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maio 27, 2019

Oxum por Bernardo Mosqueira e Bruno Balthazar

Oxum

De longe percebemos o chão vibrar com sua dança.
De longe ouvimos o som de seu cantar.
De longe vislumbramos o brilho de sua existência.
De longe sentimos o perfume de seu corpo úmido.

Dobrem-se! Dobrem-se, pois ela está se aproximando. Eis a Rainha da bondade. Que as palavras para lhe saudar venham depressa às nossas bocas: Ore yeye ô!

Ela é a nascente, a poça d’água, o riacho, o ribeirão, a cachoeira, a pororoca e a foz. Amorosa é a chuva boa. Pepita, é o ouro no seixo. Ela é o espelho d’água e a profundeza. É a água cristalina e também a água barrenta. Lagoa calma, correnteza e tromba d’água. Ela é a senhora do mundo dos encantados, mãe dos espíritos do rio. Conhece as formas e segredos de todas as dimensões.

Ela é Dona da coroa dos raios do sol. Com seu leque, ela se abana graciosamente e espalha graças. Ela balança as pulseiras como uma canção, e elas soam como as águas rápidas. A ri ide gbé o. Omi ro a wàrá-wàrá omi ro. E esse tilintar nos revigora! Xinguinxi! Xinguinxi! Xinguinxi! Ela é o amor que é alegria, que é cura, que é liberdade. Ela é a rainha que me deu um amor ainda jovem e guardou o melhor para a hora certa. Ela é o sublime vivo que se faz próximo, a bondade sem fim, a sedução inteligente, a beleza esperta. Rainha soberana de Osogbo, pensando refletindo em seu espelho, ela é o amor próprio. De vitória certa como o rio que chega ao mar, sua felicidade é sua maior vingança.

Ela é a yabá que ganhou batalhas sem derramar sangue. Dançando, ela pega a coroa. Seu bailar de amor apazigua a guerra, cura a doença, salva seus filhos. Por ela, o vulcão acorda do seio da terra. Só ela apazigua o calor da terra. Ela cegou os inimigos mexendo o dissabor em suas panelas. Ela é a calma, a sabedoria e a estratégia. Ela é a mãe que desgosta quando o filho briga, que tira o filho da armadilha, que bate no chefe que tem a boca podre. Oxum faz os maiores respeitarem os menores e tira o medo do filho para que ele se torne importante. Oxum sabe esconder e vence os inimigos silenciosamente. Quando à mostra, finge não perceber que estão todos olhando.

Oxum é a única. Oxum são 5. São 16. É infinita. Herdeira da Sociedade Eleye, é filha das grandes mães feiticeiras, as Iyami-Ajé. Oxum Abalu é a mais velha. A elegante Oxum Ijumun é a mãe de todas. Oxum Aboto é filha do olho d'água, reina no encontro das águas doces e salgadas. Oxum Apará é a mais jovem e guerreira. Oxum Ajaguna corta o mal com sua espada antes que ele chegue a seus filhos. Yeye Oga. Yeye Petu. Yeye Kare que canta e banha com amor seu príncipe dourado. Yeye Oke. Yeye Onira. Yeye Oloko. Yeye Ponda. Yeye Merin. Yeye Oloke. Yeye Lokun. Yeye Odo. No número 8, Oxum é o infinito de pé, dançando sem pedir licença. A rainha do Ijexá é a gota mais pura, o perfume inesperado, a plenitude alegre, o urubu-caçador. Oxum é aquela que eu sempre soube ser minha mãe. Senhora dos Pássaros, nós somos suas penas. Senhora das águas, nós somos suas escamas. Senhora da vida, que eu possa ser banhado em sua doçura, me abrigando no calor de seu ventre. Senhora mensageira de Olofin, pomba livre, mãe que quero satisfeita, que eu possa estar sempre nos caminhos do amor.

Essência amorosa da vida, são seus o cobre e o ouro, o dendê e o mel. É a gema clara dos ovos e dos anéis. Iyami Eleyé, Oxum reina em mim todas as noites. Mãe que acompanha o filho durante a feitura, vigia os seus constantemente com olhos de coruja. Oxum que canta e nos faz dormir, pega nas minhas mãos enquanto durmo. A grande sábia conversa comigo nos sonhos. De manhã, acordo para dançar nas profundezas da sua riqueza. Oxum faz da vida do filho um constante milagre.

Dona do mistério, do oculto, do culto e da criação, são dela a imaginação e a criatividade. Senhora dos segredos e caminhos dos jogos de divinatórios, Oxum não adivinha, ela sabe. Conhecedora das substâncias e dos fluxos da vida e da natureza, é feiticeira imbatível. Ela tem um pátio interior onde vamos receber suas bênçãos. Oxum me abraçou uma vez e seu cheiro está em mim para sempre. Oxum é o Amor que me olha. Suave e forte, delicada e poderosa, pega pessoas e elefantes. Conhecedora do poder das palavras, ela ensina a falar com cuidado, para ter bom caminho e evitar o mal-entendido incontornável.

Dona da concepção pura e do prazer sem pecado. Ajuda as crianças a terem mães e as mães a terem crianças. Rege os ciclos femininos, os úteros, ovários, as cabaças das mulheres. Vive para sempre na criança que a imitou. Oxum é a gestação infinita. Ela que trouxe as crianças para o mundo em seu ventre, protege os infantes, abaixa as febres. Oxum toma conta do filho durante a distância da família. Oxum cuida da família diante da ausência do filho. Força de onde meus filhos virão, que meus filhos amarão, Oxum é a própria vida que se quer viva, é a reprodução e o fluxo em todo o ser vivo.

Quando sozinha, criou seu povo, o povo de santo, a partir da galinha da Angola. Yalodê, mãe da sociedade, só por ela geramos comunidades. Ela é o que sustenta a casa. A água que banha os povos. Ela é o igarapé, o caminho da canoa. Oxum conserta a cabeça ruim das pessoas, dá frescor e doçura ao caminho e ao pensamento. Oxum é a alegria de estar juntos, é o que nos mantém unidos em harmonia. Por ela sabemos que o Amor é o poder da cura.

Oxum é o rio que passa, que faz o mal passar e que nós passarinho! Agora que você teve a sorte de vislumbrar seu poder e sua beleza, saúde sempre a Senhora da bondade! É uma honra ser seu filho, poder portar o segredo da existência. Seus filhos entregam tudo em sua mão. Farei por Oxum o que não faço por ninguém. E assim posso permanecer no mundo sem temor. Ore yeye ô!

Bernardo Mosqueira e Bruno Balthazar, maio 2019

Alexandre Mazza - Somos sua luz, Luciana Caravello Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ - 29/05/2019 a 29/06/2019

Posted by Patricia Canetti at 12:13 PM