|
novembro 5, 2019
Poderia ser uma frase comum... por Alexandre Sá
“E se o espaço é na linguagem de hoje a mais obsessiva das metáforas, não é porque ele se oferece a partir de agora como o único recurso, mas porque é no espaço em que a linguagem se desdobra desde o início do jogo, desliza sobre si mesma, determina suas escolhas, desenha suas figuras e suas translações.”
Michel Foucault
Para quem se abrem as portas é o título dessa exposição coletiva que reúne sete artistas com trajetórias e trabalhos distintos. O que os conecta é, além do óbvio desejo de trabalharem em conjunto, a provocação feita pela curadoria: a porta. Não unicamente a porta como objeto, mas como possibilidade de latência. A porta como conexão, vínculo, passagem, atravessamento e metáfora. Como elemento que demarca simbolicamente aberturas e finalizações, começos e despedidas. Ou mais além: a porta como eixo conceitual que consolida em si, como matéria, objeto e arquitetura, a delicada concisão que une dois movimentos supostamente díspares: abrir e fechar.
Esse pequeno jogo de linguagem termina por promover então um espaço semântico para que os artistas estabeleçam nexos, construam diálogos, ironizem suas cobiças e façam um uso afetivo e estrutural de algumas referências da história da arte para a produção de seus trabalhos. Obviamente, não se trata aqui de um simples exercício de releitura, mas de tentativas infinitas de aproximarem suas poéticas de outras obras e inclusive, reavaliarem o legado de tais propostas nos dias de hoje.
Importante também destacar que o nome da exposição não vem acompanhado de um ponto de interrogação, embora o mesmo pareça não conseguir se desgrudar da estrutura da oração que erige a empreitada. Nesse sentido, à partir de uma afirmação e de um desejo utópico de abertura de caminhos e reestruturação discursiva, surge no subsolo a dúvida retumbante se isso ainda é possível atualmente. Portas ainda são passíveis de serem movimentadas? E se assim o forem, como é possível compreendê-las e empreende-las poeticamente? Em que medida passado, presente e futuro, não são apenas dimensões espaço-temporais apaixonadas por seus respectivos reflexos e por seus restos em eterno moto-contínuo?
Alexandre Sá