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julho 15, 2004
Impagável Culto ao Teatro!!
Emeio enviado por José Miranda, para o Jornal O Globo, sobre a matéria reproduzida abaixo, Culto ao teatro, de Roberta Oliveira, do dia 13 de julho de 2004.
Senhores do Segundo Caderno,
Foi a melhor tirada do ano a reportagem de Roberta Oliveira no Segundo Caderno de hoje; Culto ao Teatro. A secretaria das culturas continua perdida como cego em campanha eleitoral, e nesse tempo de intenso "investimento patrimonial" nunca é demais perguntar qual o Cigano Igor que recentemente andou cortando algumas despesas menos importantes do Sérgio Porto. Não existem regras claras sobre quais fatias do orçamento são destinadas às áreas das artes na cidade do Rio de Janeiro, muito menos algum critério onde podemos nos orientar para entender porque algumas áreas são contempladas e outras simplesmente esquecidas, mas tenho certeza de que quando o desvio cai bem, entorta-se o orçamento e as regras à vontade.
Além do mais, simplesmente investir na aquisição de espaços "físicos" não significa nenhuma garantia de dinâmica cultural à cidade.
Parabéns pela matéria.
José Miranda
Adorando ao Teatro
Emeio enviado por Carlos Eduardo Bernardi sobre a mesma matéria reproduzida logo a seguir.
Prezados dO Globo,
Quero prestar reverências à jornalista Roberta Oliveira pela fabulosa titulação à matéria de capa do Segundo Caderno do dia 13 de julho. "Culto ao teatro" tece significado marcante ao conteúdo descrito no andamento de seu testemunho. Vemos mais uma vez uma secretaria de(das) cultura(s) equivocada quanto sua relação com o que deveria ser de fato uma política de cultura e seu orçamento destinado. Cabe aqui debater se é válido o tombamento do Tereza Rachel? Evidente que não, é indiscutível sua relevância enquanto patrimônio cultural e público (e mesmo que o fosse em qualquer condição religiosa). O que interessa de fato é pensarmos sobre a forma em que essa quermesse foi armada. O Conselho de tombamento do município é presidido pelo próprio Secretário de Cultura e isso é dito como se fosse apenas mais um cargo sem importância. Relembro as palavras do Sr. Macieira: "A política cultural da prefeitura passa também pela ampliação do número de espaços e, se neste processo, formos esbarrando em empecilhos, vamos entrar com instrumentos legais que nos garantam a obtenção destes espaços". Senhores, diante desse panorama de "legalidades", estamos muito longe do que posso imaginar ser um rastro de política pública, mas bem próximos de uma anedota.
Carlos B
Matéria de Roberta Oliveira, publicada originalmente no Segundo Caderno do Jornal O Globo no dia 13 de julho de 2004.
Culto ao teatro
ROBERTA OLIVEIRA
Numa medida inédita em cultura, o prefeito Cesar Maia determinou ontem, através de decreto publicado no Diário Oficial, o tombamento provisório do Teatro Tereza Rachel. Com isso, não só o espaço não pode passar por nenhum tipo de obra, como também não pode ser utilizado para nenhuma outra função que não a de palco para apresentações de espetáculos teatrais. O prefeito resolveu tomar esta atitude depois de a atriz Tereza Rachel, dona do imóvel, ter levantado, em artigo publicado no GLOBO na última quinta-feira, a hipótese de vender o teatro à Igreja Universal do Reino de Deus, que vem alugando o local há cinco anos.
Ela pode discordar e recorrer na Justiça, mas é praticamente impossível que consiga impedir o tombamento definitivo comemorava ontem o secretário municipal das Culturas, Ricardo Macieira. Garantir que o Tereza Rachel continue funcionando como espaço teatral é uma grande vitória para a cidade. A política cultural da prefeitura passa também pela ampliação do número de espaços e, se neste processo, formos esbarrando em empecilhos, vamos entrar com instrumentos legais que nos garantam a obtenção destes espaços.
"Não sou um palhaço", diz o gestor Miguel Falabella
Quando fala em empecilhos, o secretário refere-se ao impasse vivido na semana passada pela prefeitura ao descobrir que, depois de seis meses negociando com a atriz para alugar o teatro, Tereza Rachel estava pensando em vendê-lo para a Igreja Universal do Reino de Deus. A idéia de entrar na briga para que o palco deixasse de ser espaço de culto evangélico e voltasse a abrigar espetáculos partiu de Miguel Falabella, gestor da Rede Municipal de Teatro, depois de assistir a uma entrevista em que a atriz lamentava que o Tereza Rachel tivesse deixado de ser teatro.
Achei que estava apenas atendendo a um pedido dela diz Falabella, que, ao saber, na semana passada, da possibilidade de venda, sentiu-se pessoalmente atingido. Eu não sou um palhaço, estou fazendo um trabalho sério, ela não pode me alugar durante seis meses e depois dizer que está pensando em vender como se nada tivesse acontecido. Eu viabilizei o contrato num tempo recorde, se pensarmos na morosidade burocrática, e consegui um bom aluguel. Querer mais do que R$ 35 mil é quase obsceno num país como o nosso.
Na última quarta-feira, a atriz disse ao GLOBO que estava pensando em vender o teatro porque, como não tem filhos e, portanto, não precisa deixar dinheiro para ninguém, ela quer "aproveitar a vida viajando, conhecendo lugares que ainda não conhece".
Não sou dessas atrizes que querem morrer no palco, quero morrer na vida acrescentou ela, lembrando que realmente tinha feito um apelo, tempos atrás, para que o Tereza Rachel voltasse a funcionar como teatro. Mas a cidade já perdeu este espaço há tanto tempo, que diferença faz isso, agora?
Ontem, procurada pelo GLOBO, a atriz não pôde ser encontrada. Ela disse que viajaria no fim de semana para Barcelona e Dublin para convidar o diretor espanhol Calixto Bieito para dirigi-la em seu próximo espetáculo, "Celestina". Mas quem atendeu no número de telefone do seu apartamento disse que ela não viajou, que continuava no Rio e que tinha deixado apenas um recado: "Saí e não tenho dia nem hora para voltar."
"A prefeitura não faz leilão", diz secretário das Culturas
O que mais deixou o secretário das Culturas, Ricardo Macieira, irritado foi a sensação de que a atriz estava tentando fazer um leilão entre a Prefeitura e a Igreja Universal do Reino de Deus, na tentativa de arrancar de um dos dois um preço melhor.
Passamos meses negociando, estava tudo pronto, só faltava ela sentar e assinar e, de repente, chega a notícia de que ela está pensando em vender, como se esperasse que nós oferecêssemos mais? questiona Macieira. A prefeitura não participa de leilão.
O prefeito optou pelo tombamento provisório porque esta é a medida mais rápida para se impedir que um edifício considerado importante para o patrimônio históricos e cultural da cidade não seja demolido ou deixe de ter a sua principal ocupação no caso, a de espaço teatral. Agora, o local passará por uma análise técnica e histórica. O parecer, ou ficha cadastral, será, então, encaminhado para a Conselho de Proteção do Patrimônio Cultural do município. Cabe a ele definir, ou não, se o prédio ou estabelecimento será tombado definitivamente. O secretário não tem dúvidas de que isto irá acontecer, em um prazo que ele estipula ser de três a quatro semanas.
Eu presido o Conselho diz Macieira, que redigiu pessoalmente o Artigo n 2 do decreto, que estabelece que "Fica gravado o uso de casa de espetáculos teatrais para o referido imóvel". Ela pode alugar ou vender para quem quiser, mas terá que continuar sendo teatro.
Apesar do conflito, nem Macieira nem Falabella estão fechados ao diálogo e garantem que a prefeitura ainda está interessada em alugar o espaço pelo valor já negociado de R$ 35 mil.
Tombar aquele teatro é uma conquista para a cidade porque, com o histórico e com as proporções que tem, ele precisa continuar sendo usado para espetáculos teatrais, não para qualquer outra coisa diz Falabella, que espera uma reação da atriz. Tenho certeza de que ela vai brigar, vai gritar, ela tem todo direito porque é dela, mas a classe está a nosso favor.
Olá!! Meu Deus!!!Que pena Rachel ter esse tipo de pensamento...faço teatro, e não entendo o porque...dele não poder ser usado para cultura,sendo que a própria prefere vende-lo para a Igreja Universal!! Que absurdo!!
Postado originalmente no Blog do Canal.
Posted by: Daiane Goessling at julho 23, 2004 1:56 AM