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maio 20, 2004
Bomba na precária vida artística carioca
Emeio enviado por Carlos Eduardo Bernardi para os jornais cariocas, Jornal do Brasil e O Globo, no dia 18 de maio de 2004.
Prezado jornalista,
Faço parte de uma boa parcela da população interessada no bem-estar da cidade e que ingenuamente se entrega às intenções artísticas como uma opção genuína para uma ampla reavaliação de nossa realidade. Parece-me que o contexto da administração das políticas públicas de cultura urge de auto-crítica, pois confesso, não tenho a menor habilidade de compreender certas andanças de seus responsáveis.
Se enxergo bem, e bem o faço, existe um hiato voraz entre as vozes administrativas e artísticas. Diante do inacreditável silêncio das instituições municipais, os planos da Prefeitura para o fomento às artes plásticas (visuais?) são colocados em xeque nesse momento. Parece que ronda a cabeça de nosso Secretário de Cultura, o Sr. Ricardo Macieira, a brilhante iniciativa de brindar-nos com o fechamento das galerias de arte do Espaço Cultural Sérgio Porto!
Desarticular um grupo cultural retirando dele um legítimo lugar de encontro é, fora de qualquer questionamento, uma covardia. Se pensarmos além, trata-se também de um desencanto. Se adequarmos mais ainda nosso pensamento, trata-se sim de uma contradição, já que há pouco a "Cidade" pensava num alto investimento para uma instituição - a construção do Museu Guggenheim - que trata dos mesmos elementos estéticos do Espaço Sérgio Porto - sem julgamento de valores. Não podemos perder de vista que foi deles a iniciativa de colocar-se em saudável discussão esse empreendimento "multi-nacional-estético.
A Rua Humaitá 163 tem sido reduto de encontros interessantes - e interessados - de uma classe de artistas que merece ser reconhecida por sua capacidade de transpor certos limites estéticos, como também ultrapassar uma lentidão cândida das políticas culturais da cidade.
Mas o que me causa certo constrangimento de ser representado por esses co-cidadãos é um certo esmero na falta de inteligência política. Mal saímos de um transtorno judicial de um contrato que perambulava por corredores incertos do dinheiro público, nossos administradores nos dão outro chute para fora, causando um novo embate com a classe dos artistas plásticos. E não percamos de vista que estamos em pleno ano eleitoral! Pergunta freqüente, se falta dinheiro às instituições da cidade, por que sobravam recursos ao Museu Guggenheim?
Essa realidade crítica, ou ausente de crítica, pode ser parcialmente explicada pela condução da política de financiamento cultural. Seguindo o fluxo que se impõe na Lei do ISS, o Espaço Sérgio Porto provavelmente se transformará em salas de cinema. É injusto um lugar para pensar e escoar a produção cinematográfica? Não. Seria produtivo escolhermos um lugar consagrado às artes plásticas para transforma-lo num espaço destinado ao cinema da cidade? Mas por que a Lei do ISS não prevê uma solução para o caso, a construção de espaços na cidade destinados à apreciação cinematográfica? A ação soa um pouco arrogante, uma pretensa manobra política que deseja colocar uma classe artística contra a outra, que em nada agita a cidade senão ao caos improdutivo.
Que lugar da história cultural da cidade pretendem o Prefeito César Maia e o seu Secretário de Cultura Ricardo Macieira ao infestarem a cidade com a praga Mazeredo e deixando órfã a arte contemporânea carioca com o fechamento das galerias do Sérgio Porto? Será essa a política cultural que precisamos para a cidade anfitriã dos Jogos Pan-Americanos de 2007?
Na minha ambição de cidadão, sogro de artista, pai de futura produtora cultural, espero empenho da imprensa em discutir essa questão. Lembrem-se: não temos um Conselho de Cultura no município.
Grato,
Carlos Bernardi
Esse é só mais um absurdo da política do Sr. Cesar Maia. Espero que não persista o mito de que ele é um "bom administrador"...
Postado originalmente no Blog do Canal.
Posted by: Flávia at julho 22, 2004 5:50 PM