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março 9, 2018
Coerência formal e discursiva por Manuel Neves
Coerência formal e discursiva
MANUEL NEVES
Surgido na convulsionada década dos 60, Claudio Tozzi é um artista fundamental na cena contemporânea brasileira. Sua obra, como a dos artistas mais importantes de sua geração, articula uma mudança radical no estatuto da imagem artística, tomando e reprogramando os modelos visuais projetados pelos meios de comunicação e a indústria do espetáculo, para produzir uma obra figurativa, chamada genericamente no mundo anglo-saxão de pop art.
Estas obras procuram, em sua estratégia formal, ser um reflexo do contexto social e político, dramático e convulsionado vivido pelo artista em meados dos anos 60, de começo da ditadura militar.
Este momento se traduziu numa perda das liberdades fundamentais, e na consequente violenta política de censura posta em prática em todos os âmbitos da cultura e da educação.
Assim, o jovem artista, reprogramando tanto a imagem dos meios de comunicação, como na estética pop de circulação internacional, produz uma obra de grande impacto visual, que projeta imagens dos protestos políticos e dos problemas sociais, nas séries fundamentais das Multidões e do Bandido da luz vermelha, e as imagens idealizadas dos avanços científicos promovidos pelos países centrais, como a série dos Astronautas.
Na década dos 70 sua obra processa uma reflexão conceitual radical que por um lado tentou mostrar essa realidade social e política, articulando uma estratégia visual com um forte caráter metafórico e também uma sedução estética que pudesse evitar a censura prevalecente na ditadura mas sem perder um discurso crítico e reflexivo desse dramático momento social e político. Nesse sentido, será emblemática a série dos Parafusos, e também a série de obras apresentadas na Bienal de Veneza em 1976.
Posteriormente, durante as décadas dos 80 e 90, o artista realizou uma investigação formal, onde pesquisou as imagens que sintetizavam a cultura brasileira, assim como reformulou o legado da geração de artistas concretos.
Serão importantes nesse momento as representações sobre a urbe de São Paulo, que refletiram as mudanças radicais produzidas em nível urbano na cidade durante esse período, como as obras pensadas para se realizar a nível urbano, em prédios, avenidas ou estações de metrô.
Nas últimas décadas, o artista continua pesquisando o legado concreto, mas refletindo seu impacto a partir da perspectiva do designer, produzindo obras onde não podemos reconhecer os limites entre pintura, objetos e escultura.
A obra produzida por Claudio Tozzi em mais de cinco décadas, que se desenvolve em pintura, escultura e mural, teve igual e complexo desenvolvimento na produção gráfica. Emblema da cultura brasileira reúne mais de noventa obras, produzidas com as mais diferentes técnicas reprodução gráfica, como serigrafia, litografia, gravura em metal e xerox, sendo a exposição mais completa realizada até o momento sobre a produção gráfica do artista.
Este corpus de obras não só demonstra a coerência formal e discursiva desenvolvida por Claudio Tozzi durante mais de cinquenta anos de labor na gráfica. Demonstra também como a edição gráfica foi uma ferramenta fundamental de investigação e experimentação formal e, ao mesmo tempo, uma reflexão política sobre o espaço da arte na sociedade atual e seus mecanismos de distribuição, dentro de uma consciência permanente do artista da importância da popularização da arte, como da ampliação constante de seu público.