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junho 2, 2011
ArteBA -20 edição por Adriano Casanova
ArteBA -20 edição
A vigésima edição da feira de arte contemporanea ArteBa aconteceu na ultima semana, entre os dias 18 a 23 de maio.
Nesta edição a feira contou com mais de 73 galerias de paises como Argentina, Brasil, Peru, Colombia, Espanha, Berlin, entre outros exibindo arte contemporanea e moderna no grandioso espaço de eventos La Rural, em Buenos Aires.
A ArteBa mostrou, não só para seus 120 mil visitantes, mas para o circuito da arte latinoamericana um aparato de artistas e obras que dialogam com o contexto do mercado local que ainda busca se internacionalizar, contando com preços mais acessiveis e setores destinados a projetos curatoriais.
Além de galerias com seus stands a feira contou com seções especiais como o já conhecido Premio Petrobas, a nova seção U-turn com projetos individuais de artistas, o bairro jovem Chandon para galerias emergentes e a grande promessa no prêmio de pinturas Arcos Dorados.
Em convite do canal contemporaneo selecionei 5 obras que se destacaram entre os varios stands da feira, listadas abaixo:
A obra “Los sueños de juventud se desvanecem ante la impureza de la vida”, do jovem argentino Martin Legón foram uma das boas surpresas encontradas na feira. Parte do stand da galeria porteña Alberto Sendrós, curada por Mariano Mayer, Legón propos contar uma história de amor impossivel, unindo uma abelha e uma abelha rainha, mergulhadas em uma xícara de porcela e um copo de leite respectivamente. Uma das peças mais marcantes da feira que valeu a pena também ter conferido sua mostra individual que estava em cartaz paralelamente na sede da galeria.
Tomas Saraceno, na galeria alemã Andersen’s contemporary, mostrou uma série de esculturas que foi destaque entre as galerias participantes da seção U-turn.
O mestre argentino Eduardo Stupia apresentava logo na entrada principal da feira pinturas/desenhos em grande escala que justificavam sua excelente tragetória como um dos artistas mais importantes da atualidade na argentina.
Promessa entre os nomes da nova geração da argentina, Mariana Sissia mostrou no stand da simpatica galeria argentina Chez Vautier um desenho a lapis hiperrealista intitulado “Sistema tobogan”.
O brasileiro Rodrigo Bivar foi um dos cinco selecionados para o concurso Arcos Dorados de pintura Latinoamericana, onde mostrou a tela “Turista Azul” que chamava atenção de quem passava pela seção especial.
Agora e em Processo por Cecília Bedê
Agora e em Processo
Cecília Bedê
Especial para o Canal Contemporâneo
Agora/Instantâneo/Simultâneo é a exposição que integra o projeto Agora Ágora – criação e transgressão em rede, com curadoria de Angélica de Moraes que acontece no Santander Cultural em Porto Alegre até o dia 7 de agosto. O projeto, alocado também no sítio www.agora.art.br (coordenação web de Giselle Beiguelman), quer provocar uma coletividade criativa abrindo espaço para a interação na web, levando em conta o potencial crítico e híbrido das redes.
O conceito estabelecido por todo o projeto e que se reflete na exposição, pode, em um primeiro contato, parecer perigosamente amplo e naturalmente compreensível aos olhos de quem vive o agora e se questiona sobre ele. A atual condição do nosso cotidiano, onde o tempo é fragmentado e os espaços se sobrepõem nos fazem criar estratégias de organização para que as coisas façam sentido e é sobre e para isso que os trabalhos reunidos na exposição e o projeto como um todo caminham. É nas ações que se utilizam das tecnologias da rede e nas obras no espaço expositivo que essa idéia se reflete trazendo em si todo o potencial de mobilidade posto em questão.
Ao entrar no vão principal do prédio do Santander Cultural, pode-se perceber de imediato a confluência de temporalidades e espaços, ao começar pelo diálogo entre as obras ali expostas e o prédio que data dos anos 30. Um “Túnel”, obra de Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, media o percurso simétrico da porta ao espaço. A cada passo ultrapassam-se diversos frames ou molduras de alumínio, fixados em um eixo central, que se movimentam lateralmente à medida que atravessamos, provocando instabilidade e ao mesmo tempo consciência do corpo. Mas não se trata apenas de uma obra imersiva-interativa, age como um provocador de outros espaços e corpos. Alguém que, estando externo à obra, vê o percurso de outro, presencia a dilatação do espaço da obra através do som causado pelo movimento que alcança todo o prédio e das sombras refletidas no chão. No instante em que afeta o micro, através da experiência de um indivíduo, afeta um espaço macro para uma possível coletividade.
É através dessa mútua afetação entre tempos e espaços, individuais e coletivos, no real e no virtual que percorre o mote curatorial. Em “SuperCinema” o artista Rommulo Vieira Conceição soma ao espaço do Santander, ao mesmo tempo, um supermercado e uma sala de cinema. O produto-filme, ao lado do produto da prateleira, e intermediando essa relação uma instituição cultural, porém também financeira. Na tela filmes que traduzem a expansão do cinema comercial, nas prateleiras os produtos do nosso consumo e excesso diário, no centro o bolso do espectador-consumidor, tudo ao mesmo tempo, instantaneamente, agora.
Raquel Kogan e Lea van Steen, com apenas uma projeção provocam a interação da imagem real e imagem virtual. De dentro de uma sala escura, pode-se ver a projeção em uma de suas paredes e também através de um vidro interagindo com o lado de fora da sala. A imagem virtual, normalmente pessoas em ações banais, se mistura aos visitantes que se encontram fora. Naturalmente a obra acontece ao ser penetrada, mas também necessita que o lado de fora esteja sendo ocupado.
A fotografia é trazida para a exposição por Caio Reisewitz através de uma contraposição às idéias de duração, instante e acaso, tão caras à técnica. Assim como um pintor impressionista, o fotógrafo vai em busca da imagem natural, sem retoques digitais no final. Uma instalação fotográfica que remete ao seu próprio processo de construção. O processo é evidenciado também no trabalho do artista gaúcho Frantz. Vestígios de tinta caídos sob o chão de ateliês de outros artistas proporcionam ao artista a confecção de suas pinturas. Por suas mãos ocorrem apenas o trabalho de edição das partes que interessa e montagem nos suportes de pintura. Trata-se de uma obra onde o processo é o principal construtor, onde o resultado final pode ou não dar clareza a esse gesto. Ao recortar, colocar no chassi e expor na forma mais tradicional da pintura, na obra de Frantz, o gesto se esconde, o que pede ao trabalho que ele aconteça, em fim, como pintura. A escolha de afastamento da produção manual acaba por causar sua mais forte aproximação.
O artista Saint Clair, em sua instalação, apresenta pinturas e esculturas, utilizando não só o modo de fazer mais tradicional de cada uma, como também fazendo referência a temas da História da Arte. O inacabamento e a transparência do processo de feitura o aproximam da contemporaneidade. Wagner Morales apresenta em seu vídeo “Mamãe, papai... Eu sou...” o conflito de gerações entre uma típica família coreana, onde o filho, durante o jantar, faz revelações sobre sua identidade.
Na exposição como no texto, palavras chave: frame, instante, edição, processo, sobreposição, montagem, história, geração. É na confluência de todas que o projeto, a exposição e arte contemporânea acontecem. O artista inglês Toby Christian, no mínimo gesto de pinçar a parede com sua obra “Pinch”, em um momento que pode passar despercebido ao visitante, nos belisca para nos convocar para o agora.