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abril 2, 2018
Carla Chaim por Jacopo Crivelli Visconti
Trecho retirado do primeiro livro da artista que será lançado na SP-Arte, pela Editora Cobogó
Em sua segunda individual na Galeria Raquel Arnaud, “A Pequena Morte”, Carla Chaim reúne novos trabalhos em papel, vídeo e fotografias. O mote da exposição, que ocupará todos os espaços da galeria, é o luto, a morte e ao mesmo tempo, o êxito do prazer. “Como começar a perceber novamente a pele fina que separa o mundo externo do mundo interno, um limite entre corpos, entre mundos. ‘A pequena morte’ pode tratar de finalizações, términos ou conclusões de experiências e rupturas, mas também ‘a pequena morte’ ou la petite mort na língua francesa, refere-se de maneira mais ampla ao gasto espiritual que ocorre após o orgasmo, ou um curto período de melancolia ou transcendência, como resultado do gasto da força vital", explica Chaim.
Com o intuito de buscar um novo recorte ao pensamento ampliado do desenho, Carla traz desta vez, não o gesto da dobra, mas a soma de diferentes superfícies, numa junção de planos físicos, criando assim terceiros corpos. Dois corpos que passam a coexistir. A artista volta a pensar no mais interno deste corpo, nas sensações físicas internas e individuais recriadas por experiências do mundo. Um mundo de luto, mas um mundo também de transformação e prazer. Reconhecer-se em si, reconhecer-se no ar que respiramos, reconhecer-se no limite da pele, para dentro e para fora dela.
Material simples de papelaria antiga, como letratone, letrasets e livros antigos, é explorado com recortes e colagens. O papel vegetal colorido e o papel milimetrado trazem cores leves para a exposição ao mesmo tempo que o preto denso é colocado ao lado. Os gestos transformadores dos materiais são o rasgo e o corte. Rupturas mais bruscas diante do material e que trazem novas composições através de sobreposições e junções destes materiais, novas paisagens que remetem a hachuras e moirés de gravuras.
Carla mostra também a série “Ele queria ser bandeira”, onde recortes em papel-carbono com a planta do piso térreo da galeria se pendem em varetas de madeira, recriando um corpo mole que se transforma com a gravidade e com a leveza do papel ao encontro do ar. Também como bandeiras, Carla traz desenhos em grande formato de bastão oleoso preto sobre papel japonês. Aqui os desenhos são como portais onde a cor preta do papel traz profundidade para o espaço e fala de um campo de possibilidades. O preto é uma ausência de luz, mas não uma ausência de possibilidades. Ele não anula, é um estado de transição, de mudança. Nas bordas dos papéis grandes, os rabiscos remanescentes da feitura permanecem, fazendo ser percebido um gesto, um corpo ativo.
O corpo como personagem na obra de Carla aparece nas suas fotografias. Assim como os desenhos, as fotografias são como gestos congelados. Na série “Line Pieces”, o corpo da artista está junto à arquitetura, elaborando novos desenhos com linhas pretas. As linhas estão como desenhos pelo espaço, tendo como suporte e fixação a própria artista que se apoia num canto de um espaço neutro. Movimentos mais orgânicos são explorados e contrapõe com as linhas duras presas entre suas mãos, pés, chão e paredes.
Para a exposição, Carla produz um novo vídeo, onde pela primeira vez convida outras pessoas, bailarinos para performar. Através da técnica de contato/improvisação, corpos dos bailarinos se misturam entre suas roupas pretas, criando novos corpos, novos seres, amorfos e transformados pela experiência do movimento e da ação conjunta. O vídeo é para a artista como um passo novo de se relacionar, entendendo a importância do convite e da delegação de seus movimentos para outros personagens. Carla dirige aqui a performance gravada, mas não participa. Assiste aos movimentos, como um cientista observa células se juntarem em seus microscópios.