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setembro 13, 2018

Fábio Leão: Estado de Exceção por Thais Rivitti

Fábio Leão: Estado de Exceção

THAIS RIVITTI

Os trabalhos que Fábio Leão apresenta na exposição Estado de Exceção mostram uma surpreendente guinada política na sua pesquisa. Para quem já conhece o trabalho de Fábio, sabe que sua curiosidade sempre esteve em explorar o mundo que o cercava. Assim, inicialmente, interessava-se pelos objetos mais próximos, encontrados em seu próprio ateliê: ferramentas e utensílios que manejava cotidianamente. Depois, sua obra avançou para uma investigação ambiental: obras feitas especificamente para determinados espaços e, mais do que isso, a partir deles. Tanto no caso dos primeiros trabalhos quanto no caso das obras site specific, chamava a atenção seu procedimento conciso.

Basicamente, realizava monotipias cujas matrizes eram os próprios objetos ou fragmentos da arquitetura do local. Recusando, de certa forma, qualquer tipo de ilusionismo, ele transportava objetos e ambientes para uma superfície bidimensional. O artista criava, assim, novas versões, planas, daquilo que conhecíamos como tridimensional. Essas “novas versões” das coisas e dos lugares tinham a capacidade de transformar o banal – uma lixeira, um martelo ou ainda a sala de um museu – em imagens estranhas. Levava tempo para decodificá-las porque, de certa forma, estávamos diante de sua sombra. E era por meio dessa sombra, dessa imagem em preto e branco, que voltávamos aos objetos com calma e atenção percebendo sua presença com mais acuidade. Se me demoro um tanto refletindo aqui sobre trabalhos anteriores é porque, ao lado da evidente denúncia que os trabalhos atuais pretendem, eles colocam uma pergunta sobre aquilo que é visível ou, antes, são um convite a ver melhor certas situações. Esses trabalhos novos – que aqui reunidos sob o título de “Estado de exceção”, apresentam-se como uma compilação dos horrores a que cotidianamente estamos expostos – endereçam-se claramente a problemas sociais candentes: as condições de vida dos refugiados e dos habitantes de grandes centros urbanos em países pobres e os desastres ecológicos para ficarmos nos principais.

Em “Às vezes as palavras são fronteiras”, um grande desenho, vemos uma cidade em ruínas, devastada pela guerra. Entremeando o desenho, depoimentos de refugiados que vieram para o Brasil buscando uma vida melhor podem ser lidos, como se fossem também pichações em muros e palavras de protesto e denúncia. Também sobre a questão das fronteiras, o trabalho “Grade Inútil” conjuga um vocabulário urbano – o dos portões com lanças perfurantes – com a impossibilidade de impedir a passagem e conter fluxos migratórios.

Na série das cidades mineiras “Lembranças da Samarco S.A, da Vale e da BHP Billiton”, o tema é o rompimento da barragem de Fundão, que retinha os rejeitos provenientes da extração do ferro na região de Minas Gerais, e que causou um dos maiores desastres ecológicos ocorridos no país, contaminando a bacia do Rio Doce. A tragédia, ocorrida em 2015, foi o estopim para a criação dessa série cujo nome cita as três empresas envolvidas no acidente. Nesses trabalhos, o barro recobre parte da superfície da pintura. Por causa da densidade e aspereza da matéria, o desenho se inscreve com muita dificuldade. As cenas do desastre – casas invadidas pela lama, estradas obstruídas, escombros – travam um embate com o barro para tornarem-se visíveis.

Já na série “Cidades sitiadas” os trabalhos são construídos por uma sobreposição de desenhos feitos com técnicas distintas. Aqui, o embate se dá entre as imagens feitas com tinta spray, um material urbano e industrial, que remetem a uma geometria mais ordenada presente nos projetos urbanísticos, e o caráter orgânico do carvão, que corta esse plano, colocando em cena barreiras, obstáculos, entulho. A vontade de ordenação e racionalidade é invadida por elementos beligerantes.

Todos os dias, somos invadidos por imagens de guerras, conflitos, confrontos, violência e destruição. Elas estão por toda parte: nas ruas, na TV, na internet, nos filmes, no noticiário, na vida. A exposição é tamanha que quase ficamos imunes a elas. Olhamos, mas não vemos. Os trabalhos que Fábio Leão apresenta são um convite para voltarmos a enxergar.

Thais Rivitti
Atua como crítica de arte e curadora. Particularmente interessada na arte contemporânea brasileira, é ex-diretora do espaço de arte independente Ateliê397, onde já realizou inúmeras exposições, cursos, debates e publicações. É formada em jornalismo pela PUC – SP, Filosofia pela USP e mestre em Teoria, História e Crítica de Arte, também pela USP. Editora de livros de artistas: “Beatriz Milhazes: pinturas, colagens” (2008), “Leda Catunda: 1983-2008” (2009), “Carmela Gross, Um corpo de ideias” (2011), “Fernando Zarif ”(2013), entre outros. Entre suas curadorias destacam-se: “Nino cais – Décor”, Galeria Virgílio, 2009, “Mônica Nador: Pintura de exteriores”, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2008; “Espaços Independentes: a alma é o segredo do negócio”, Funarte, 2012, “Rodrigo Braga:Tombo”, Casa França Brasil, Rio de Janeiro, 2015 e “Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos”, na Oca em 2017.

Posted by Patricia Canetti at 12:26 PM