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abril 10, 2019
Cura Bra Cura Té por Ernesto Neto
O Brasil nasce da violência do encontro de um homem europeu com uma mulher indígena.
Em gratidão à nossa mãe indígena, do seu ventre nasce a primeira brasileira ou brasileiro, sua sabedoria está em nós, viva!
Em gratidão à nossa segunda mãe, nossa mãe africana, violentamente retirada de sua terra, sua sabedoria está entre nós, viva!
Somos filhos de três continentes, mas só sabemos de um, só nos ensinam um, só valorizamos um, ficamos capengas, fracos. Envergonhados de nós mesmos, que bobagem, somos lindos. Quem somos nós? A força indígena e a força africana estão dentro de nós, chegou a hora da cura, chegou a hora de ouvir pajés, babalorixás, yalorixás... chegou a hora de ouvir a espiritualidade de nossa terra, de nossas plantas, rios e árvores chegou a hora de ouvir... A cura vem da terra, a terra dança, a terra canta, está em nós, a força europeia também está em nós, mas de tanto olhar as estrelas esqueceram da terra, achavam que o mau vivia na terra, que loucura! Violentaram a terra, e continuam violentando, chegou a hora da cura, chegou a hora de equilibrar, o mundo está doente, o Brasil também, nossa doença é o desencontro de nós com nós mesmos, com nossa história, mal contada, mentirada, o genocídio continua, vivemos uma escravocracia disfarçada, camuflada, dissimulada, agora, acontece de várias formas sutis, camufladas pela mídia, pela cultura, mas arde, machuca, envenena, rouba, mata. Canto, dança e alegria são a cura, a floresta é a cura, é a sabedoria das plantas, da terra, do conhecimento que está escondido em nós, da sabedoria negada por nós, pelo estado colônia que habita em nós. A arte é a temperança, arte cura, poesia, canto e dança, o passarinho, voa, o tatu entra na terra, raízes descem para escuridão, folhas sobem para a luz, água sol água, árvore vida, mamãe vovó, vamos ouvir nossas mães, mãe terra, planta, rio, montanha, vento, água, elas ensinam, os povos da terra podem traduzir, esta sabedoria é nossa maior riqueza, vamos curar nossa tragédia colonial vamos chamar os espíritos da floresta, reflorestar nosso planeta, nosso corpo, nosso espírito, nossa mente, nossa cultura, nada segura a vida, nada segura a arte, o corpo balança, o corpo canta, o corpo quer vida, alimento de qualidade sem veneno, entramos em estado de transformação é o feminino. A força da terra chegando, tá deixando muita gente assustada, com vontade de matar, envenenar, reprimir, culpar, mas não tem jeito é a força da terra, é a nova vida chegando e ela é ancestral, o novo é ancestral, ela está no ar, vamos receber esta energia maravilhosa, indígena, negra, feminina, ancestral, ela é puro amor, força vital da jiboia encantada que nos trouxe até aqui e voltou pra nos curar, que já está transformando o mundo, é a espiritualidade cósmica da terra, marte está em nós, a lua também, todo o infinito, chegou a hora de ouvir o tempo, que está falando com a gente, é o amor, sagrado profano, tudo junto ao mesmo tempo, a vida é uma preciosidade, viver é nossa glória, a alegria está em nós, tudo é gente neste mundo , tudo é humanidade, pedra, luz, canto, chuva, a gente é corpo, corpo é vida, viver cantar curar, cura Bra cura té, cura bra cura té cura bra cura té....
Ernesto Neto - Sopro, Pinacoteca de São Paulo - 31/03/2019 a 15/07/2019