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agosto 6, 2018
Elogios da cor por Ligia Canongia
A quase totalidade dos artistas da exposição Elogios da cor é constituída por pintores. A proposição, no entanto, era a de que pensassem o uso da cor fora dos limites do quadro: dos pincéis, da palheta e do linho. Assim, obras em gravura, fotografia, objetos e dispositivos digitais, foram chamados a elucidar, primordialmente, a distinção da cor como questão de linguagem, como estado de vibração do visível e da anima das imagens.
Da melancolia dos negros à paixão dos vermelhos, pensa-se a cor como indutora ou receptora de estados de espírito e de humor: a cor como sintoma ou invocação daquilo que é “vivo”. Contudo, não se trata somente de colorir um plano ou um objeto – como se fossem elementos passivos e mortos – e dotá-los de animação. O sentido seria, ao invés, enfatizar que a cor constitui, por si mesma, o próprio “aparecer” das coisas e dos humores.
Entre superfície e profundidade, entre pele e carne, ou entre placidez e folia, a cor modula-se e alterna-se, mediante os limites da eficácia expressiva das imagens. O grande colorista, afinal, saberia reconhecer que esse estar-entre seria sempre mais que a passagem de um humor a outro, seria também, e muito, a busca em perseguir a oscilação entre espaços e temporalidades. 'A passagem colorida não sendo senão uma dialética indiscreta, sempre imprevisível, da aparição e do desaparecimento' 1.
Ligia Canongia
1. Didi-Huberman, Georges. La Peinture incarnée. Paris: Les Éditions de Minuit, 1985, p. 25. Tradução nossa.