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junho 2, 2021
Iberê e a moda por Gustavo Possamai
Do vestido em linha reta dos anos 1920 aos excessos dos anos 1980, a moda esteve presente em diversos trabalhos de Iberê Camargo. Em 1959, o artista produziu uma série de estudos de figurinos para o balé As Icamiabas. Com libreto de Circe Amado, música de Cláudio Santoro e coreografia de Harald Lander, a peça foi inspirada em um conjunto de lendas e documentos legados pelos primeiros conquistadores e cronistas que estiveram na selva amazônica e que tiveram contato com tribos de mulheres guerreiras.
Para a Rhodia, entre 1963 e 1964, Iberê criou estampas. A primeira, com flores tropicais para tecido crepnyl rhodianyl violáceo, ganhou forma em conjunto único desenhado por Dener Pamplona, um dos pioneiros da moda no Brasil, para a campanha de divulgação da marca. No ano seguinte, produziu uma estampa verde-azulada para tecido musselina. Os dois vestidos originais, apresentados nos desfiles-show, ainda não foram localizados. É também entre 1960 e 1964 que Iberê pintou um pequeno número de saias e vestidos para presentear amigos.
No final de 1985, ao observar as vitrines do centro de Porto Alegre, Iberê Camargo deu início a uma de suas séries mais emblemáticas, a dos Manequins. No ano seguinte, participou de um desfile de lançamento das coleções outono/inverno do Grupo de Moda Vanguarda Sul, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), com um óleo sobre tela de grandes dimensões (1,80 x 2,13 cm), em que retratou as manequins Bebel, Cláudia e Crislaine. "Como já estava pintando manequins de vitrines, achei interessante poder retratar modelos vivas com toda beleza e feminilidade de quem veste moda. Fiquei encantado com a ideia e penso que a moda é uma moldura da beleza feminina. Além de ter achado muito interessante conjugar a arte com a moda dentro do museu", disse Iberê na época.
Depois disso, volta-se novamente para a artificialidade dos manequins, desta vez, com cores mais sombrias: "O manequim é o protótipo da sociedade de consumo, o simulacro da realidade. As pessoas vivem dentro de caixas, assim como os manequins vivem dentro de vitrines", afirma. Com o tempo, em contraste, os manequins passarão a dividir espaço com corpos nus e fora do padrão na obra de Iberê, até a sua fase derradeira.
Esta trajetória do artista, ainda pouco explorada, permitirá, no futuro, conjugar sua arte com a moda em uma grande exposição.
Gustavo Possamai
Responsável pelo Acervo da Fundação Iberê e que assina a organização da mostra