do cargo. A causa do desligamento, explicou, foi a descontinuidade no trabalho de curadoria que vinha elaborando ao lado de Anna Bella Geiger e Fernando Cocchiarale.
O cancelamento das decisões tomadas pelo trio foi provocado por Luís Cancel, nomemeado para o cargo de curador do Sérgio Porto pelo secretário das Culturas, Ricardo Macieira. No comando da seleção, Cancel invalidou a escolha do júri anterior e definiu a sua própria.
Na carta de desligamento que Cláudia Saldanha diz ter enviado ao presidente do RioArte há mais de 15 dias, ela afirma ter ficado insustentável permanecer no posto, uma vez que estaria corroborando com práticas que julgou desrespeitosas.
Não me identifico com a atual curadoria. Eu me senti desrespeitada e achei que a atitude foi também um grande desrespeito com os curadores Anna Bella Geiger e Fernando Cocchiarale, e com os artistas que já haviam sido selecionados disse Cláudia Saldanha.
Cancel se explica em carta na internet
O novo curador das galerias, Luís Cancel, fez divulgar na internert uma carta em que justificava a razão de ter rejeitado a seleção de Anna Bella, Fernando e Cláudia.
Neste documento, Cancel diz: "Após ter aceito o convite do secretário, fui então ao RioArte para conhecer a Sra. Claudia Saldanha, que me informou haver feito uma revisão dos portfólios enviados à instituição com Anna Bella e Fernando, mas também me informou que esta seleção não era oficial e que a listagem dos escolhidos ainda não havia sido divulgada".
Eu nunca disse que a seleção que eu tinha feito com Anna e Fernando não era oficial. O fato de convidar essas duas pessoas com a importância delas já mostra que eu não estava simplesmente revisando as obras enviadas pelos artistas disse Cláudia Saldanha, que em resposta, decidiu também escrever uma carta que tornou pública no site do Canal Contemporâneo.
Não conheço a Claudia Saldanha mas sua atitude em relação ao episodio "faz,desfaz" das galerias do Sérgio Porto me causou boa impressão.Sobretudo agora, diante da tempestade de entulhos que se despeja sobre o congresso nacional,governo e partidos.É fato notorio de que no Brasil ninguem abre mão dos cargos publicos.Isso só acontece em caso de morte ou exposição politica "mortifera"de proximidade com o Rei,ou manobras de coligação partidaria.A tradição brasileira é solida na pratica de entronamento vitalicio nas esferas municipal,estadual e federal.Engulindo-se os sapos e crocodilos que a pratica exige muitos sobrevivem longamente na burocracia.Essa manha secular leva algumas pessoas a aventar que sua qualificação administrativa os tornou comandantes de um setor produtivo autonomo como a cultura, pelo fato de estarem pendurados em cargos publicos ha um longo tempo.Esse conceito é oriundo de uma avaliação celestial,digamos assim,ja que o tempo por si só não confere paradigmas concretos de avaliação dos atos politicos.As tiranias podem imperar por muito tempo.
O fato que levou Claudia a fazer o que fez , sustentando seu compromisso com os curadores que selecionavam os artistas para as galerias me parece relevante.
Tambem não conheço o Luis Cancel,porém,os motivos que o levaram a desconsiderar a seleção anterior me pareceram pueris.Se a seleção que ele recebeu tinha carater "oficial" ou não é irrelevante por que o que estava em questão era a comunicação extra-oficial que ja havia chegado aos artistas anteriormente selecionados.Com a experiencia que o curriculo dele apresenta deveria saber que os fatos antecedem sua oficialização,sobretudo nesse ambiente carregado de ansiedades.Ele poderia até alegar que para cumprir os critérios de qualidade que pretende marcar sua atividade de curador ele não se submeteria a uma seleção de artistas da qual não tenha participado.Essa seria uma atitude antipatica,porém,uma justa alegação.Mas esse presuposto que exigiria que o Cancel tivesse um pouco mais de trabalho explicitando seus presupostos.Doa a quem doer!Ele tem uma carreira profissional realizada em um país onde o "paternalismo" não é um metodo de avaliação consagrado.Se ele tem alguma contribuição a transmitir para os modelos de gestão institucional que o faça integralmente,opondo-se tecnicamente aos critérios de seleção dos curadores que o antecederam.Esse debate,aberto e publico é que seria um ingrediente estimulante contra a permanencia das "panelinhas" que o Secretario das Culturas confessa odiar.