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março 14, 2018
Hilton Berredo no Paço Imperial por Hilton Berredo
Pondo fim a uma ausência de vinte anos desde minha última exposição individual, apresento nesta mostra - Dos anos 80 às obras recentes - meu trabalho recente ambientado no contexto de algumas das obras que guardei comigo.
Certo, minha trajetória estaria mais bem representada com outras tantas obras que se encontram em museus ou coleções particulares. Mas o objetivo aqui é mais modesto, trata-se de mostrar e situar o trabalho atual como a mais recente tentativa de dar forma às questões de arte que me interessam desde os anos 1980. Rodeadas da seleção que aqui reuni, as obras recentes encontram a ambientação ideal para que o espectador julgue por si mesmo.
Fosse uma tese, esta exposição poderia ter apenas duas obras, a pintura sobre tela O Quinto em PB (2018) e a borracha pintada Maré Vermelha (1988). A comparação dessas duas obras ajuda a responder à pergunta recorrente que me fazem: mas porque você parou de trabalhar com a borracha?
Por ambição estética, entre outros motivos menores. Pelo desafio de desenvolver uma linguagem independente dos materiais, pela angustia do abismo que seria colocar a carreira acima da obra e navegar no sucesso fácil da repetição. Creio que esta exposição deve esclarecer a fortuna (ou infortúnio) dessa ambição.
Meu entusiasmo com O Quinto em PB se deve ao efeito de profundidade que se pode comparar com o espaço real das borrachas. É um efeito de tridimensionalidade diferente do espaço recessivo da perspectiva linear, que se estende fugindo para o horizonte. Em O Quinto, o espaço avança sobre o espectador, como se inflado de dentro da tela para fora. Enquanto Maré Vermelha, como um grande alto-relevo, propõe uma visão frontalizada de um espaço com profundidade real e traz para a pintura assuntos da matéria e da gravidade, O Quinto assume a visão frontalizada da pintura, simula uma materialidade sem peso com formas flutuantes, imunes à gravidade, ainda assim criando um espaço robusto e expansivo.
Se assim for, esse espectador entenderá a alegria com que abro uma exposição que aponta para o futuro enquanto apresenta o momento presente como a realização de uma promessa do passado.
Hilton Berredo, fevereiro de 2018.