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outubro 5, 2004
O Rio merece mais
Emeio enviado por Carlos Bernardi sobre texto "O Rio merece mais", de Sérgio Sá Leitão, publicado originalmente no Caderno B do Jornal do Brasil, no dia 4 de outubro de 2004 e reproduzida logo abaixo.
Prezados do Jornal do Brasil,
Confesso ter sentido muita aflição ao me deparar com o texto do Sr. Sérgio Sá Leitão, O Rio merece mais, em sua edição on-line do dia 4 de outubro, por ver em seu comentário um registro sóbrio, fiel e desesperador do que são as políticas de cultura em nossa cidade. E que bom perceber que o Ministério da Cultura, tão atacado pelas mídias de comunicação nas últimas semanas, mantém profissionais capazes de reorganizar os debates e a participação da sociedade civil na área cultural, o que parece ser um alívio para o carioca na atual conjuntura política.
A verdade é que passamos mais uma eleição carecendo de olhares mais maduros de nossos representantes sobre a cultura, seja em seu sentido estrutural-econômico, seja em seu sentido mais humano. Com pesar lembro que os últimos quatro anos da administração de cultura foram marcados pelo caso Guggenheim, pelo esvaziamento das instituições ou por visões enfadonhas de uma cultura off-Brodway. A tristeza maior, no entanto, é perceber que nenhum outro projeto político apresentava uma alternativa inteligente para nossa gestão cultural, tampouco compreendia o setor como estratégico para a cidade do Rio de Janeiro, seja como um diminuidor das distâncias sociais, debatedor das questões da democracia ou simples fomentador de um cidadão mais ciente de si e das carências de sua cidade.
Parabéns ao Sr. Sérgio Sá Leitão e à editoria do jornal pela coragem de manifestar o que pareceu esquecido no último domingo.
Carlos B.
Cultura / O Rio merece mais
Sérgio Sá Leitão
Cineasta e coordenador da assessoria do ministro Gilberto Gil
A cultura tem várias dimensões. Pode-se destacar a questão da produção simbólica e a da identidade. O seu papel na promoção da cidadania. O impacto na junção da chamada ''cidade partida'' e no estímulo à sensibilidade e à inteligência dos indivíduos. A importância econômica. E tudo isso ao mesmo tempo. A maior parte das pessoas que estuda, faz e difunde bens e serviços culturais sabe que as várias dimensões da cultura estão necessariamente articuladas. E compartilha a percepção de que ela é um ingrediente indispensável à vida. Não adianta, portanto, destacar este ou aquele aspecto. Deve-se celebrar a cultura. E cuidar dela, em todas as suas dimensões.
Este ingrediente indispensável, porém, esteve ausente do cardápio eleitoral do país. E o Rio não foi exceção. Salvo uma ou outra intervenção superficial, não se soube como os candidatos a prefeito realmente encaram a cultura. Em se tratando de uma eleição municipal, a ausência torna-se mais grave: é na cidade que o cidadão vive, sonha e faz cultura. No caso específico do Rio, tem-se uma agravante. Sem exagero, trata-se (ainda) da capital cultural do país. Dados de 2001 e 2002 mostram que a economia da cultura movimenta cerca de R$ 4 bilhões por ano na cidade, ou 7% do PIB. As empresas do setor geram R$ 2 bilhões em impostos municipais. E empregam 600 mil pessoas, ou seja, a cultura é uma das principais atividades econômicas e sociais dos cariocas.
As maiores gravadoras e a principal emissora de TV do país estão aqui, assim como diversos museus, editoras, produtoras e distribuidoras de cinema e vídeo, companhias de teatro e dança, escritórios de design, fundações e ONGs culturais. O orçamento municipal destina R$ 240 milhões (3% do total) para a Secretaria das Culturas, o que põe o Rio entre as cidades brasileiras que mais investem no setor.
O Rio vive intensamente a sua cultura no morro e no asfalto, no underground e no mainstream. Os indicadores são, de fato, positivos. Mas a cidade ainda não soube aproveitar plenamente o imenso potencial da cultura carioca. O Rio pode (e merece) muito mais. E não é uma questão de quanto, mas de como. A cultura tem tudo para ser o principal vetor de desenvolvimento, inclusão social e melhoria da qualidade de vida na cidade, contribuindo para a geração de renda, emprego, impostos e alegria. O investimento na cultura pode gerar um ciclo virtuoso de crescimento econômico sustentado, afastando-nos da miséria e da violência diárias.
A cultura cria mais empregos e paga melhores salários do que a média das outras atividades econômicas, além de elevar a auto-estima e a sensação de pertencimento. A cultura é, portanto, um setor estratégico que merece do poder público municipal o tratamento de prioridade. Para realizar o potencial de inclusão, cidadania e desenvolvimento da cultura carioca, o Rio precisa de uma gestão cultural contemporânea, democrática e eficiente. Felizmente temos o que a maioria das metrópoles do planeta tanto procura: talento, energia, estrutura, diversidade. Mas é preciso superar as visões parciais e corporativas da cultura; e repensar a Secretaria das Culturas, atribuindo a ela a tarefa de cuidar também do desenvolvimento das indústrias criativas. A política cultural de hoje deve ir além do fomento a fundo perdido e das ações compensatórias. No Rio, cultura é diversão e arte, identidade e economia.
Os dados sugerem que a economia da cultura no Rio está longe de realizar o seu potencial. E que a ação do poder público é o que falta para que este potencial se realize, com benefícios evidentes para a cidade e para todos os cariocas. Há plenas condições para uma gestão abrangente e moderna da cultura, à altura do talento dos nossos criadores. Vamos aproveitar o novo governo e dar um salto de qualidade?
Só gostaria de saber como faço para parar shows de "artistas" que persistem em ganhar o seu pão de cada dia cantando em bares "butecos".
Todo fim de semana perto de minha casa tem um show, Eu sou obrigado a ficar escutando o que sai da boca daqueles "oportunistas".
Gostaria que o ECAD fosse mais atuante neste lado.
Sem mais,