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setembro 17, 2019
Desideratum / Desejante por Adolfo Montejo Navas
Desideratum / Desejante
ADOLFO MONTEJO NAVAS
Já Maimônides, o filósofo árabe de Córdoba do século XII, colocou a imaginação no patamar mais alto do conhecimento sobre o resto das atividades humanas. E é precisamente como fruto dessa natureza plástica, maleável mas também plausivelmente rigorosa ou científica que a pesquisa de Mauro Espíndola respira uma especulação linguística que é ao mesmo tempo temporal e cultural, sobretudo quando o que se divisa no horizonte é um museu imaginário que joga com a ciência e a taxonomia, o desenho, a monotipia e a cultura mais híbrida da imagem, aquela que repousa iconograficamente, incluso campo afora da arte. E em consequência, estabelece uma dialética com a memória e o presente, a vida e a morte como ciclos sempiternos, aliás, como vasos comunicantes do trabalho do artista. Onde de novo também aparece a figura identitária da heteronímia no nome do Dr. Emanoel Leichter, assim como os jogos da realidade e da ficção construindo sua própria indivisível teia de aranha, uma armadilha semântica que pode assombrar aos mais incautos ou fiéis dos maiores dogmas positivistas de que tudo é categorizável, só circula pelos mesmos canais que dita o chamado ainda melancolicamente progresso, com sua ordem impositiva, linear, nunca cosmológica.
De fato, nesta aventura plural do artista: de pesquisa, de construção, de apresentação de certo bestiário, se pode contemplar um inventado tratado visual que tem como correlato as expressões latinas, porém funcionando na base da aparência para subverter o que esta língua morta ainda pode significar quando a ironia visual e conceitual eleva seus significados. O inventário gráfico relata uma coleta de restos de animais: mariposas, borboletas, insetos, batráquios, répteis... cuja apresentação é oferecida como um antigo tratado de estúdio.
No fundo, a criação de uma topologia artística que responde ao locus de um lugar quase não-lugar, porque sobre eles gravitam, por partida dupla, a sensação de estranheza e de pertença. De estar numa margem em que o tempo habita de forma diferente o espaço… obrigando a escutar tudo como semente, genealogia, parentesco, em suma, incorporação, melhor, encarnação. Assim, de novo, a arte se imiscui em territórios limítrofes, desenha, fotografa, filma situações em que o canto da vida animal se submerge no húmus da matéria, no magma que absorve tudo para que o giro das coisas, a ronda do mundo continue com suas metamorfoses. Daí que a glória, a impermanência, a ruína, a vidência, a aura, os segredos da observação, o trânsito, a imortalidade, o umbral, thanatos e o espírito estejam com suas legendas a pé de imagem propondo sua leitura enigmática, aparentando a forma e considerações de um novo desideratum que religa uma expografia que é uma fábula visual.
Animalis Imaginibvs tem esse recurso de ser uma oferenda que olha a roda da vida em seu segredo físico, matérico, uma nova investigação que pede asas próprias, seu desejo de pictura desvendada.
Adolfo Montejo Navas - curador