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dezembro 9, 2017

Barravento Novo por Bruce Yonemoto e Eder Santos

Barravento Novo

BRUCE YONEMOTO E EDER SANTOS

“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio.”
Heráclito

“Não se entra no mesmo rio duas vezes” é hoje um surrado clichê repetido à exaustão. Para Heráclito, o ato da repetição é algo como uma denominação imprópria, consistindo da volta não do mesmo, mas do diferente – a volta de algo diferente, de outra coisa. Portanto, pareceria de fato não haver volta... Pois duas “coisas” nunca são idênticas ou exatamente iguais. [1]

Esta instalação utiliza diversas estratégias de conceitualização. A obra, para usar a linguagem da Internacional Situacionista, pode ser descrita livremente como um détournement de uma obra anterior.

Uma obra “desviada”, como no détournement, é uma variação de uma obra anterior conhecida do público. A nova obra tem um significado que pode ser antagônico ou antitético em relação ao trabalho original, mas é sempre uma revalorização da obra anterior para que a oposição da nova mensagem possa ser compreendida.

Acreditamos que esta instalação será um détournement do Barravento de Rocha, criando uma revalorização contemporânea e positiva do original. O novo elenco escolhido para o papel de pai e filha desenvolve uma nova interpretação sociopsicanalítica do filme original do Cinema Novo. Devido à idade avançada de Antonio Pitanga, esta documentação será também uma homenagem histórica à sua contribuição para o cinema brasileiro e para a representação dos afro-brasileiros no cinema internacional.

A instalação também trata da evolução da qualidade do cinema de filme analógico a gravação digital. As duas telas criam um diálogo de proporções cinemáticas, expressando também o impacto da gravação digital no desempenho.

A instalação Barravento NOVO repete, mas com uma diferença. Ao debater a materialidade do filme em contraste com a gravação digital e a força que ainda têm os textos de Glauber escritos há mais de meio século, esperamos abrir novos caminhos críticos.

1 Bruce Fink, ‘The Real Cause of Repetition’, in Reading Seminar XI, Feldstein et al, eds. (New York: SUNY Press, 1995), 223.

Posted by Patricia Canetti at 1:25 PM