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março 14, 2018
Marcos Abreu – Muroh por Guilherme Bueno
Marcos Abreu – Muroh
GUILHERME BUENO
Os trabalhos de Marcos Abreu aqui expostos não elegeram a gravura por acaso: lançar mão da repetição e da serialidade como modos de persistir em torno de dilemas que um meio pode lhe colocar; assimilar elementos casuais e residuais do processo, prosseguir testes sobre como uma cor reage a diferentes situações conforme sua espessura ou camadas de impressões são sobrepostas, estabelecem uma singular situação na qual ao mesmo tempo em que cada trabalho se individualiza, eles mutuamente estabelecem uma decidida relação de todo, como se o conjunto também fosse uma obra em si. Limite é uma palavra adequada para indicar a partir de onde ele articula sua poética, a espreitar onde a linguagem deixa uma brecha, podendo daí senão se reinventar, ao menos recomeçar seu jogo. No seu trabalho, alternam-se momentos de levar para a gravura elementos visuais pictóricos e em outros dela ser “radicalmente gráfica”, isto é, explorando o quanto a cor “gráfica” possui qualidades plásticas e espaciais significativamente diferentes daquela da pintura. Numa série de impressões feitas com spray a partir dos vestígios de outros trabalhos, a imagem não deixa de evocar uma familiaridade com os rayographs de Man Ray, levando-nos, por outro lado, a lembrar que a foto também é uma relação de contato e de gravação. Nenhum desses casos é planejado de antemão; eles se agregam na proporção em que os trabalhos criam sequências.
Há uma certa visualidade urbana presente nos conjuntos: o que a princípio pareceriam “cartazes abstratos”, fala também de uma experiência que não se restringe mais a experimentar um objeto individualizado, mas – como nas peças gráficas espalhadas por qualquer cidade – numa percepção que se estrutura na repetição (no seu caso, porém, numa repetição onde não há iguais). A recorrência a elementos como letras, frases soltas são uma espécie de provocação deste elemento comunicativo (a palavra, o texto) que mais do que se tornarem aqui uma forma abstrata, nos lembram do abismo entre a representação visual e a textual. Por fim, ainda nesse quesito, ele nos aponta também para uma percepção no cotidiano na qual é quase impossível haver coisas nas quais texto e imagens se nos apresentem separados.
Marcos Abreu - Muroh, Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ - 22/03/2018 a 27/05/2018