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outubro 3, 2018
Lucimar Bello: Lucimares por Andrés Hernández
LUCIMARES ARES ES
O alerta de uma simulada incompletude momentânea, o inacabado em trânsito, o possível que está por vir, a apropriação hibridizada, o próximo que aconchega e envolve transgressivamente. Assim, as obras da exposição Lucimares, de Lucimar Bello, na Casa Contemporânea em São Paulo, apresentam-se em manifestos estéticos como estágios permanentemente fugazes e processuais. Resultado de uma pesquisa que aponta a delicadeza, simpatia e alegria como necessidades vigentes do mundo, assim como o necessário deslocar-se para participar.
As metáforas diluem-se porque a vivência atemporal é prioridade. E nesse fazer hibridizado, fica evidente (mas questionável) a necessária presença protagônica da artista, patenteada pela própria artista quando pontua Eu sou minha distância. Uma distância que é revisitada e fortalecida, como proposições que andam, que se anulam e reverberam e que se projetam em manifestos visuais de marcada carga estética particular, porque, como diserta Manoel de Barros, As coisas que não existem são mais bonitas, sinal latente no fazer de Lucimar.
O por fazer é o alerta do conjunto de obras da exposição. E não apenas um fazer de responsabilidade da artista; Lucimar divide esta responsabilidade com o espectador, ativando as motivações sensoriais através de todos os agentes artísticos contemporâneos: a obra de arte, a maleabilidade e o agenciamento de retroalimentação permanente nos processos de construção e assimilação das obras de arte. O espaço arquitetônico que se integra, aconchega e/ou dispara sensações e os fluidos gerados pela artista para os interlocutores são ativados por meio da construção de discursos agregadores, a partir de referências literárias direcionadas, como nas Proposições.
São obras que conjuram à sedução sensorial, como amalgamas entre estética e conceito, ratificando indissoluvelmente que estética é, seguindo os preceitos do filósofo Jacques Rancière, “uma configuração específica” do domínio da arte que precisamos aprender a ler. Neste caso, um manifesto em traços de curiosidade e continuidade infinitas.
Eclode, na pesquisa artística de Lucimar, uma permanente concepção autoral, desde a desconstrução de referências que transmutam forças cognitivas e se conjugam em fluídos, até as autorias particulares de similar força conceitual e projeção sensorial ilimitada. Aparecendo assim re-fragmentos completos como matrizes que se projetam em re-estruturas múltiplas, semânticas e nomenclaturas propositivas.
Nas Ações Performáticas episódicas, nos Edifícios de Vestir, A Casa Vestida, Não fui fabricado de pé e Proposições, Lucimar expressa a articulação de operações, a mescla de territórios multidisciplinares – espaciais, pictóricos, literários e, sobretudo, sensoriais – e propõe a diluição de fronteiras elucidativas. Como resultado dessas articulações, surgem manifestos artísticos inéditos, repletos de possíveis referências. Numa primeira proximidade, eles podem parecer díspares, mas ao surgirem rearranjados em outras relações, que vão se saturando e nos impregnando, sugerem e produzem novos sentidos, atingindo sensações e outros abismos, numa leitura sempre fluída, porém, inesperada.
Em algumas obras como as Viagens de Vezes e Viagens por Fazer, e nos títulos que identificam cada uma das obras, Lucimar estrutura diagramas heterotópicos a partir dos metaesquemas arquitetados. Diagramas estes resultantes da junção de talento, suportes e ações planejadas que, como resultado, expandem as peles plurais do território estético, concentrando-as em obras de arte conjugadas plasticamente por meio de técnicas e processos artísticos contemporâneos inovadores.
Andrés I. M. Hernández.
Curador, professor e produtor
São Paulo, Inverno de 2018