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agosto 24, 2019
Renato Morcatti - Pirajá por Vicente de Mello
Renato Morcatti - Pirajá
VICENTE DE MELLO
O nome da exposição Pirajá surgiu de uma atmosfera de significados que vai desde do locus vivente do artista até a etimologia da palavra, confluindo para composição anímica da obra. Renato Morcatti mora no bairro Pirajá em Belo Horizonte onde tem sua casa-atelier, ambiente inspirador estruturante de sua criatividade. Pirajá é uma palavra de origem Tupi para designar lugar onde se coloca os peixes para serem tratados ou ... o que está repleto de peixes: pira (peixes) + já (repleto). Nesta atmosfera reluzente e telúrica tem-se também a definição do dicionário Aurélio: aguaceiro súbito e curto, violento e aluvial, acompanhando de ventania, comum nos trópicos, entre a costa da Bahia e os estados nordestinos.
Sim, pelo viés do realismo fantástico, podemos imaginar que Renato habita um espaço concentrado em tensão com respeito a natureza da alma e executa sua obra dentro de uma voluta física em situação limite, como uma narrativa intangível.
Em Pirajá temos os desenhos a carvão, pigmento minerais e grafite e as séries escultóricas realizadas em cerâmica, em três distintas expressões: o entalhe, a modelagem e a fundição. Abrasados pela técnica secular de queima japonesa Bizen, tem se a harmonia ímpar de nuances e cores infinitas.
A intenção figural pela multiplicação de gestos gráficos, determina a escala humana, a partir da silhueta do corpo do artista, nos desenhos de Escala Madre, com múltiplas cabeças de ferramentas da agricultura. Os desenhos da série Ostiário, são as chaves escultóricas da série Nós, representadas no plano, em uma indistinção das chaves que se mesclam.
Entre, um conjunto de pequenos totens “trancados” em gaiola de ferro. Sem dúvida alguma, uma reflexão às questões sobre liberdade, opinião e posicionamento.
Nós, são molhos de chaves unidos por anel de couro. Cada peça única é um nó dos elementos de uma metáfora do sistema de proteção retorcidos de sua finalidade como elemento de segurança.
Em Segredos, as esculturas são a representação da linha de encaixe e sucos dos segredos das chaves, que fazem girar o tambor, apresentadas em um agrupamento. O conjunto das peças provocam expectativas particulares a cada observador, que vão além suas formas.
Seus Guardiões são observadores de manufatura simples, de aspecto humano, moldados a mão, onde Renato transpõe a gênese da eclosão, da pulsação, dos fluxos, odores, massa, matéria, tatos, cortes, dores, amores e prazeres. Enfim, um ciclo que bilhões de humanos vivenciaram em negociações vazias e temporais, que moldam o que podemos ser pelo gesto de amassar a terra, da qual somos parte.
Contumaz são os elementos plásticos, cujas repetições sequenciais dos conceitos impregnados nas esculturas e nos desenhos formam a tessitura de pequenos sozinhos que se tornam sociedade.
A exposição Pirajá se dá por uma leitura de definições, onde tudo que é estranho, é “conclusão” da dúvida.