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agosto 4, 2004
Arte revogada
Texto de Gilberto de Abreu, publicado originalmente no Caderno B do Jornal do Brasil no dia 4 de agosto de 2004
Arte revogada
Comissão criada pela Secretaria das Culturas para preservação da paisagem urbana da cidade pede a remoção das 14 esculturas de Marli Mazeredo do espaço público carioca
GILBERTO DE ABREU
Criada há duas semanas pela Prefeitura com a missão de analisar os projetos de intervenção urbana implantados ou em fase de aprovação pela Prefeitura, a Comissão para Preservação da Paisagem da Cidade do Rio de Janeiro já tomou uma decisão que promete ser polêmica. Na reunião inaugural da última quinta-feira, a comissão deliberou por unanimidade retirar do espaço público carioca todas as peças da artista plástica Marli Mazeredo.
- Nosso objetivo é rever e reorganizar, com todo bom senso, toda e qualquer situação considerada imprópria à cidade - disse o secretário das Culturas, Ricardo Macieira.
Macieira é quem preside a comissão, formada pelos dirigentes de instituições culturais cariocas Fernando Cochiaralle (curador do MAM), Lauro Cavalcanti (diretor do Paço Imperial) e Paulo Herkenhoff (diretor do Museu Nacional de Belas Artes); pelos artistas plásticos Carlos Zílio, Ernesto Netto e Waltercio Caldas; pelo crítico de arte Luis Camilo Osório; pelos colecionadores Jean Boghici e João Sattamini e pelo arquiteto Paulo Casé.
- Estaremos com o olhar atento, estudando com mais cuidado cada área da cidade, a fim de pensar toda e qualquer intervenção que tenha sido ou possa ser feita - disse Macieira.
Diretor do Centro de Artes Hélio Oiticica, Luciano Figueiredo justifica a decisão:
- As esculturas criadas por Mazeredo são desprovidas de qualquer valor artístico. Depois de retiradas, elas não poderão ser instaladas em nenhum outro local público da cidade - frisa.
Com 30 anos de carreira, Marli Mazeredo é autora de 14 monumentos espalhados pela cidade, dentre eles as esculturas Paz, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Espaço da Paz, em Laranjeiras, Tributo a Ayrton Senna, na Barra da Tijuca, e Tributo a Zuzu Angel, em São Conrado.
A artista soube da deliberação da comissão na tarde de anteontem, por telefone, pela reportagem do JB, e reagiu à notícia com indiferença. Para ela, a decisão de banir os trabalhos se deve à transferência da responsabilidade da aprovação de construção de monumentos públicos, que passou da Secretaria Municipal de Meio Ambiente para a das Culturas.
- Isso aí só pode ser jogo de vaidade entre as secretarias das Culturas e do Meio Ambiente - declarou.
Mazeredo disse ainda preferir não se envolver em polêmicas.
- O senhor secretário das Culturas Ricardo Macieira deveria ser o primeiro a dar incentivos aos artistas da cidade, e não impedi-los de expor suas criações. Mas não me compete julgá-lo, não tenho tempo a perder com esse tipo de mediocridade - disparou.
Mazeredo alega que suas esculturas vêm sendo instaladas desde 1992, sem críticas de nenhuma natureza.
- É curioso que isto esteja acontecendo agora, no calor das eleições. Mas acho ótimo que constituam essa comissão, porque a cidade está cheia de estátuas que são verdadeiras aberrações - declarou a artista, sem detalhar quais.
Candidado à reeleição pelo PFL, o prefeito César Maia conferiu à comissão plenos poderes para avaliar a ocupação do espaço urbano carioca.
- Eu duvido desse poder, e ainda que de fato ele exista, imagino que não deva ser retroativo ao que já foi implementado. Seria uma palhaçada ir contra a vontade dos prefeitos antecessores, aqueles para quem trabalhei - disse Mazeredo.
Ricardo Macieira rebate as acusações de Mazeredo e reitera que todo monumento, busto ou escultura é passível de revisão pela comissão.
- Só se fala em Mazeredo, mas o trabalho da comissão é bem mais amplo que ela. Nossa missão está começando.
Marli Mazaredo toca no ponto: politica.
Entra candidato A, entra candidato B. Para ela tanto faz: acredita que continuará a colocar suas esculturas nas ruas da cidade.
Parabéns à comissão que começa a pensar o papel do Estado na formação cultural do Rio de Janeiro.
Por uma política cultural!
Toda interferência pública, deve ser aprovado por um conselho competente. Deve haver um consenso entre profissinais de arte e ambiente urbano.
Obras de arte que tomam o espaço público devem ser submetidas a um rigoroso critério de seleção, feito por crítica ou comissão especializada nesta área. Este lamentável fato que acontece no RJ se repete por outros locais do Brasil como Curitiba, Salvador, São Paulo etc... onde artistas sem condições, ou com trabalhos que teriam muito a melhorar para se tornarem obra tomam o espaço público. POLÍTICOS ARTE NÃO É DECORAÇÃO. E se vocês pensam que isto que está nas ruas do Rio é arte vcs estão por fora, estão atirando no pé, não só de vcs mas de todo o povo que obrigado a conviver com essas obras de intelecto duvidoso pede a urgente remoção das mesmas.
Em prol de uma política cultural séria pedimos o apoio de todos.