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julho 20, 2004
Perguntas para João Sattamini
Emeio enviado por Carlos Bernardi, para o Jornal do Brasil, sobre a entrevista de Cleusa Maria com João Sattamini, publicada originalmente na coluna Informe de Arte, no Caderno B do Jornal do Brasil no dia 19 de julho de 2004, e reproduzida abaixo.
O comodato do MAC-Niterói
Prezada Cleusa,
Acompanhei sua coluna essa semana, especialmente a entrevista com o colecionador João Sattamini e confesso ainda me encontro um pouco atônito com as revelações. Não acreditava que de fato o MAC pudesse perder de vez o comodato da coleção João Sattamini - talvez por não ser essa a primeira vez que o boato fora despertado - mas a força das declarações na entrevista são esclarecedoras.
O calendário do museu sobrevive quase que exclusivamente das exposições correntes da coleção, o que torna o episódio ainda mais absurdo quando pensamos no MAC como um símbolo tão cuidadosamente construído pela prefeitura da cidade de Niterói. Ainda brincamos de fazer políticas públicas, e a situação nos embaraça mais quando ouvimos do próprio colecionador a possibilidade de transferir sua coleção - o que deve ser feito quando seu acervo for mal utilizado - para a cidade do Rio de Janeiro, num espaço que deve ser (ou está sendo) construído no Armazém do Cais do Porto, um enigma que parece ser feito às escondidas, longe dos olhos e das críticas do público carioca. Talvez soasse mais interessante pensarmos em como dialogar entre esses espaços de convivência da arte, um olhando para o outro por sobre a Guanabara, confabulando circuitos interessantes da arte contemporânea. Não parece interessante, nem mesmo urgente à cidade do Rio de Janeiro, simplesmente transferir de Niterói o comodato das obras da coleção João Sattamini - significativas e que merecem um belo lugar para acolhê-las - ecoa ligeiramente deselegante e preguiçoso. Gostaria muito de saber, por sua coluna ou numa cobertura mais intensa pelo Jornal do Brasil, como está sendo realizada a efetivação desse novo espaço das artes visuais. Aqui em casa não havia recebido nenhuma notícia anterior.
Grato,
Carlos B.
Entrevista de Cleusa Maria, publicada originalmente, na coluna Informe de Arte , no Caderno B do Jornal do Brasil no dia 19 de julho de 2004.
Perguntas para João Sattamini
CLEUSA MARIA
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói vive um momento de crise com a saída de sua diretora Dôra Silveira. Uma das ameças que pairam sobre a instituição é a perda da Coleção Sattamini, que compõe o acervo da casa, em regime de comodato desde a inauguração do museu, em 1996. São cerca de mil obras de artistas brasileiros, que o colecionador João Sattamini vem adquirindo desde os anos 50. Hoje, pode ser considerado o segundo mais importante conjunto da produção artística nacional das últimas décadas. O dono da coleção confirma a possibilidade de mudança de endereço. Mesmo evasivo, ele não desmente os boatos de que as obras poderiam vir para um outro espaço no Rio.
Em que situação se encontra a coleção, atualmente no MAC?
A coleção está no fim de carreira em Niterói, porque há 18 meses a prefeitura da cidade não define a situação legal do comodato.
Existem outras alternativas de lugares para acolher as obras, no Rio, por exemplo?
Sim, existem.
Quais seriam elas?
Espero que o prefeito do Rio, Cesar Maia, ofereça outras alternativas para abrigar a coleção.
Comenta-se que pode ser no Armazém do Cais do Porto. É verdade?
É verdade. O Luiz Alphonsus (artista plástico e ex-diretor do Parque Lage) já está até fazendo um projeto imenso para o Armazém do Cais.
Se as obras de arte saírem do MAC, a cidade de Nitérói perde. E a sua coleção, ela ganha com a mudança?
Sinceramente não sei. Se isso acontecer, o problema deve ser colocado para o prefeito de Niterói.
Como o senhor vê a transferência da coleção para o Rio?
Gosto da idéia. Mas o projeto para o Rio está voltado, basicamente, para as esculturas.
E para onde iriam as outras obras, como as pinturas?
Isso a gente vai pensar numa segunda etapa.