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abril 28, 2005
Cartas ao Sistema de Arte por Ana Amorim
Post retirado a pedido da artista Ana Amorim. Clique aqui para ler o original "Carta ao MAM sobre o Roberto Marinho" no blog da artista.
Condição da artista para que o post continue no ar:
Com base em seu contrato de arte a Artista Impossível requisitou que todos os seus posts fossem retirados do Canal Contemporâneo a partir do momento que aceitamos o patrocínio da Petrobrás. A Artista Impossível não aceita que seu trabalho esteja associado a uma empresa que considera "ter um papel imperialista e políticas que vão contra tudo que artista defende em sua vida-arte". O Canal por sua vez, requisitou que a artista mantivesse os posts por que estes fazem parte do debate construído no período e também pela impossibilidade de removê-los completamente da internet. A artista aceitou mantê-los, mas registra aqui a sua total oposição a inserção da Petrobrás como mediadora das artes e da cultura do nosso país.
Troca de cartas entre a Artista Impossível e o Canal Contemporâneo:
Cara Patricia Canneti,
Desculpe não ter respondido antes Patrícia, mas viajei quase ininterruptamente nos últimos meses, fazendo as performances da Transcomunicadora. Estou escrevendo em resposta à sua email sobre a renovação da assinatura do Canal que venceu no dia 11 de Novembro e que você generosamente tem mantido desde então, mesmo sem ainda ter recebido pagamento.
Após ter recebido o Canal Contemporâneo de 24 de outubro onde o logo da Petrobrás foi usado pela primeira vez decidi, tendo em vista o meu Contrato de Arte, que iria interromper a minha assinatura e gostaria de lhe pedir que as minhas duas cartas publicadas pelo canal: Carta ao MAM sobre o Roberto Marinho - do Blog Como atiçar a Brasa e Carta ao Gilberto Dimenstein sobre a Nike - do Blog do Canal sejam retiradas do canal, assim como quaisquer outras cartas que possam ter sido publicadas em seu sítio.
Esta carta, na verdade da prosseguimento à nossa correspondência iniciada no início do ano passado sobre o Patrocínio da Petrobrás.
No anúncio em questão o logo da Petrobrás é apresentado juntamente com fotografia do Glauber, e de outras eventos artísticos, e diz:
A Cultura é a maior riqueza de um povo.
Petrobrás a maior patrocinadora de cultura do país.
Se encararmos esse anúncio como uma equação, nele a Petrobrás se torna a maior patrocinadora da maior riqueza do povo desse país. Como artista e como pessoa me recuso a aceitar essa equação, por muitas razões, mas principal e fundamentalmente por não acreditar que a cultura e a arte possam ser mediadas pelo capital, sem que haja uma perda na construção da mesma.
A Petrobrás é uma empresa semi-privatizada que tem um papel imperialista e predatório na América do Sul e não aceito de forma alguma ter qualquer trabalho meu associado direta ou indiretamente a essa empresa.
De qualquer maneira lhe desejo todo sucesso em seus empreendimentos.
Um abraço,
Ana Amorim
América Latina: realineación política e império - James Petras
Vendas das Ações da Petrobrás - Associação dos Engenheiros da Petrobrás - AEPET
Ultimato à Petrobrás - Léo de Almeida Neves
Cara Ana,
Acho que a decisão de tirar as suas cartas do Canal Contemporâneo não fazem muito sentido, já que elas foram publicadas quando ainda não tínhamos a Petrobras como patrocinador. Acho que o seu Contrato de Arte, como todo contrato, não vigora retroativamente. Sendo assim, acho que deveríamos respeitar o tempo e o processo de nossos trabalhos e deixar as suas cartas como testemunho desta época em que o Canal Contemporâneo e a Artista Impossível eram compatíveis.
Quanto a perda que você coloca :
"Se encararmos esse anúncio como uma equação, nele a Petrobrás se torna a maior patrocinadora da maior riqueza do povo desse país. Como artista e como pessoa me recuso a aceitar essa equação, por muitas razões, mas principal e fundamentalmente por não acreditar que a cultura e a arte possam ser mediadas pelo capital, sem que haja uma perda na construção da mesma."
Acredito que ela é inerente ao mundo do possível, aonde negociamos os interesses das partes envolvidas para viabilizar as ações. E como sempre, ganha-se de um lado e perde-se de outro. Construímos a História da Arte negociando estes interesses, a cada momento com um novo representante do poder e do capital - igreja, monarquias, repúblicas, mecenas, colecionadores, patrocinadores, intermediários vários - designado pela história paralela da humanidade...
Sempre te disse que nossos trabalhos são opostos e complementares. O Canal Contemporâneo busca a transformação a partir do possível e acredito que tratar um patrocinador como membro de nosso sistema e, portanto, integrante de nossa comunidade, pode resultar em novas visibilidades e mudanças.
Um abraço,
Patricia Canetti
Ola Patrícia,
Voce se importa que eu publique a sua resposta no meu weblog?
A questão das cartas que já foram publicadas não é retroativa na medida em que, quando alguém "hoje" acessa o Canal Contemporâneo, encontra o meu material publicado sob o patrocínio da Petrobrás - sob o logo da Petrobrás, isso para mim é inaceitável e vai contra o que o contrato de arte determina! Porisso volto a insistir em que todas as publicações que incluam o meu trabalho que são: o Contrato de Arte, o meu Currículo, e as duas cartas já mencionadas, sejam removidos do seu site.
Exatamente por que o seu trabalho e o meu são parte de um mesmo universo maior de reflexão é que considero fundamental que todo o meu material seja removido do seu site a partir do momento em que este passou a apresentar o logo da Petrobrás.
Agradeço a sua compreenção.
Um abraço,
Ana Amorim
Oi Ana,
Quanto a permissão para publicar a nossa correspondência no seu blog, ela está dada, mas gostaria de poder fazer o mesmo nos posts que ficarão vazios com a retirada de suas cartas. Não posso eliminá-los por completo, porque os linques estão vivos passeando pela internet e um dos posts ainda foi comentado por várias pessoas. Portanto, vamos priorizar o respeito às características de rede e interatividade de nossos trabalhos.
Em relação ao seu trabalho publicado nos e-nformes, é impossível mexer neles, já que o banco de e-nformes guarda o histórico original de todos os e-nformes publicados pelo Canal.
Espero que você compreenda a IMPOSSIBILIDADE de TODO o seu material ser retirado do Canal Contemporâneo.
Abraço,
Patricia Canetti
Ola Patrícia,
Tendo em conta a IMPOSSIBILIDADE de que TODO o meu material seja retirado do Canal Contemporâneo como você afirma, para que esse material continue no seu site eu necessito que a seguinte nota seja adicionada a cada um dos posts:
Com base em seu contrato de arte a Artista Impossível requisitou que todos os seus posts fossem retirados do Canal Contemporâneo a partir do momento que aceitamos o patrocínio da Petrobrás. A Artista Impossível não aceita que seu trabalho esteja associado a esta empresa semi-privatizada cujo papel imperialista e políticas vão contra tudo que artista defende em sua vida-arte. O Canal por sua vez, requisitou que a artista mantivesse os posts por que fazem parte do debate construído no período e pela impossibilidade de removê-los completamente da internet. A artista aceitou mantê-los, mas registra aqui a sua total oposição a inserção da Petrobrás com mediadora das artes e da cultura do nosso país.
Sem essa nota eu não posso aceitar que o canal mantenha os meus posts por que estaria violando o meu contrato e um compromisso artístico de mais de 15 anos, que tem sido respeitado por curadores e instituições independentemente das dificuldades que possa ter lhes causado, e acredite, não foram poucas.
Aguardo a sua resposta.
Ana Amorim