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setembro 25, 2019
Ascânio MMM - Prisma e Quacors por Guilherme Wisnik
As peças espaciais de Ascânio MMM têm uma vocação pública, que denota seu vínculo de base com a tradição construtiva e, mais especificamente, uma proximidade com a arquitetura, e com a noção de estrutura. Daí que muitos desses trabalhos seus tenham sido instalados em espaços abertos, fora de galerias ou museus. Com efeito, no caso dessa exposição, a tipologia piramidal, remetida a formas históricas totêmicas, se combina a um novo trabalho mais aberto e abstrato (Quasos/Prisma 1), cuja escala permite que as pessoas penetrem o seu espaço interior e o atravessem. Sua consistência diáfana denota um diálogo intenso com a arquitetura moderna, para a qual a diluição de fronteiras entre dentro e fora é algo fundante na construção de uma espacialidade contínua. E, não por acaso, o volume da peça se afina ao tocar delicadamente o solo para flutuar no espaço, tal como nos pórticos seriais do MAM do Rio de Janeiro, de Affonso Eduardo Reidy.
Dependendo do ângulo pelo qual olhamos as peças espaciais de Ascânio - Quasos e Piramidais -, elas assumem aspectos mais sólidos ou mais vazados, dada a profundidade dos perfis utilizados. Também com as leves cortinas feitas de módulos de alumínio e parafusos (Quacors) acontece algo semelhante: suas distâncias em relação à parede provocam sombras cambiantes, e o halo de cor que se produz a partir das pinturas de faces laterais dos módulos cria ambiências sutilmente escapadiças, variáveis conforme o ponto de vista do espectador. Isto é: em ambos os casos há uma relação dialética entre a universalidade de sua matriz construtiva e o dado contingente da experiência que cada pessoa estabelece com os trabalhos e o ambiente ao redor.
Todas as peças são construídas segundo princípios claros (perfis modulares, encaixes e parafusos idênticos), mas as percepções que temos delas são ambíguas. Essa é uma questão crucial do trabalho de Ascânio: a idealidade da forma é temperada pela contingencialidade da percepção. Daí que ele oscile entre as fixações rígidas das peças maiores, feitas para garantir a estabilidade da forma e do volume em grande escala, e as articulações flexíveis das cortinas e malhas, nas quais a folga entre parafusos e perfis permite uma certa acomodação fluida, dinamizando o rigor das estruturas, e dando à geometria uma certa organicidade mais próxima da vida. No jogo de ambiguidade entre o bidimensional e o tridimensional produzido por esses Quacors, uma ambiência esquiva é criada. Nítida "vontade de forma". Abertura às indeterminações variáveis da vida.
Guilherme Wisnik, agosto 2019
Ascânio MMM - Prisma e Quacors, Casa Triângulo, São Paulo, SP - 30/09/2019 a 14/11/2019
ASCÂNIO MMM [Fão, Portugal, 1941. Vive e trabalha desde 1959 no Rio de Janeiro, Brasil]. Exposições individuais selecionadas: As Medidas dos Corpos, Casa Triângulo, São Paulo [2016]; Flexos e Qualas, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro [2008]; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro [1999]; Atelier Finep, Paço Imperial, Rio de Janeiro [1997]; Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo [1996]; Galeria 111, Lisboa [1995]; Subdistrito Comercial de Arte, São Paulo [1991]; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro [1984]; Galeria Arte Global, São Paulo [1976]. Exposições coletivas selecionadas: Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, Oca, São Paulo [2017]; 10ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre [2015]; Sotto Voce, Dominique Lévy Gallery, Londres [2015]; Gigante Por La Própria Naturaleza, IVAM - Instituto Valenciano de Arte, Valência [2011]; 1ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre [2011]; IX e XV Bienal de São Paulo, Pavilhão da Bienal, São Paulo [1967 e 1979]. Principais coleções: Fundação Edson Queiroz, Fortaleza; Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; Itaú Cultural, São Paulo; Museo de Arte Contemporáneo de Buenos Aires, Buenos Aires; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo; Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
GUILHERME WISNIK [São Paulo, Brasil, 1972. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil] é professor Livre-Docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.