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janeiro 10, 2005
O lugar dos museus na agenda política
Texto de José do Nascimento Júnior e Mário Chagas, originalmente publicada no Caderno B do Jornal do Brasil do dia 15 de setembro de 2004.
O lugar dos museus na agenda política
José do Nascimento Júnior e Mário Chagas
Observa-se na contemporaneidade um interesse crescente de antropólogos, sociólogos, filósofos, historiadores, educadores e museólogos pelo denominado campo museal. Na esteira desse interesse os museus passaram a ser percebidos como práticas sociais que se desenvolvem no presente, como centros envolvidos com a criação, comunicação, produção de conhecimentos e preservação de bens e manifestações culturais. Por isso, o interesse político nesse território simbólico também está em expansão.
Não há dúvida de que os museus conquistaram notável centralidade no panorama político e cultural do mundo contemporâneo. Também não há dúvida de que eles deixaram de ser compreendidos, por setores da política e da intelectualidade brasileira, apenas como casas onde se guardam relíquias de um certo passado ou, na melhor das hipóteses, como lugares de interesse secundário do ponto de vista sociocultural.
É possível supor que os museus estão conquistando um novo lugar na vida brasileira. Uma das evidências encontra-se na reformulação das agendas de política cultural de alguns candidatos a prefeito de metrópoles. Nesse sentido, o caso da cidade do Rio de Janeiro é paradigmático.
Os debates entre os candidatos a prefeito do Rio contemplam com destaque, por exemplo, a polêmica em torno do Museu Guggenheim, que mobilizou forças culturais convergentes e divergentes. Recentemente, convidados pelo jornalista Ruy Castro a pensar sobre o Rio do Futuro (JB, 03/09), os candidatos Cesar Maia (PFL), Jandira Feghali (PCdoB), Jorge Bittar (PT), Luiz Paulo Conde (PMDB), Marcelo Crivella (PL) e Nilo Batista (PDT) foram chamados ao debate sobre o lugar dos instituições museológicas federais no contexto político-cultural da cidade.
O enfrentamento desse debate, no entanto, precisa passar pelo reconhecimento de que desde o lançamento da Política Nacional de Museus (PNM), em maio de 2003, os museus federais do Rio - entre os quais destacam-se o Museu Histórico Nacional, o Museu da República, o Museu Nacional de Belas Artes, os Museus Castro Maya e o Museu Villa Lobos - estão recebendo do Ministério da Cultura (MinC) expressivos recursos visando a sua melhor qualificação institucional, a democratização do acesso aos acervos, desenvolvimento de ações educativas, melhor atendimento ao público e realização de projetos de alcance nacional.
A PNM e a conseqüente criação do Sistema Brasileiro de Museus - cujo objetivo é promover a articulação entre museus federais, estaduais, municipais e particulares - constituem um fato novo e estão contribuindo para a redefinição do lugar dos museus na agenda política. Esse fato novo impõe alguns desafios para o exercício da imaginação política e cultural dos candidatos a prefeito do Rio. Não basta apresentar respostas mais ou menos criativas para os museus federais situados por determinação histórica na antiga capital da República; não é suficiente a produção discursiva a favor da municipalização de museus federais. É preciso ir mais longe.
É preciso reconhecer que os museus nacionais do MinC, situados no Rio, estão retomando o seu lugar de instituições de destaque e, por isso mesmo, são considerados dispositivos estratégicos da política cultural em movimento. É preciso reconhecer também que as parcerias entre a prefeitura e essas instituições fazem parte da nova agenda política.
No que se refere ao mundo dos museus, o maior desafio da cidade não é a municipalização de instituições federais, mas a construção de uma política municipal de museus, como já ocorre em São Paulo. O desafio é responder às perguntas: o que fazer com os museus municipais? Como democratizar as suas gestões e ações? Como criar e colocar em movimento uma rede municipal de museus? Como valorizar e proteger o patrimônio cultural de interesse para a cidade, sem cair no melancólico ''tombamento'' da banda do bairro ''A'' ou do bairro ''B''?
Há tempos o Rio merece um Museu de Cidade comprometido com a cidade contemporânea, interessado em dialogar com a cidade que se faz e se refaz no presente. Em março de 2005, a ''mui heróica'' cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro estará completando 440 anos. Em vez de discutir a municipalização dos museus federais, será que não era hora de a nova prefeitura pensar um excelente projeto de Museu de Cidade e redefinir de vez o lugar dos museus na agenda política? Fica a sugestão.
*O antropólogo José do Nascimento Junior é diretor de Museus e Centros Culturais do Iphan. O museólogo Mario Chagas é professor da Escola de Museologia da Unirio